O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (7), durante pronunciamento no Palácio do Planalto, que “acabou” com a operação Lava Jato porque, no governo atual, não há corrupção a ser investigada.
Bolsonaro deu a declaração em cerimônia sobre medidas para a aviação civil, no Palácio do Planalto, enquanto elogiava a própria gestão – na qual, segundo ele, as pessoas são confiáveis e não há interessados em “criar dificuldade para vender facilidade”.
“Eu desconheço um lobby para criar dificuldade para vender facilidade. Não existe. É um orgulho, é uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação”, afirmou.
Em seguida, Bolsonaro disse que essa “ausência de corrupção” não seria uma virtude, e sim uma obrigação. O presidente também defendeu as próprias indicações para cargos públicos.
“Eu sei que isso não é virtude, é obrigação, mas nós fazemos um governo de peito aberto. Quando eu indico qualquer pessoa pra qualquer local, eu sei que é uma boa pessoa, tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe em grande parte da mídia”, declarou.
Bolsonaro e a Lava Jato
Durante a campanha à presidência, Jair Bolsonaro fez diversos elogios públicos à Lava Jato e chegou a indicar o então juiz Sergio Moro – que atuava em Curitiba nos processos da operação – como ministro da Justiça e Segurança Pública.
Em abril deste ano, no entanto, Moro rompeu com o governo e pediu demissão do cargo. Ao anunciar a saída, disse que Bolsonaro tinha tentado interferir politicamente na autonomia da Polícia Federal, corporação responsável por operações como a Lava Jato.
Essa suposta interferência, disse Moro, incluía a substituição do diretor-geral da PF, cargo máximo da corporação. Bolsonaro negou essas tentativas, e um inquérito foi aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar as declarações de ambos.
Em uma rede social, no fim da noite desta quarta, Moro publicou uma mensagem sobre o que chamou de “tentativas de acabar com a Lava Jato”. A mensagem não faz referência direta à fala de Bolsonaro.
“As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”, escreveu o ex-ministro.
As forças-tarefa da operação Lava Jato são de responsabilidade do Ministério Público Federal (MPF), um órgão independente que não é subordinado ao governo federal. O atual chefe do MP é o procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado por Bolsonaro em 2019.
Em setembro deste ano, a PGR autorizou a prorrogação da força-tarefa da Lava Jato no Paraná até janeiro de 2021 – os investigadores tinham pedido mais prazo. Outra força-tarefa, sediada em São Paulo, foi encerrada no fim do mesmo mês após disputa interna entre os procuradores.
Nesta quarta, a Polícia Federal deflagrou uma nova fase da Lava Jato – a 76ª desde o início da operação. Os mandados se referem a suposta corrupção na Petrobras entre os anos de 2009 e 2018.