Coronavírus

IC encontra características de etanol combustível em composto de álcool gel apreendido

O consumidor deve ter cuidado na escolha e compra de produtos dessa natureza

Thalmanny Fernandes Goulart, chefe do Laboratório de química do Instituto de Criminalística de Alagoas

Sabe-se que as principais formas de transmissão da COVID-19 são pelo contato próximo com pessoas infectadas pelo vírus e pelo contato com superfícies ou objetos que estejam contaminados. Portanto, dentre as medidas para o enfrentamento do avanço do novo coronavírus em Alagoas, o distanciamento social, a etiqueta respiratória e medidas rígidas de higiene pessoal devem ser seguidos com todo o rigor.

 

Nos cuidados de higiene pessoal, lavar com frequência as mãos até a altura dos punhos, com água e sabão é uma medida importantíssima. Na impossibilidade de se lavar as mãos, deve-se utilizar o álcool em gel ou líquido a 70%. Mas, o consumidor deve ter cuidado na escolha e compra de produtos dessa natureza, pois para ter eficácia, esse tipo de álcool deve ter a concentração de 70% e deve ser aprovado para uso humano.

 

O alerta foi feito pelo perito criminal Thalmanny Fernandes Goulart, chefe do Laboratório de Química do Instituto de Criminalística de Alagoas, após análise de quatro amostras apreendidas pela polícia civil. Esse material foi analisado para constituir prova técnica em inquéritos policiais que apuram adulteração, e ou falsificação no processo de produção clandestina ou oficial de álcool em gel.

 

Em outro inquérito policial registrado em Arapiraca, o perito criminal Ken Ichi Namba também encontrou irregularidades no álcool em gel 70% examinado. Outra amostra apreendida desta vez em Igaci também está sendo analisada para instruir inquérito policial para apurar possível crime de falsificação, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.

 

De acordo com os peritos criminais, alguns desses produtos estavam sendo vendidos em estabelecimentos regulares, a exemplo de farmácias e outros foram apreendidos nas instalações industriais onde esses produtos estavam sendo fabricados. Durante o exame em laboratório foram encontradas várias irregularidades, desde a embalagem, até a composição química do produto.

 

“Em uma das amostras de álcool gel analisadas a pedido do 1º Distrito Policial de Maceió, o rótulo do produto indicava que ele estava registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como água sanitária.” Afirmou o Perito Criminal Thalmanny.

 

“No produto que analisei, o rótulo indicava uma empresa fictícia, sem CNPJ e sem registro na ANVISA. O exame realizado no laboratório apontou teores alcoólicos abaixo da concentração de 70%. Isso também é muito grave, pois para ter eficácia como desinfetante, o álcool gel deve ter a concentração de 70%,” explicou pelo perito criminal Ken Ichi.

 

Nas análises das amostras os peritos encontraram vários hidrocarbonetos comumente encontrados na gasolina, dentre eles as substâncias químicas xileno, tolueno e benzeno. A ANVISA proíbe expressamente o uso de benzeno em produtos de uso humano e em produtos de limpeza.

 

A presença de hidrocarbonetos da gasolina indica que foi utilizado álcool combustível na fabricação das amostras periciadas. A ANVISA exige que as matérias primas utilizadas em produtos de uso humano devem ser analisadas e aprovadas para uso humano.

 

Nos laudos periciais, os peritos explicam que de acordo com a resolução nº 19/2015 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) o álcool combustível pode apresentar até 3% de hidrocarbonetos. Mas, como não há a exigência do transporte e o armazenamento do álcool combustível ser transportado em tanques exclusivos, pode ocorrer a mistura de resíduos de gasolina no álcool combustível.

 

Thalmanny Goulart ainda destacou que as substâncias químicas componentes gasolina encontradas nas amostras de álcool em gel podem ocasionar efeitos tóxicos. Em contato com a pele pode provocar desde ressecamento exagerado, irritabilidade da pele e mucosa, dermatite de contato, até o risco de morte por depressão do Sistema Nervoso Central (SNC).

 

“O benzeno é facilmente absorvido pela pele íntegra e é comprovadamente cancerígeno, pode também ocasionar efeitos graves no sistema imunológico, diminuindo a produção de glóbulos brancos, o que pode até desencadear leucemia mielóide aguda (câncer no sangue) e diminuir as defesas imunológicas do corpo humano, sendo extremamente prejudicial, principalmente considerando a atual pandemia de COVID-19 (novo coronavírus)”, esclareceu o chefe do laboratório.

 

Os peritos alertam que ao escolher o álcool em gel a 70% ou o álcool etílico (líquido) 70% é necessário ler o rótulo para se certificar se é 70%, e verificar a procedência. Caso desconfie que seja falsificado, a orientação é não comprar, e denunciar o estabelecimento para que o material seja apreendido e analisado.

 

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