Polícia

PM é gravado assumindo que matou vendedor: ‘Não vai dar nada’

Vídeo foi gravado por uma das testemunhas e é considerado uma das principais provas a serem analisadas pela Polícia Civil. Vítima sumiu após um jogo de futebol.

Um vídeo obtido pelo G1 nesta quarta-feira (19) mostra um policial militar assumindo o envolvimento na morte do vendedor Cristian Domingos de Almeida, de 33 anos, em Guarujá, no litoral de São Paulo. A vítima desapareceu em janeiro deste ano, após sair de um bar, com amigos e um familiar, onde assistia a uma partida de futebol. O policial foi preso na noite de segunda-feira (17) e transferido para o Presídio Romão Gomes, na capital paulista. A motivação do crime ainda é investigada.

As imagens foram gravadas por uma das testemunhas que constam no inquérito policial. Conforme apurado pelo G1, o vídeo foi uma das principais evidências para que a Justiça pedisse a prisão preventiva do PM. Na gravação, é possível ouvir o suspeito falando que fez ‘merda’ e que não iria ‘dar nada’, pois a polícia não havia localizado o corpo. ASSISTA.

Cristian desapareceu na madrugada do dia 23 de janeiro. Na ocasião, ele foi a um bar com amigos e um irmão para assistir a um jogo de futebol. Depois da partida, o irmão foi para casa e Cristian ficou com um amigo, próximo a onde morava com os pais.

Ele foi abordado por dois homens em um carro, na Rua Maria da Conceição das Neves, no bairro Morrinhos, e levado para um local ainda não informado pelas autoridades. O sumiço foi denunciado na Delegacia Sede de Guarujá, onde foi registrado como sequestro e passou a ser investigado.

Uma testemunha, que prefere não se identificar, procurou o G1 e afirmou que dois policiais militares estariam envolvidos no desaparecimento do rapaz. Segundo o relato, um deles teria confessado o crime a essa pessoa, e a revelação foi gravada em vídeo. Nas imagens, o policial aparece fardado, falando sobre um corpo que não foi encontrado e também da investigação.

“Aí, fico transtornado, doido. Começo a fazer merda. Fiquei sem chão, perdi o juízo. É cobrança, um monte de coisa. Eu sei que eu tô errado e só fiz merda [sic], quase perdi a profissão. Vamos esperar para ver o que vai dar. Tudo bem que não vai dar nada. Capaz que não suba nem para a corregedoria, só se der alguma coisa na [Polícia] Civil aqui, porque não achou o corpo, a arma também, só se achar o corpo. Aí, opa, ‘vamos periciar a arma dos caras’”, afirma o suspeito.

Em outro trecho da gravação, o PM fala sobre o carro usado no crime, que pertencia ao segundo suspeito, também policial militar. “O que ia pegar mesmo era o carro, que estava com as manchas. O cara [policial] está andando a pé por minha causa. O meu parceiro, que estava junto comigo, está andando a pé por causa de mim, dessa merda que eu fiz. Ele se desfez do carro. Ou foi furtado, alguma coisa assim”, completa.

Inquérito
A Reportagem teve acesso ao inquérito do caso, no qual consta que há uma segunda testemunha, que presenciou o momento do sequestro e reconheceu os policiais após o ocorrido. O advogado Rodrigo Sorrentino, que representa a família da vítima, explica que fez a análise detalhada do documento. Ele revela que foram usadas imagens de câmeras de monitoramento para identificar a placa do carro que levou Cristian.

“Por meio da placa, a polícia identificou que o veículo era de propriedade de um dos PMs investigados. Um mês após Cristian desaparecer, esse PM deu queixa de furto do carro, porém, o inquérito mostra que quebrou-se o sigilo telefônico dele, e pela antena do celular, confirmou-se que ele estava no local, no dia e hora do crime”, explica o advogado.

Além disso, conforme Sorrentino, foram apreendidos materiais na casa do outro PM supostamente envolvido que aumentam as suspeitas. “Tudo leva a acreditar em homicídio, porque a testemunha afirma que viu dois disparos no local”, diz.

Em nota, a Polícia Civil, por intermédio da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), informou que diligências ainda estão em andamento e detalhes não podem ser passados, pois o caso segue em sigilo. A Polícia Militar também apoia as investigações. O G1 não localizou a defesa dos policiais militares até a última atualização desta reportagem.