Relatório Índice Global da Paz vê deterioração da paz no mundo, sobretudo na América do Sul.
O mundo ficou menos pacífico neste ano, aponta o relatório Índice Global da Paz 2020 divulgado nesta quarta-feira (10). A situação é ainda pior no Brasil, que caiu 10 posições e agora aparece na 126ª colocação no ranking que mede a paz em 163 países.
De acordo com o relatório, o mundo manteve a tendência de aumento nas tensões causadas por crises políticas e econômicas em quase todos os continentes. Além disso, há a preocupação de que a situação da paz no mundo se deteriore ainda mais no próximo ano devido aos efeitos da pandemia do novo coronavírus (leia mais sobre o assunto no fim da reportagem).
Para chegar ao índice, o Instituto de Economia e Paz (IEP) compila uma série de indicadores relacionados à sensação de paz, que vão desde a criminalidade urbana ao grau de estabilidade política. Os pesquisadores também levam em conta a situação econômica de cada país e os mecanismos de combate à corrupção, entre outros fatores.
Para cada país, o instituto atribui um valor numérico com base nesses indicadores. Quanto menor e mais perto de 1, melhor a situação do país em relação à paz. No Brasil, esse índice em 2020 foi calculado em 2,413 — o Afeganistão, último colocado, tem 3,644, enquanto a Islândia, em primeiro, tem 1,078.
Veja abaixo os 5 países com a melhor situação de paz em 2020
Islândia
Nova Zelândia
Portugal
Áustria
Dinamarca
… e os 5 países com a pior situação segundo o Índice Global de Paz de 2020
Afeganistão
Síria
Iraque
Sudão do Sul
Iêmen
Situação é pior no Brasil e na América do Sul
O Brasil manteve a tendência de queda que já vinha sendo observada em 2019. Naquele ano, o instituto verificou os seguintes problemas:
Retomada de conflitos relacionados ao crime organizado e ao tráfico de drogas
Agravamento da polarização política
Aumento nos ataques a figuras políticas
Grande custo da violência à economia do país
Com a piora no índice, o Brasil passa a figurar o grupo de países com a situação da paz em “estado baixo” — no relatório de 2019, o índice brasileiro era considerado “médio”.
Em entrevista ao G1, o diretor para a Europa do IEP, Serge Stroobants, avaliou que o Brasil — tanto o governo como sociedade civil — deve garantir o cumprimento de padrões que sustentam a sensação de paz no país, a chamada “paz positiva”.
“É preciso melhorar ambiente de negócios, garantir o fluxo livre de informações, sustentar boas relações com os vizinhos — vale lembrar que o Brasil é líder na América do Sul — e investir na educação e no combate à corrupção”, apontou Stroobants.
Manifestantes queimam pneus em uma barricada enquanto protestam para solicitar alimentos do governo durante quarentena geral em meio à disseminação da doença por coronavírus (Covid-19) no bairro ‘Puente Alto’ em Santiago, no Chile — Foto: Ivan Alvarado/Reuters
Ainda segundo o relatório, o Brasil segue uma tendência de deterioração da paz observada em outros países da América do Sul — região com maior queda por causa das crises políticas em 2019:
Violência nos protestos do Chile, que deixaram ao menos 25 mortos desde outubro;
Distúrbios no Equador após o governo retirar subsídios a combustíveis;
Continuidade da repressão a opositores do regime chavista na Venezuela.
Pandemia deve agravar cenário
O relatório do IEP traz uma preocupação com os efeitos da pandemia de Covid-19 na paz mundial. Segundo o estudo, o novo coronavírus trouxe as seguintes consequências para a piora dos índices:
Maior tensão política entre Estados Unidos e China.
Descrença em lideranças e instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), questionada na pandemia.
Impactos da profunda crise econômica, que deve atingir tanto a cadeia de produção de alimentos quanto a capacidade dos países em desenvolvimento em se recuperar da recessão.
Aumento na instabilidade política já observada em anos anteriores.
Crises na segurança pública e na população carcerária — o relatório cita Brasil, Venezuela e Itália como exemplos de países com rebeliões em presídios na pandemia.
Na opinião de Serge Stroobants, diretor do IEP, países com boas estruturas capazes de garantir a paz vão sair melhor da pandemia. Ele cita Suíça, Estônia e Austrália como exemplos de estados com maior resiliência por terem adotado políticas de segurança social e econômica muito antes de o novo coronavírus começar a se espalhar entre humanos.
“O impacto econômico da Covid-19 reforça as tensões fundamentais da década passada: polarização, desemprego e falta de apoio aos líderes políticos”, comenta Serge Stroobants, diretor do IEP.
Por isso, na outra ponta, aqueles países que deixaram de adotar políticas necessárias no campo da política, da economia e na saúde vão sofrer mais no pós-pandemia.
“Eu diria que é tarde demais para esses países. Eles foram atingidos em cheio sem poder lidar com essa situação da mesma maneira do que outros estados mais resilientes”, apontou Stroobants.