Alvo de mandados de busca e apreensão nesta sexta-feira (3), o advogado José Amaro Pinto Ramos é o “francês”, apontado nas investigações do Ministério Público Federal como lobista e operador, além de amigo do senador José Serra (PSDB), para quem teria disponibilizado contas por meio das quais teriam sido feitos os pagamentos de propina.
Serra foi denunciado nesta sexta pela força-tarefa da Lava Jato, por lavagem de dinheiro de obras do Rodoanel Sul no exterior de 2006 a 2014. José Amaro Pinto Ramos não foi denunciado porque ele tem mais de 70 anos e os crimes que ele teria cometido prescreveram. A TV Globo tentou contato com Ramos, mas não conseguiu até por volta das 14h30.
“Há, ainda, e-mails que denotam a existência de uma relação de confiança e parceria em transações entre José Serra e José Amaro Ramos, sendo que este possuía o codinome francês”, dizem os investigadores com base em depoimento de Marcelo Odebrecht. Ramos sempre manteve relação de proximidade com os tucanos, principalmente durante a gestão de FHC.
Segundo a denúncia do MPF apresentada nesta sexta à Justiça, Serra, ao final de 2006, solicitou a Pedro Novis, ex-presidente da Odebrecht, um “pagamento indevido de R$ 4,5 milhões e indicou que gostaria de receber este montante não no Brasil, mas no exterior, por meio de uma offshore de nome CIRCLE TECHNICAL COMPANY INC.” Ainda de acordo com os investigadores, a offshore teria sido disponibilizada por Ramos, “com quem José Serra mantinha amizade há anos”.
Em delação à Lava Jato, Novis disse que Serra teria dado “em mãos” o número de uma conta (que seria o nome da offshore CIRCLE), “indicando que seria por meio dela que deveriam ser pagos os valores acordados”.
A relação de Serra com “francês” consta também de depoimento de Marcelo Odebrecht, segundo quem o empresário tinha este nome em razão da relação que mantinha com empresas daquele país. A Odebrecht teria uma dívida com “francês” em razão de um trabalho que ele teria feito junto a uma empresa francesa no programa de submarinos brasileiro – a Odebrecht tinha interesse nas obras de engenharia civil, como nos estaleiros, envolvendo o programa durante o governo do PT. Parte do dinheiro devido a Ramos teria sido repassada, a pedido dele, para Serra. Os pagamentos teriam acontecido a partir de 2008.
Novis, no entanto, é “peremptório” ao dizer, segundo a denúncia do MPF, que as transferências realizadas pela Odebrecht em favor da offshore CIRCLE não tinham qualquer relação com a contratação de Ramos e foram feitas somente após a indicação de José Serra, como forma de receber as vantagens indevidas.
Além do caso envolvendo a Odebrecht, o nome de Ramos também surgiu em investigações sobre o cartel dos trens em São Paulo, durante as gestões tucanas — ele prestou serviços à francesa Alstom.
Em nota, Serra afirmou que “causa estranheza e indignação” a ação deflagrada pela força-tarefa da Lava Jato em endereços ligados a ele. “Em meio à pandemia da Covid-19, em uma ação completamente desarrazoada, a operação realizou busca e apreensão com base em fatos antigos e prescritos e após denúncia já feita, o que comprova falta de urgência e de lastro probatório da acusação.”
A nota, divulgada pela assessoria do senador, disse ser “lamentável que medidas invasivas e agressivas como a de hoje sejam feitas sem o respeito à lei e à decisão já tomada no caso pela Suprema Corte, em movimento ilegal que busca constranger e expor um senador da República.”
“O senador José Serra reforça a licitude dos seus atos e a integridade que sempre permeou sua vida pública. Ele mantém sua confiança na Justiça brasileira, esperando que os fatos sejam esclarecidos e as arbitrariedades cometidas devidamente apuradas”, encerra o texto.