Futebol

Ex-atacante português elogia trabalho de Jorge Jesus no Flamengo: “Brasil inteiro rendido aos pés dele”

Reuters

Reuters

Nesta segunda-feira (1° de junho), o anúncio de que Jorge Jesus era o novo treinador do Flamengo completa um ano. Em entrevista exclusiva ao FOXSports.com.br, o ex-centroavante Hugo Almeida elogiou o trabalho de seu compatriota no clube carioca e falou sobre como ele revolucionou o futebol brasileiro.

“É um português que foi para o Brasil, quando era complicado ir para aí treinadores e jogadores. E Jorge Jesus foi revolucionar o futebol brasileiro, como já estávamos acostumados aqui em Portugal. Tanto no Benfica, como no Sporting”, disse o ex-atacante.

“No Benfica, foi várias vezes campeão. As equipes sempre jogaram bom futebol, sempre tiveram pressão alta. E ele implementou isso no futebol brasileiro e colheu os frutos que plantou. Agora, está o Brasil inteiro rendido aos pés dele”, completou.

Em um ano, Jorge Jesus comandou o Rubro-Negro em 51 partidas, vencendo 38, com nove empates e quatro derrotas. Foi campeão da Conmebol Libertadores e do Campeonato Brasileiro em 2019, da Supercopa do Brasil, da Recopa Sul-Americana e da Taça Guanabara em 2020.

VEJA AS ENTREVISTAS COMPLETAS ABAIXO:

– Como você vê a volta do Campeonato Português? Crê que a Primeira Liga está preparada para retornar com segurança?

“Eu penso que sim, será muito complicado com os estádios sem torcedores, sem ninguém vendo o jogo, com algumas regras que os jogadores não estão acostumados. Mas creio que os jogadores têm tudo ao seu alcance. Médicos, enfermeiros. Não é por isso que o futebol não irá começar”

– Dentro dos protocolos, muito tem se falado sobre os jogadores não poderem comemorar os gols como estão acostumados. Você, como ex-atacante, vê tais medidas?

“É complicado. A Bundesliga, nos primeiros jogos que vi, os jogadores não festejaram abraçados, mas nas rodadas seguintes já o fizeram. Eu acho que é uma regra que não faz muito sentido. Todos os jogadores estão medicados, fizeram os exames de covid-19 sem problemas. Então, acho que tem umas pequenas regras que só quem está em campo percebe que são impossíveis de se cumprir”

– Na Bundesliga, você teve uma passagem de muito sucesso pelo Werder Bremen, com destaque para a temporada 2008/09. O que você guarda desse ano?

“Só as melhores. São muito boas. Tínhamos uma grande equipe, com grandes jogadores. Era uma equipe muito competitiva e difícil de se bater. E guardo com grande carinho esses anos que passei na Alemanha. Porque foram os melhores anos que eu, como jogador, vivi”

– Nesse time, você atuou com colegas brasileiros, como Diego Ribas e Naldo. Como era sua relação com eles? Vocês ainda mantêm contato?

“Com o Diego perdi o contato, mas com Naldo, sim. Às vezes, nos falamos nas redes sociais, no Instagram. Perguntamos se as famílias estão bem, os filhos, desejar, às vezes, parabéns aos filhos, ou algo que seja. Ainda mantenho contato com ele. Mas também joguei com outros jogadores, como Carlos Alberto, grandes craques”

– O Werder, hoje, passa por uma fase muito complicada, lutando contra o rebaixamento. Você tem acompanhado o time? Crê na fuga contra o descenso?

“Tenho acompanhado. Eu penso que a parte da diretoria e a parte da construção do clube parece que estagnou um bocado. Já não é mais aquela equipe competitiva, que disputa para ganhar algo. É uma equipe que tem tido muitas posições baixas ao longo desses anos. Não no ano passado, mas no anterior, já brigou para se salvar do rebaixamento, também. Eu acho que eles estagnaram um pouco, ou não tem o dinheiro que tinham, antigamente, para boas contratações. As coisas, às vezes, acontecem assim”

– Você está se preparando para se tornar treinador. Se o clube te oferecesse o cargo você aceitaria treinar o Werder Bremen?

“Claro, não posso dizer que não. Primeiro, porque fui muito bem recebido, porque foi basicamente ali que eu me apresentei como um jogador, as pessoas começaram a conhecer meu nome. Foram quatro anos e meio fantásticos. A vida de treinador é muito complicada. Está sempre com as malas na mão, pode, a qualquer momento, ir embora. O treinador precisa ter sorte na equipe que tem. Às vezes, o treinador é bom, mas a equipe não anda. Não tem como as coisas correrem bem”

– Você foi campeão português e fez parte da primeira metade da temporada que o clube se sagrou campeão europeu com o Porto. Você considera a equipe como a mais forte do país, neste momento? Qual o “segredo” para o sucesso na Primeira Liga?

“Se está mais forte, agora, não sei. Vamos ver como os jogadores vão voltar com as suas equipes. Foram basicamente dois, quase três meses sem competição, tiveram pouco tempo para preparar essa nova vida, esse novo campeonato. O Porto tem que estar muito bem psicologicamente, fisicamente e mentalmente. Jogará com portões fechados, somente a um ponto de diferença do Benfica. É complicado, é uma posição boa, mas não há margem para erro, para deslizes. Espero que o Porto seja campeão, mas o Benfica também possui uma grande equipe e está muito focado para tentar ganhar o campeonato”

– Além dos brasileiros no Werder Bremen, você também atuou com muitos no Porto. Qual seria o colega que você mais destacaria como companheiro de equipe?

“No Porto, eu era bastante jovem, por isso atuei com grandes jogadores como Deco, o Derlei era um dos grandes jogadores. Mas, sem dúvida, Naldo e Deco foram os dois que me marcaram bastante. Sem dúvidas, o Carlos Alberto, também, apesar de ser muito louco, mas tinha qualidades fora do normal, para ser um dos melhores do mundo. O Diego, em termos do que ele deu, do que mostrou, ele e o Naldo foram, sem dúvidas (os melhores). Na minha época, do Porto, o Deco foi o melhor, mas com ele eu só compartilhei treinos e alguns jogos. Com Diego e Naldo, não, tive o prazer de treinar e jogar ao lado deles. Pepe, também, mas não são brasileiros, são portugueses. Então, o Diego e o Naldo”

– Felipão foi o primeiro treinador a te dar chances na seleção de Portugal. Como era sua relação com ele no vestiário da equipe?

“Ele era um bom treinador, que sabia lidar com o grupo, levar bem aos jogadores o que pensava. Transmitia e os jogadores aceitaram muito bem suas decisões. Foi um treinador importante, também, para mim. Apesar de ter sido usado, quase, tempo nenhum, mas ficou marcado, porque foi com ele que fui pela primeira vez e estreei pela seleção principal. Ficará guardado, para sempre, no meu coração, como um dos nomes que acreditou no meu potencial”

– Quais são os técnicos, que você trabalhou ou não, que mais te inspiram em seus futuros trabalhos como técnico de futebol?

“Eu gosto bastante do Mourinho, porque foi uma pessoa, também, com quem eu trabalhei, que acreditou mais em mim, que, ainda júnior, foi me buscar para a equipe principal do Porto. Gosto das ideias dele. Depois, nunca convivi com Jorge Jesus, mas, pelo que dizem, é uma pessoa fantástica para trabalhar e dá resultados, é bonito ver suas equipes jogar. Em termos de nível internacional, gosto muito do Klopp, do Guardiola, do Thomas Schaaf, que foi uma pessoa muito importante, para mim, também. Mas, a nível internacional, Klopp e Guardiola são duas referências que muita gente tenta imitar, mas não é nada fácil. Algumas coisas, na cabeça deles, só eles veem, penso que vai muito por aí. Um treinador, por muito que vá atrás, por muito que goste, que está estudando, é de si que tem que partir, são as suas ideias, tem que acreditar nisso”

– Você aceitaria trabalhar, também, no Brasil? Que clubes você gostaria de treinar por aqui?

“É complicado, o Brasil tem muitos bons jogadores, muitos bons clubes. O professor Jesualdo, também, é um grande treinador, acho que, no Santos, costuma ser difícil. Jesus também teve essa dificuldade quando chegou. Os jogadores brasileiros também têm dificuldades quando vêm para a Europa, não se adaptam imediatamente. Em termos de equipes, não sei. Uma das equipes que gosto muito é o Flamengo, o Corinthians, também, não sei o porquê, mas gosto. Não digo que não, neste momento. Estou em fase de construção da minha carreira. Se não for treinador, também poderia virar diretor esportivo. São dois cargos que sempre gostei muito. Mas ainda tenho um longo caminho para percorrer, me sinto preparado para assumir um bom projeto. Mas o futuro a Deus pertence”

– Hoje, na própria Europa, muitos treinadores portugueses vêm tendo muito sucesso, como Nuno Espírito Santo, por exemplo. Você acha que esse é o melhor momento para esse mercado se expandir?

“Tanto treinador, como jogador. Somos um país muito pequeno, mas, em termos de futebol, exportamos muitos produtos de muita qualidade. Treinadores temos vários nomes dissonantes, importantes, que conquistaram muitos títulos importantes continente afora. Mourinho, Jesus, Nuno Espírito Santo fazendo um grande trabalho, Marco Silva fez bom trabalho no Everton, André Villas Boas, Luís Castro fazendo um grande trabalho no Shakhtar, Paulo Fonseca na Roma. E temos vários jogadores que nem é preciso dizer, temos o melhor do mundo que é o Cristiano Ronaldo, Quaresma. Felizmente, somos um país pequeno, mas que exporta um grande produto para todo o mundo”.