Economia

Três em cada quatro restaurantes no Brasil já demitiram por conta da crise

Tomaz Silva / Agência Brasil

Tomaz Silva / Agência Brasil

As medidas de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus afetam sobretudo os negócios que envolvem o consumo fora do lar. O setor de restaurantes, que empregava até o início de março cerca de 6 milhões de funcionários diretos, entre formais e informais no Brasil, é um dos que mais tem sentido a crise. De acordo com uma pesquisa da Associação Nacional de Restaurantes (ANR), obtida em primeira mão pelo CNN Business, três em cada quatro restaurantes (77%) realizaram demissões desde o início da pandemia, em março.

A associação estima que cerca de 1 milhão de trabalhadores do setor já perderam o emprego desde o início da crise. A pesquisa foi realizada entre 10 e 14 de maio, com cerca de 60% dos associados da ANR, que representa mais de 9 mil pontos comerciais do país, entre redes, franquias e restaurantes independentes.

Um exemplo é a rede paulista Frango Assado, fundada em 1952, possui 25 restaurantes em mais de 20 cidades.  A maioria de suas unidades são localizadas em postos de combustíveis em rodovias e seguem abertos, mas com adaptações.

“Removemos metade das mesas para dar maior espaçamento entre os clientes, retiramos o buffet e passamos a oferecer refeições em embalagens para levar. Além do uso de máscaras e luvas, e medição da temperatura dos funcionários ao longo do dia”, diz Newton Maia, presidente da IMC, companhia de capital aberto que detém as marcas Frango Assado, KFC e Pizza Hut.

Mesmo assim, a rede demitiu 30% dos funcionários porque o faturamento caiu tanto quanto o fluxo de clientes e das rodovias. “Com o compromisso de recontratá-los com prioridade quando as coisas melhorarem”, afirma Maia.

O setor de restaurantes tem cerca de 1 milhão de empresas no país que, em conjunto, faturaram 400 bilhões de reais em 2019. Mas depois da crise, segundo a pesquisa da ANR, 21% dos empresários afirmam que não devem conseguir manter seus restaurantes abertos. Isso porque a maioria não tem capital de giro suficiente para continuar pagando as contas sem faturamento.

“São mais de 70 dias que estamos fechados, seguindo os protocolos do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde, e já temos nossos protocolos para reabertura. Mas 85% dos restaurantes tiveram seus pedidos de empréstimo recusados por instituições financeiras, e sem crédito o número de demissões deve crescer bastante”, diz Cristiano Melles, presidente da ANR. A pesquisa apontou que 32% das empresas entrevistadas com mais de uma loja já fecharam algumas unidades em definitivo.

A Associação Nacional dos Restaurantes defende a extensão dos prazos da MP 936, que permite suspensão de contratos com carteira assinada, e a redução de jornada e de salários, de 60 para 120 dias. Entre os entrevistados da pesquisa, 78% responderam que fizeram uso da medida provisória para conseguir pagar a folha de pagamento de abril.

“Não vai ser só com o delivery que os restaurantes vão conseguir sobreviver”, conclui Melles. Apenas com delivery, 40% dos entrevistados não chegam a faturar nem 10% da receita de antes da crise. Somente 15% conseguem chegar a mais da metade da receita que tinham antes da crise.