Política

Juristas, políticos e entidades reagem a nova participação de Bolsonaro em ato antidemocrático

Presidente cumprimentou apoiadores aglomerados em ato pró-intervenção militar e contra Congresso e STF. Ele disse que 'chegamos no limite' e que 'não vai admitir mais interferência'.

Políticos e entidades reagiram neste domingo (3) à participação do presidente Jair Bolsonaro em mais um ato com pautas antidemocráticas e inconstitucionais.

Manifestantes se aglomeraram em frente ao Palácio do Planalto para pedir o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, além de defender uma “intervenção militar com Bolsonaro” e criticar o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Sem máscara, Bolsonaro cumprimentou o grupo e ajudou a estender uma bandeira na rampa do Planalto.

Bolsonaro declarou, em fala transmitida nas redes sociais, que tem “as Forças Armadas ao lado do povo” e que “não vai aceitar mais interferência”. Disse, ainda, que pede a “Deus que não tenhamos problemas nesta semana, porque chegamos no limite”.

O presidente não explicou o que pretende fazer para evitar tais interferências ou qual seria o “limite” citado.

Enquanto Bolsonaro conversava com manifestantes, parte do grupo hostilizou jornalistas e fotógrafos que acompanhavam o ato. A Polícia Militar precisou montar um cordão de isolamento improvisado para evitar as agressões.

Sem máscara, Bolsonaro vai ao Palácio do Planalto para apoiar manifestação

Leia, abaixo, as reações ao ato:

  • Cármen Lúcia, ministra do Supremo Tribunal Federal

“Lamento a informação inicial, que foi aqui trazida, de ter havido agressão a jornalistas num dia tão significativo para a imprensa como no dia de hoje. É inaceitável, é inexplicável que ainda tenhamos cidadãos que não entenderam que o papel de um profissional da imprensa é o papel que garante, a cada um de nós, poder ser livre.

Estamos portanto, quando falamos da liberdade de expressão e de imprensa, especificamente, no campo das liberdades, sem o qual não há respeito às dignidades. Não há dignidade na ausência de liberdade, e não há como se exercer a liberdade sem ser informado sobre aquilo que se passa à nossa volta, que nos diz respeito, que diz respeito a outro.

E este é um papel que a imprensa cumpre superiormente. Cumpre como disse, como é seu dever, mas cumpre para garantir um direito de cada um de nós. Daí a importância de estarmos, hoje, a falar na liberdade de imprensa.

Jornalistas são agredidos, são assassinados, são o tempo todo mutilados nas suas funções, exatamente porque, ao oferecer as informações precisas que são necessárias para a informação de cada cidadão, para a responsabilidade da cidadania, para que cada um de nós possa ter acesso, a partir dessas informações, aos seus direitos e aos seus deveres.

Esse profissionais, para dar cobro a essa exigência da sua profissão, são, de uma forma inexplicável, agredidos. Agredidos às vezes por órgãos estatais, que querem o silêncio. E só quer o silêncio, quem não quer a democracia. Porque quem gosta de ditadura gosta de silêncio, mas a democracia é plural, é barulhenta, traz os ruídos que a pluralidade enseja.”

  • Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

“Os limites que existem são os da Constituição, e valem para todos, inclusive e sobretudo para o presidente. A única paciência que chegou ao fim, legitimamente e com razão, é a paciência da sociedade com um governante que negligencia suas obrigações, incita o caos e a desordem, em meio a uma crise sanitária e econômica.”

  • Fabiano Contarato (Rede-ES), senador

“As Forças Armadas, enquanto instituição de Estado compromissada com a Constituição, precisam fazer um gesto que deixe claro que não compactuam com as bravatas autoritárias do inquilino passageiro do Planalto!”

  • Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador

“A sanha criminosa de Bolsonaro não tem limites! Ele volta a incentivar e a promover aglomerações. Continua atentando contra as instituições e a saúde pública no momento em que as mortes por covid-19 batem recorde no país. Acionaremos a justiça contra essa escalada genocida!”

  • Carlos Sampaio (PSDB-SP), líder do PSDB na Câmara

“No dia em que o Brasil deve ultrapassar 100 mil casos de Covid-19 e 7 mil mortos, é lamentável e decepcionante que o presidente Jair Bolsonaro demonstre, mais uma vez, o seu apoio a movimento que está na contramão das orientações das autoridades de saúde. Além disso, quem verdadeiramente defende a democracia não participa ou aceita manifestações onde a imprensa é agredida e que atacam o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, que são seus pilares. Essas instituições estão fazendo o que a Constituição determina e o que o país espera: o Congresso está debruçado em aprovar medidas importantes para o combate à pandemia e para mitigar os seus efeitos sobre a economia, enquanto o STF cumpre seu papel de garantir a legalidade das ações. A responsabilidade dos Poderes em cumprir suas tarefas é a melhor resposta que deve ser dada neste momento em que a maioria dos brasileiros chora seus mortos e se preocupa com o amanhã.”

  • Deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), deputado

“Muito grave o que acontece nesse domingo, mais uma vez o presidente Bolsonaro agindo de forma irresponsável. Estimula um ato público, gerando aglomerações, em que a pauta desse ato é o fechamento do Congresso, fechamento do Supremo, uma pauta contra a democracia, algo que a Constituição não possibilita.

O presidente estimula, participa, vai num ato e destila ódio contra seus adversários, fala mal dos governadores, prega contra o isolamento no mesmo domingo em que vamos chegar a quase 7 mil brasileiros mortos, a quase 100 mil infectados.

Bolsonaro não consegue fazer uma fala de harmonia, não consegue chamar para o trabalho conjunto. Alimenta ódio, alimenta aglomerações, age contrário a todas as orientações dos profissionais de saúde e contra todas as orientações dos próprios presidentes de outros países.

É o cúmulo da irresponsabilidade, sem dúvida alguma, chegou ao limite máximo do que não pode fazer um presidente da República”.

  • José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria na Câmara

“O Brasil tem um governo que usa a violência como método para banir a liberdade de imprensa, um dos pilares fundamentais do Estado democrático de direito. Nossa solidariedade aos profissionais do ‘Estadão’, ‘Folha’ e O Globo.”

  • Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

“Publicamos hoje uma noticia-manifesto sobre o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Lá citamos o levantamento das agressões do ano e os casos ocorridos dia 1 e 2.

Nossa posição é de condenação a toda e qualquer agressão a jornalistas. Hoje foram dois repórteres fotográficos agredidos em Brasília. Repudiamos todas elas e pedimos o apoio da sociedade ao jornalismo e aos jornalistas.”

  • Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

“Hoje, 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, ironicamente, mais uma vez jornalistas e profissionais de imprensa no Brasil sofreram agressões verbais e físicas por parte de seguidores do presidente Jair Bolsonaro. Em Brasília, manifestantes agrediram com chutes, murros e empurrões profissionais do jornal ‘O Estado de São Paulo’.

O fotógrafo Dida Sampaio registrava imagens do presidente em frente à rampa do Palácio do Planalto, em uma pequena escada na área restrita para a imprensa, quando foi empurrado por manifestantes, que lhe desferiram chutes e murros. O motorista do jornal, Marcos Pereira, levou uma rasteira. Os profissionais deixaram o local escoltados pela PM. Repórteres foram insultados.

Esses atos violentos são mais graves porque não há, de parte do presidente ou de autoridades do governo, qualquer condenação a eles. Pelo contrário, é o próprio presidente e seus ministros que incitam as agressões contra a imprensa e seus profissionais.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) se solidariza com os agredidos e mais uma vez protesta e chama a atenção da sociedade brasileira para a perigosa escalada da agressividade e da violência dos seguidores do presidente Bolsonaro, não só em relação a profissionais de imprensa como a autoridades da República e opositores.

Cid Benjamim, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da ABI”