Eleições 2020

Trump e Biden divergem sobre pandemia e trocam ataques pessoais

Com muito menos interrupções do que no debate anterior, candidatos tiveram último confronto direto antes da eleição de 3 de novembro.

Trump e Biden no último debate antes da eleição — Foto: Reuters/Chip Somodevilla/Pool

Em um clima mais civilizado do que no debate anterior e quase sem interrupções, Donald Trump e Joe Biden se enfrentaram nesta quinta-feira (22) pela última vez antes da eleição presidencial de 3 de novembro nos Estados Unidos.

Trump tentou por algumas vezes usar o nome do filho de Biden, Hunter, a quem acusa de ter usado a influência do pai em negócios na Ucrânia quando este era vice-presidente, mas o assunto não foi aprofundado.

Biden, por sua vez, voltou a criticar duramente a resposta do presidente à pandemia de coronavírus e sua suposta proximidade com o presidente russo Vladimir Putin, e mais uma vez chamou Trump de racista.

Coronavírus
Ao falar sobre a pandemia de coronavírus, o primeiro tema da noite, Trump disse que a taxa de mortalidade dos Estados Unidos é menor do que a de muitos países, “uma das menores do mundo”, em relação ao número de casos – ainda que o país seja o que registra mais mortes por Covid-19.

Citando ainda sua própria experiência com a doença, o presidente disse que melhorou rapidamente porque o país oferece um bom tratamento e que uma vacina “está chegando” em semanas, apesar de não conseguir precisar uma data.

“Vai passar e, como eu disse, estamos dobrando a curva, estamos dobrando a esquina. Está indo embora”, disse Trump, ao falar da pandemia nos EUA.
Já Biden citou as mais de 222 mil mortes no país e afirmou que qualquer um responsável por isso não deve continuar na presidência. Ele disse ainda que a expectativa é de que haverá mais 200 mil americanos mortos e o presidente ainda não tem um plano.

“Este é o mesmo sujeito que disse que tudo terminaria na Páscoa”, disse. “Ele não tem um plano claro.”
O democrata voltou também a defender o uso obrigatório de máscaras e a ampliação de testes, caso seja eleito.

Os dois discordaram em relação à reabertura da economia, com Trump novamente acusando Biden de querer “fechar o país”, enquanto o adversário reafirmou que pretende seguir normas de segurança e manter lojas, escolas e outros estabelecimentos abertos quando e como for seguro para as pessoas.

Segurança nacional
Acusações de que Irã e Rússia estariam tentando interferir nas eleições presidenciais americanas, feitas pelo Diretor de Inteligência Nacional dos EUA, John Ratcliffe, também foram abordadas.

Biden afirmou que, caso seja eleito, qualquer país que tente interferir na soberania dos Estados Unidos “irá pagar um preço”. Segundo ele, Trump nunca disse nada ao presidente russo Vladimir Putin sobre isso, e seu “grande amigo” Rudy Giuliani (advogado do presidente) foi usado como um “peão” russo e nada aconteceu.

Neste momento, Trump acusou Biden de receber “US$ 3,5 milhões através do prefeito de Moscou”, sem entrar em detalhes, e fez insinuações sobre o filho dele, Hunter Biden, a quem acusa de ter negócios escusos na Ucrânia.

“Com o que saiu hoje, é até pior. Os e-mails horríveis sobre o tipo de dinheiro que você e sua família têm faturado. E Joe, você era vice-presidente quando algumas dessas coisas aconteciam. E creio que nunca deveriam ter acontecido. Acredito que você deve uma explicação ao povo americano”, disse Trump.
O presidente, inclusive, chegou a levar como um de seus convidados ao debate Tony Bobulinski, CEO da Sinohawk Holdings, supostamente o destinatário de emails enviados por Hunter Biden nos quais Joe seria citado.

O presidente também negou que seja submisso na relação com Putin. “Não houve ninguém mais duro com a Rússia do que Donald Trump”, garantiu.

“Nunca peguei um centavo de nenhuma fonte estrangeira em minha vida”, respondeu Biden. “Soubemos que esse presidente pagou 50 vezes mais imposto na China, tem uma conta bancária secreta na China, faz negócios na China e, de fato, está falando em eu pegar dinheiro? Eu não peguei um único centavo de qualquer país, nunca”, acusou.

Trump rebateu afirmando que teve uma conta na China entre 2013 e 2015, antes mesmo de se lançar candidato à presidência, porque cogitou ter negócios no país, mas depois desistiu, e que isso não é contra a lei e é feito por muitas pessoas. “Eu não ganho dinheiro da China, não ganho dinheiro da Ucrânia, você sim”, disse.

Dirigindo-se ao público, Biden replicou: “O cara que teve problemas na Ucrânia foi esse cara – tentando subornar o governo ucraniano para dizer algo negativo sobre mim”. Segundo o ex-vice-presidente, nada foi encontrado porque nem ele e nem seu filho fizeram nada errado.

Racismo
Ao discutir racismo, Trump afirmou que “desde Abraham Lincoln, nenhum presidente fez mais pelos negros do que eu” e, mais tarde, chegou a dizer que era a pessoa menos racista em todo o ambiente. Além disso, acusou Biden de agir contra os afro-americanos ao votar a favor da Lei de Crimes em 1994.

Biden, no entanto, lembrou diversas situações em que o presidente fez menções racistas, desde o lançamento de sua primeira candidatura, quando acusou o México de enviar traficantes e estupradores aos EUA até as vezes em que ofendeu militantes do movimento Vidas Negras Importam.

“Ele joga combustível em cada incêndio racista”, acusou Biden, chamando Trump de “um dos presidentes mais racistas que já tivemos na história moderna”.
Imigração
A informação de que 545 crianças separadas de suas famílias nas fronteiras dos EUA ainda não foram reunidas porque seus pais não foram localizados despertou um dos momentos mais acalorados no debate.

Biden chamou a situação de “criminosa”, enquanto Trump tentou diminuir a gravidade afirmando que sua administração está tentando arduamente localizar os pais, mas acrescentando que muitas crianças entraram no país trazidas por “coiotes e cartéis”.

Segundo ele, as crianças estão “bem cuidadas” e em “instalações muito limpas”. O presidente acusou ainda o governo Obama, de quem Biden foi vice, de ter construído as celas para onde os imigrantes ilegais são enviados. “Quem construiu as jaulas?”, repetiu, inúmeras vezes, além de perguntar por que o adversário não fez nada quando estava no poder.

Em uma rara discordância de seu antigo presidente, Biden respondeu que era vice, e não chefe de estado, e que Obama “demorou muito” para agir na questão da imigração. Ele afirmou também que, caso eleito, irá resolver imediatamente a questão dos jovens amparados pelo programa DACA, que Trump tenta acabar desde que assumiu.

“E o fato é que deixei bem claro que dentro de 100 dias vou enviar ao Congresso dos Estados Unidos um caminho para a cidadania para mais de 11 milhões de indocumentados”, prometeu.
Mudanças climáticas
A exemplo do que havia dito a um eleitor na semana passada, Biden voltou a enfatizar a importância de investir em energias renováveis, inclusive como fonte geradora de novos empregos. Ele também atacou Trump, que no passado fez comentários dizendo que energia eólica seria causadora de câncer.

O presidente respondeu dizendo que sabe mais sobre vento do que o adversário e que isso é “caro e mata pássaros”. Trump tornou a acusar Biden de ser a favor do banimento do fracking, (técnica que consiste em injetar água pressurizada para fraturar o subsolo e liberar gás e petróleo) e o democrata, visivelmente irritado por mais uma vez desmentir a afirmação, o desafiou a mostrar um vídeo em que ele apareça dizendo isso. “Poste o vídeo em seu site”, desafiou.

Discurso de posse
No encerramento do debate, os candidatos foram questionados sobre o que diriam a eleitores que votaram em seu adversário, caso eleitos, em seu discurso de posse.

“Temos que tornar nosso país totalmente bem-sucedido como era antes da peste que veio da China”, afirmou Trump.

Biden, por sua vez, escolheu um tom de união: “Eu sou um presidente americano. Eu represento todos vocês, quer votem em mim ou contra mim. Eu lhes darei esperança. Vamos escolher a ciência em vez da ficção, esperança em vez do medo”.

Recorde de votos antecipados
O encontro desta quinta-feira, com uma hora e meia de duração, aconteceu em Nashville, Tennessee, e foi a única oportunidade de um confronto direto após o presidente contrair Covid-19. A mediação foi da jornalista Kristen Welker, da NBC News.

O clima caótico do primeiro debate foi evitado com os candidatos tendo seus microfones cortados enquanto o adversário estava respondendo, e sendo obrigados a ceder tempo quando atrapalhavam alguma resposta durante a discussão aberta.

A menos de duas semanas das eleições, os candidatos chegaram ao debate final com um número recorde de votos já depositados antecipadamente pelos eleitores: mais de 45 milhões, segundo a imprensa dos EUA.

Outros debates
Os dois candidatos participaram de um primeiro debate em 29 de setembro, e deveriam ter tido outro em 15 de outubro, cancelado pela doença do presidente. Os organizadores chegaram a propor um evento remoto, mas o republicano recusou.

No mesmo dia em que estava previsto o encontro, Trump e Biden participaram de entrevistas com eleitores, ao mesmo tempo, em duas emissoras de televisão dos EUA.

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