Coronavírus

Pastor sugere ‘gargarejo’ para que fiéis não peguem coronavírus

Infectologista Evaldo Stanislau que declarou que o vídeo é um "desserviço" e não há comprovação sobre as falas citadas.

Pastor alega que mistura ajuda no combate ao coronavírus em vídeo publicado — Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Um pastor de Praia Grande, no litoral de São Paulo, viralizou ao gravar um vídeo mostrando uma receita para os fiéis ‘não pegarem coronavírus’ utilizando apenas três ingredientes. A mistura para gargarejo teve grande repercussão nas redes sociais, mas gerou polêmica por trazer informações consideradas falsas por especialistas. O G1 ouviu, nesta sexta-feira (7), o infectologista Evaldo Stanislau, que declarou que o vídeo é um “desserviço” e que não há comprovação sobre as falas citadas.

O G1 teve acesso ao conteúdo do vídeo nesta sexta-feira, apesar da publicação original ter sido apagada pelo pastor nesta quinta-feira (7). Waldeir de Oliveira, pastor que atua em Praia Grande, diz que o irmão que mora nos Estados Unidos e recebeu a receita de um judeu. Após isso, ele começou a usar a técnica diariamente. Ele orienta os seguidores a misturarem bicarbonato de sódio com limão e água morna.

Ao longo do vídeo, ele não cita que a receita pode ser uma cura, mas alega que o gargarejo ajuda a evitar que o vírus continue no organismo, explicando que ele fica “quatro dias alojado na garganta”. O pastor não utiliza nenhuma pesquisa cientifica para embasar a afirmação.

“Você vai fazer gargarejo antes de dormir todos os dias, e você não vai pegar o coronavírus, porque ele fica quatro dias alojado na garganta. Faz até acabar a água. Depois você me diga como é o resultado”, declara o pastor na publicação.
Além de citar a rotina que começou a fazer desde os primeiros casos confirmados do novo coronavírus, ele alega que em Israel a situação é diferente, e que o país é um dos menos afetados pela pandemia. Apesar da fala do pastor, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Israel tem mais de 16 mil casos de coronavírus e registra mais de 200 mortes.

De acordo com o médico infectologista Evaldo Stanislau, não há nenhuma pesquisa que comprove as afirmações do pastor. “É lamentável, com tanta informação já veiculada, inclusive essa fake news (notícia falsa) já desmentida em rede nacional, que uma pessoa que deveria ter responsabilidade divulgue algo assim”, declara o infectologista.

Stanislau ainda explica que medidas como essas são um desserviço para a população. Questionado sobre pesquisas que falem sobre o assunto, o médico informa que não há nada que reitere ou confirme a afirmação feita no vídeo, e ainda orienta pessoas que vejam algo similar na internet. “Tem que denunciar à rede social para tirar do ar e bloquear [a postagem]”, completa o especialista.

A reportagem também procurou o advogado criminalista Paulo de Jesus para explicar se o vídeo sem embasamento configura crime de charlatanismo. O especialista explica que, apesar da fala ser feita sem base cientifica, já que nem a comunidade médica tem um consenso sobre o vírus, o vídeo não entra na prática. “Ele não faz menção ou desencoraja o uso da máscara ou do álcool em gel e não fala que a pessoa deve deixar de usá-lo. Não vejo como um caso que seria levado à área penal” explica.

O advogado reitera que, para entrar como charlatanismo, é necessário anunciar cura por meio secreto ou infalível. “O fato de anunciar por vídeo que algumas pessoas fazem isso não configura o crime. Ainda mais nessas circunstâncias que você falou, sobre não recomendar o descumprimento das medidas em detrimento do uso da água com limão”, completa o especialista.

Pastor
A reportagem procurou o pastor Waldeir de Oliveira, que ministra na igreja Assembleia de Deus Ministério da Missão, que fica no bairro Samambaia, em Praia Grande. O pastor atendeu a ligação e afirmou que excluiu o vídeo após ser aconselhado, e que apenas deu uma dica com a publicação. “Meu irmão mora nos Estados Unidos há 40 anos. Eu expliquei bem no vídeo, ela não é para curar coronavírus, é para limpar a garganta” alegou.

Waldeir alega ainda que fez o vídeo para mostrar uma forma de aumentar a imunidade. Questionado sobre a frase em que afirma que a pessoa não vai pegar o coronavírus, ele ressalta que disse apenas como conselho. “Só era para ter higiene bucal e não efeito de remédio”, finaliza o pastor.

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