Política

Após denúncias, ‘guardiões’ deixam portas de hospitais e ganham salário para ficar em casa

Ahlefeld Marynoni, conhecido como Rolifild, foi impedido de participar das últimas eleições para conselheiro tutelar, mas recebeu da prefeitura o cargo de coordenador dos CTs. Ele integra o grupo de Whatsapp ‘Guardiões do Crivella’. — Foto: Reprodução

Desde a denúncia sobre os “Guardiões do Crivella”, os funcionários contratados pela prefeitura que tinham a missão de atrapalhar a imprensa não aparecem mais nas portas dos hospitais, segundo informações do RJ2.

A rotina de intimidação de pessoas e jornalistas nas unidades de saúde está suspensa por tempo indeterminado, segundo o RJ2 apurou com pessoas que fazem parte dos grupos de conversas de WhatsApp que organizavam e cobravam a atuação contra jornalistas.

Pelo menos 23 guardiões já foram identificados. Três deles – revelados nesta sexta-feira (4) pela TV Globo – faziam plantão no Hospital Evandro Freira, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

Um deles é Heitor Pereira de Medeiros. Ele foi contratado em agosto de 2018 com cargo especial na Subsecretaria de Relações Institucionais com salário de R$ 6,7 mil.

O nome dele está nas escalas e aparece ao lado de Daniela Rocha Pinto de Jesus em uma foto na porta do hospital. Daniela já prestou depoimento.

Outro identificado é Carlos Roberto da Silva Rocha, conhecido como Beto. Contratado em setembro de 2019 com cargo especial na Subsecretaria de Relações Institucionais. O salário: R$ 12,5 mil.

Beto está nas escalas e em fotos na frente do hospital, também ao lado de Daniela.

Ainda foi identificado Ariolando Pereira contratado em novembro de 2019. Encarregado I na prefeitura com salário de R$ 2 mil.

Beto, Heitor e Ariolando possuem várias fotos ao lado do prefeito Marcelo Crivella e de Marcos Luciano, apontado como chefe do esquema de intimidação de pessoas e de jornalistas diante dos hospitais da prefeitura.

‘Guardião’ foi expulso da PM

José Robério Vicente Adeliano, foi policial militar e expulso da corporação por suspeita de envolvimento com traficantes e matar um colega de farda, em novembro de 1993. Adeliano foi a julgamento e acabou inocentado.

José Adeliano foi expulso da corporação em janeiro de 1994. A Polícia Militar não informou o motivo da expulsão.

Um dos documentos a que a reportagem teve acesso faz referência de que ele era informante de traficantes.

Ele ganha R$ 3,2 mil para ser um dos Guardiões do Crivella. É contratado da Prefeitura do Rio desde 2018.

Prefeito diz que não sabia dos funcionários

A ação desse grupo de funcionários comissionados levou a Câmara dos Vereadores a votar um pedido de abertura de processo de impeachment do prefeito. O vereadores, por 25 votos a 23, rejeitaram a abertura, mas a Câmara decidiu abrir uma CPI para investigar os “Guardiões do Crivella”.

Ao todo, 18 vereadores assinaram o pedido de criação da comissão de inquérito. A criação da CPI foi publicada no Diário Oficial da Câmara desta sexta-feira (4).

O prefeito falou, nesta sexta-feira, sobre a denúncia contra os funcionários comissionados.

“A partir do momento dessa reportagem, em poucos minutos, em poucas horas, não chega a duas, estava pronta uma representação feita por uma delegada que leva a uma juíza de plantão, que ouve o MP e decide na mesma hora. Depois há questionamento do cartório e juíza decide na mesma hora. Medidas duras, de impacto – busca e apreensão e quebra de sigilo. Eu pergunto: essas coisas podem ser feitas no plantão?”, questionou o prefeito.

Crivella disse que não sabia das ações desses funcionários.

“Um grupo de internet se reúne, ninguém é obrigado a aderir ou a ficar. O que postam ali são expressões das suas convicções. E também. Eu fui incluído nesse grupo. Não sou administrador dele, fui incluído. Nunca postei no grupo. Mas agradeci, tinha gratidão por defenderem nossas ações. Nunca vi, das vezes que tive tempo pra acessar (as postagens eram muitas, inúmeras) que tenha sido feito, orquestrada qualquer ação contra fotógrafo, contra imprensa”, disse Marcelo Crivella.

Dois funcionários do primeiro escalão da prefeitura não cumpriram a intimação para depor. Ailton Cardoso da Silva, secretário especial da prefeitura, e Margaret Cabral, chefe de gabinete do prefeito.

Eles mandaram advogados como representantes. Os dois aparecem como integrantes do grupo Guardiões do Crivella.

A polícia já remarcou o depoimento da chefe de gabinete e do secretário especial.

Na próxima semana, os dois devem ir à delegacia para falar sobre o envolvimento deles com o grupo. Os investigadores também pretendem terminar a análise de todo o material que foi apreendido na casa dos funcionários comissionados que tentavam impedir denúncias sobre a situação da saúde no município.