O impacto da pandemia do coronavírus na educação já leva o Brasil a enfrentar mais semanas de escolas fechadas do que a média de países desenvolvidos. A reabertura das escolas trará desafios específicos para o país, como manter o distanciamento social em turmas com mais alunos que a média e organizar o trabalho de professores, quase 90% deles com idade acima de 30 anos.
Os dados são do relatório “Education at Glance 2020”, lançado nesta terça-feira (8) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A análise ocorre sobre 37 países que fazem parte do bloco, além de 9 parceiros (incluindo o Brasil).
“O fortalecimento dos sistemas de educação precisa estar no centro do planejamento do governo para se recuperar desta crise e dar aos jovens as habilidades e competências de que precisam para ter sucesso”, disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, ao lançar o relatório em Paris.
“É fundamental que todos os esforços sejam feitos para garantir que a crise não exacerbe as desigualdades na educação que foram reveladas em muitos países. A crise atual testou nossa capacidade de lidar com interrupções em grande escala. Cabe agora a nós construir como legado uma sociedade mais resiliente”, afirmou Gurría.
Os principais destaques são:
O relatório da OCDE também analisou dados específicos sobre a evolução da educação técnica e profissional, além do ensino infantil e superior. Confira abaixo os dados:
Segundo a OCDE, a crise atingiu o setor de formação técnica e profissional de forma mais dura. Esta é uma grande preocupação, de acordo com o relatório, já que muitas das profissões que formaram a espinha dorsal da vida econômica e social durante o bloqueio da pandemia dependem dessas qualificações profissionais.
Entre estes estudantes do Brasil, 53% fazem cursos técnicos equivalentes ao ensino médio e 47%, ao ensino superior.
A educação técnica e profissional tem um papel importante na transição dos alunos para o mercado de trabalho, aponta o relatório. No entanto, como este tipo de aprendizagem envolve aulas práticas e pode incluir aprendizagem dentro das empresas, os estudantes deste segmento foram mais afetados pela pandemia devido às normas de distanciamento social e fechamento de empresas, afirma a OCDE.
A expansão do ensino superior no Brasil cresceu acima da média dos países da OCDE na última década (2009-2019), embora o percentual de brasileiros com diploma ainda seja abaixo dos demais países.
Segundo a OCDE, no Brasil, houve aumentou de 10 pontos percentuais de graduados no período, enquanto nos demais países o crescimento foi de 9 p.p.
Porém, o crescimento ainda não levou a números universais. Em 2019, 21% dos jovens de 25 a 34 anos tinham diploma de ensino superior no Brasil, em comparação com 45%, em média, nos países da OCDE.
As mulheres seguem sendo maioria. No Brasil, 25% das mulheres de 25 a 34 anos tinham diploma do ensino superior em 2019, enquanto o percentual de homens era de 18%. A média dos países da OCDE é de 51% para mulheres e 39% para homens.
Um maior nível de escolaridade aumenta a probabilidade dos jovens conseguirem emprego e salários mais altos, afirma a OCDE.
No Brasil, essa diferença pode chegar a 258%, se comparados os salários de quem tem graduação com quem não terminou o ensino médio – a maior média entre os países analisados.
O índice de crianças matriculadas em creches no Brasil ainda está abaixo da média da OCDE, aponta o relatório. As salas de aulas também estão mais cheias do que as dos demais países.
Por lei, a matrícula de crianças no Brasil só é obrigatória a partir dos 4 anos. Mas especialistas apontam que a educação durante toda a primeira infância (até cinco anos) é importante para estimular a aprendizagem em um período em que a formação cerebral das crianças está em pleno desenvolvimento. Ou seja, quanto antes, melhor.
Em muitos países da OCDE, a educação infantil começa para a maioria das crianças muito antes de eles completarem 5 anos e há direitos legais que garantem uma vaga por pelo menos um ou dois anos antes do início da escolaridade obrigatória.
No Brasil, 85% das crianças de 3 a 5 anos estão matriculadas em programas de educação infantil. A média da OCDE é de 88%. Dentro desta faixa etária, os dados mais recentes da organização indicam que 21% das crianças com até 1 ano de idade estavam matriculadas nestas instituições no Brasil. Nos países da OCDE, o índice é de 34%. Já entre as crianças de 2 anos, a taxa de matrícula é de 43% no Brasil, 3 pontos percentuais abaixo da média da OCDE, de 46%.
Em relação ao salário dos professores, os docentes brasileiros recebem menos que a média dos demais países e parceiros da OCDE em todos os níveis de ensino.
Na educação infantil, o valor médio anual é de US$ 24,7 mil no Brasil, enquanto a média da OCDE é de US$ 38,6 mil. No ensino fundamental, os valores são, respectivamente, US$ 25 mil e US$ 43,9 mil. No ensino médio são de US$ 25,2 mil e US$ 46,2 mil.
Os dados do relatório indicam que grande parte dos professores do Brasil estão prestes a se aposentar. Apenas 11% dos professores do ensino fundamental têm com menos de 30 anos, o que é um pouco abaixo da média da OCDE, de 12%.
O Brasil está investindo mais na educação do que a média de países da OCDE. Em média, o Brasil aplicou 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, desde o ensino básico até o superior. O índice é 1 ponto percentual acima da média da OCDE.
Por aluno, o investimento do Brasil, é de: