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A aula não funciona

Arquivo Pessoal

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Quais lições, em relação à aula, ou seja, a arte de ensinar podemos tirar nesta pandemia? A primeira delas é: a aula não funciona. Pode parecer loucura um professor, que sobrevive do salário que recebe ministrando aulas, dizer algo assim.

Mas vejam, todos que prestaram um pouco de atenção no “reboliço” que foi feito por alunos, país, professores e escolas quando se falaram e iniciaram o Ensino Remoto. Que chamem de Educação a Distância! Enfim.

Claro que em meio a isso os analistas em Educação vão logo lançar debate sobre estrutura necessária para EAD, cultura organizacional… Enfim. Entretanto, penso que não é essa a questão e julguem-me a vontade, afinal ainda somos uma democracia.

O maior problema que percebi foi que, quando estes atores educacionais se viram longe do cenário fictício da Escola (como único lugar sagrado do aprender), quando a pandemia descortinou a sombra da caverna sem sentido da aula, quando o nevoeiro do tradicionalismo método de ensinar reinante no país que ofuscava a inteligência espontânea, criativa e significativa, sumiram, aí sim, perceberam o quanto frágil, se sentido e ineficiente é aula nos dias atuais.

A rotina da liberdade dos filhos, de irem à escola todos os dias, livres da vigilância dos pais; a rotina dos pais, de se sentirem livres, descansados e desobrigados de educar seus filhos, foi escancarada pelo confinamento de forma tão abrupta que só assim, tanto aluno quanto pais, começaram, ainda que inconscientemente a questionar o ensino a distância, ou melhor, o ensino, a aula.

Pergunte a qualquer adulto com escolaridade superior, exceto os matemáticos, quem sabe calcular a área de um Triângulo Retângulo Isósceles? Ou quem sabe identificar uma Oração Subordinada Substantiva Adjetiva Direta em um texto? Ou ainda quem sabe explicar as Revoluções de 1848? Quem sabe explicar a revolta praieira no Brasil? Arrisco a dizer, quase ninguém.

E o porquê isso acontece? Eu vos digo: não houve significado para quem estudou, não teve relação com sua vida prática quando ouviram aquelas aulas de matemática, português e história. É preciso mudar a AULA. Se nesse momento não fizermos a verdadeira revolução na Educação, se não dissiparmos as amarras da Aula, ou seja, dos conteúdos sem nexos das “grades” curriculares, das “disciplinas” científicas, dos números do IDEB, não teremos aprendido nada com a pandemia.

O capitalismo educacional tenta ferozmente manter vivas suas estruturas obsoletas, corroídas a tempo pelos novos alunos, pelos jovens digitais que são audaciosos no aprender. Jovens estes que já não encontravam sentido e significado em ouvir a aula na escola, na sala, sobre a “grande” Revolução Francesa, a “incrível” física de Newton ou ainda nunca aprenderam as inúteis regras do uso “correto” da Crase.

E o que faz alguém pensar que estes mesmos alunos se sentirão enormemente atraídos por essa mesma aula sendo agora, reproduzida no celular ou no computador? Fico imaginando aquele meu aluno que dorme na aula sobre Grécia Antiga, o que ele fará com o celular na mão deitado ou esparramado no sofá de sua casa? Que belo sono!

Enquanto não entendermos a lição do velho pedagogo de que: “ninguém ensina a ninguém”, só se aprende quando se encontra significado pra vida.

Portanto a função da Escola e da Educação, do professor é orientar, guiar, oferecer os ”meios” para que o aluno chegue aos seus “fins” que façam sentido pra vida dele: seja estudar pra melhorar sua vida no sítio, na cidade, se tornar médico, ser professor ou ainda aprender algo apenas por curiosidade. Mas a curiosidade dele e não a do professor.

Enfim, aprender não é só ter vontade. É preciso ter: vontade, razão, significado, meios, estrutura necessária, comida adequada, moradia digna, pessoas que inspirem, o aconchego da família e etc. Se isso não acontecer, não teremos aprendido nada com a pandemia e aula continuará sem funcionar.

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