Na semana passada, a Anvisa já tinha liberado a importação de 6 milhões de doses da CoronaVac, que já virão envasadas e prontas para o uso. A aplicação, no entanto, só será autorizada depois que os estudos forem concluídos – e se as conclusões forem positivas.
Na entrevista à revista “Veja”, Mourão afirmou não ter receio de tomar vacina que venha da China. “Desde que esteja certificada pela Anvisa. Não tem problema nenhum”, afirmou.
No último dia 21, Bolsonaro publicou em rede social: “Não compraremos a vacina da China”. No mesmo dia, disse que o governo estava em busca de uma “vacina confiável”, e que o resto era “jogo político”.
Horas antes, o Ministério da Saúde havia anunciado a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. O ministério chegou a alterar um comunicado divulgado na internet, trocando a “aquisição das doses” pela “possível aquisição”.
Doria, que estava em Brasília no dia das mensagens de Bolsonaro, afirmou: “A vacina é que vai nos salvar, que vai salvar a todos. Não é ideologia, não é política, não é processo eleitoral que salva, é a vacina”.
O mesmo acordo para as 46 milhões de doses, anunciado e depois retificado pelo Ministério da Saúde, já havia sido assinado entre o governo de SP e o laboratório Sinovac.
O contrato previa que SP recebesse 6 milhões de doses já envasadas e material para fabricar outras 40 milhões em solo brasileiro. Ao rejeitar a “vacina chinesa”, Bolsonaro não explicou a quais doses se referia. Doria tem dito que os acordos fechados em SP estão mantidos.
Combate à Covid ‘nota oito’
Perguntado sobre a nota que atribuiria ao Brasil no combate à Covid-19, Hamilton Mourão respondeu à revista que daria “nota oito”.
“O Brasil é um país desigual: não é a França, não é Alemanha, não é a Espanha. Não tivemos segunda onda aqui. Nós estamos na primeira onda e a doença vai morrer nessa onda. Nosso sistema de saúde suportou a crise. Diziam que as pessoas iriam morrer na rua”, disse.
Sobre o fato de ter sido um dos integrantes do governo que não pegaram a doença, o vice-presidente disse que a fórmula foi ter usado máscara e álcool em gel.
Nesse ponto, Mourão também diverge de Bolsonaro. A apoiadores, o presidente da República já ignorou o conhecimento científico ao afirmar que a eficácia da máscara é “quase nenhuma”. Bolsonaro nunca apresentou evidências para embasar essa desconfiança do equipamento de proteção.
Questionado sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal, Mourão – que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal – afirmou que o governo não “está de braços cruzados”.
Na próxima semana, Mourão levará representantes diplomáticos de 10 países à região amazônica para defender “que a Amazônia brasileira continua preservada”.
“Não é questão de que está tudo bem. Mas está sendo vendida para o restante do mundo e para parcela da sociedade brasileira a ideia de que o governo brasileiro está de braços cruzados e, vou usar o termo da moda, ‘mandou passar a boiada’. Não é isso que está acontecendo”, declarou Mourão.
O “termo da moda” sobre passar a boiada ganhou destaque ao ser usado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Em uma reunião ministerial que se tornou pública, Salles disse que o governo deveria aproveitar o foco da população na pandemia para “passar a boiada” com iniciativas para reduzir a regulamentação ambiental.
Perguntado pela “Veja” sobre possíveis erros do governo na condução das políticas ambientais na Amazônia, Mourão respondeu que o bioma tem 5,2 milhões de quilômetros quadrados, sendo que o fogo atinge 100 mil quilômetros quadrados dela.
“É pouco quando você olha para o tamanho da área, mas é muito para aquilo que a gente quer entregar”, declarou.