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‘Trocaria de lugar com meu pai’, diz brasileira vacinada contra Covid-19 na Inglaterra

Kerlane foi vacinada nessa quinta-feira (10). — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Receber a vacina contra a Covid-19 é, sem dúvidas, o sonho de muita gente. No entanto, para a amazonense Kerlane Jackman, que mora na Inglaterra, e recebeu a primeira dose da imunização nessa quinta-feira (10), o momento é de alegria e preocupação. Isso porque, apesar de estar na seleta lista de pessoas que já foram vacinadas contra o novo coronavírus no mundo inteiro, ela se mantém preocupada em saber que os pais, que moram em Manaus e são do grupo de risco, seguem sem previsão para receber a proteção.

“É uma tristeza que eu carrego por saber que meus pais não têm esperança em receber essa vacina. Vejo que o governo trata isso com descaso. Meu pai passa dos 70 anos, minha mãe é agente de saúde, os dois continuam trabalhando, se expondo, correndo riscos […] Se me perguntassem se eu queria dar essa vacina para alguém, eu daria para o meu pai. Trocaria de lugar com ele. Eu queria que ele fosse vacinado primeiro”, relatou a amazonense.

A preocupação de Kerlane também se estende à parte da família que mora na Inglaterra, já que somente ela foi vacinada. Marido e filhos, não. A escolha foi pela profissão: a amazonense é cuidadora de idosos que sofrem com alzheimer. A previsão para que o restante da família seja imunizada é até o verão do ano que vem, quando o governo britânico espera concluir a vacinação em todo o país.

O Reino Unido começou a vacinar sua população na terça-feira (8) com a vacina da farmacêutica norte-americana Pfizer e da empresa alemã de biotecnologia BioNTech. O país europeu é o primeiro a iniciar campanha de imunização com a vacina desenvolvida pela parceria das duas empresas.

“O governo dava semanalmente informações sobre a vacina. Eles também informaram quem seriam os primeiros a tomar, avisando que ia começar pelos funcionários de hospitais, os idosos que lá estavam e depois a área social, que é o meu caso. Aí mandaram uma cartinha pedindo para eu comparecer no posto, preenchi um formulário, perguntaram se eu tinha alergia, se eu tinha tido febre, foi toda uma preocupação. Mas meu marido e meus filhos ainda não tomaram. Eles vão ter que aguardar as cartinhas deles chegarem com a notificação para que possam tomar a vacina também”, contou.

Enquanto isso, os cuidados a propagação do vírus continuam. Afinal, além de parte da família não ter sido imunizada, Kerlane também precisa esperar a segunda dose da vacina – marcada para o dia 2 de janeiro – para poder respirar mais tranquilamente, conta ela.

“Eles disseram que a primeira dose não é 100%. Ainda posso pegar o vírus. Por isso, é preciso continuar com os procedimentos de lavar as mãos, usar a máscara, manter o distanciamento, higienizar as minhas coisas. No trabalho, continuar usando a roupa de proteção, até a segunda dose, até uma notificação do governo de como será posteriormente”, disse.

Ao G1, a amazonense também contou como foi a sensação de ser uma das primeiras vacinadas no mundo inteiro. Ela disse não esperava que a imunização fosse chegar tão rápido.

“Eu não esperava que fosse tão rápida, pensava que poderia demorar. O governo estava com certa urgência, os hospitais estão super lotados. Então, foi uma atitude emergencial. E eu estava ansiosa, com um pouco de medo, também. São muitas informações, né? Informações de todos os lados e isso deixa a gente nervoso, mas teve uma triagem, vários testes e o questionário que eu respondi sobre o meu histórico de saúde, o que me deixou mais tranquila”.

Kerlane também contou que o clima na Inglaterra é de esperança e alívio. No Amazonas, somente nas últimas 24 horas, foram confirmados 821 novos casos da doença e seis novas mortes.

A preocupação com a família e amigos, e o misto de sentimentos deve perdurar por mais um tempo, mas a esperança na ciência é algo que a amazonense não pretende perder tão cedo.

“Aqui as pessoas estão emocionadas, alegres, com esperança de dias melhores, sabe? É a sensação de uma luz no final do túnel. Um alívio. Para o Brasil, eu só peço que as pessoas continuem acreditando nos cientistas, na ciência, para que essa vacina chegue aí também. Espero que saia o quanto antes, independente de onde partir, e que o governo pense nas pessoas também, no próximo. É doloroso o que estamos vivendo, perdi muitos amigos, mas espero que isso passe logo”, finalizou.

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