Levantamento fez 25.025 entrevistas em 133 municípios. Entre as conclusões está que 1,4% da população tem anticorpos para a doença.
O Brasil tem sete vezes mais casos de coronavírus do que apontam as estatísticas oficiais, mostra a primeira etapa nacional de uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O levantamento foi realizado durante uma semana, entre 14 e 21 de maio, para testar a presença da doença na população.
Isso quer dizer que em um grupo de sete pessoas com o coronavírus, apenas uma sabe que está infectada.
Das 15 cidades com maior prevalência de acordo com o levantamento, 11 estão na região Norte.
No Nordeste, Fortaleza e Recife têm os maiores índices de infectados.
Em São Paulo, 3% foram infectados. No Rio de Janeiro, 2%. Na região Sul, apenas Florianópolis apresentou prevalência superior a 0,5%.
Na região Centro-Oeste, a pesquisa não encontrou caso positivo nas 9 cidades estudadas, apesar de já existir casos e mortes confirmados.
Das cidades visitadas, 21 eram capitais. Os domicílios e as pessoas testadas foram escolhidos por sorteio. Os pesquisadores também analisaram a proporção da população que se contaminou em cada região do país.
Como é feita a pesquisa
O levantamento já teve três etapas concluídas no Rio Grande do Sul. Pesquisadores do Ibope, participantes do projeto, com equipamentos de proteção individual, foram a campo e fizeram 25.025 entrevistas. Aplicaram também testes rápidos para o coronavírus em 133 municípios de todos os estados do país, incluindo o Distrito Federal.
Em 90 cidades, conseguiram testar pelo menos 200 pessoas. Essa amostragem representa pouco mais de um quarto da população brasileira, com 54 milhões de habitantes.
A pesquisa mostra ainda que nas 90 cidades, a proporção de pessoas com anticorpos foi estimada em 1,4%, podendo variar de 1,3% a 1,6% pela margem de erro da pesquisa.
A partir dos resultados dos testes, os pesquisadores calculam que um total de 760 mil brasileiros nestas áreas foram infectados. Na véspera da pesquisa, os números oficiais apontavam, nestas 90 cidades, 104.792 casos confirmados do coronavírus, e 7,6 mil mortes.
Para o coordenador da pesquisa e reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, o número é “preocupante”. “Essas outras pessoas que têm o coronavírus e não sabem involuntariametne podem transmitir para outras pessoas. E isso faz com que a epidemia continue crescendo nesse ritmo preocupante que tem ocorrido no Brasil”, disse.
Em Taquari, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Mariele Rosa estava com o vírus e só descobriu depois que um colega de trabalho se contaminou e a empresa dedidiu testar todos os funcionários. A monitora de qualidade ficou em quarentena e se afastou dos dois filhos. Mariele já está recuperada.
“Eu não sentia nada, se não fosse o teste, eu não saberia que eu tava com Covid-19. Foram 14 dias sem sintomas, mas sempre com aquele medo de ter alguma coisa. Tem pessoas assintomáticas por aí que podem estar passando o vírus sem saber”, disse.
“A gente pode dizer, com a maior tranquilidade, com base na nossa pesquisa que a contagem de casos de coronavírus não deve ser feito em milhares, ela já deve ser feita certamente em milhões”, diz.
O reitor ainda reforça as recomendações de isolamento social, devido às taxas crescentes da doença.
“Enquanto as curvas no Brasil não estiverem na descedente ou enquanto a taxa de transmissão brasileira for recordista mundial, nossa recomendação dos cientistas para a população é ficar em casa o máximo possível não há nenhuma recomendação científica que justifique a flexibilização das medidas de distanciamento social nesse momento “, afirma.