No momento em que protocolos de saúde orientam para que se evitem superfícies, o “toque” é questão de sobrevivência para deficientes visuais. O Dia do Cego é comemorado neste domingo (13).
Segundo dados do IBGE no Censo 2010, e organizados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), 1.203.353 pessoas têm deficiência visual no estado de São Paulo. O número equivale a 40% do total de moradores com algum tipo de deficiência.
Em Sorocaba (SP), onde mora Antônio Marcos Mimi, de 42 anos, eram 17.287 moradores com problemas de visão, no recorte de 2010. O número é o mais alto na cidade, sendo 37,29% na frente de pessoas com deficiência motora, mental e auditiva.
Com isso, desde os primeiros casos de Covid-19, o aposentado conta que preparou um tipo de “kit anticoronavírus” e passou a higienizar a bengala e as mãos por onde passa.
“Pra gente, é complicado. A nossa mão é o nosso olho. Se vai subir escada é corrimão, no elevador tem que tocar no botão também. Infelizmente, a gente tem que redobrar os cuidados”, diz.
Segundo ele, dois primos da cidade onde nasceu, em Piraju (SP), estão contaminados. A agressividade da doença e os sintomas graves alertaram a família a manter os cuidados mesmo em época de flexibilização.
“Um está saindo do hospital e o outro está com falta de ar, febre e paladar afetado. É um sofrimento e aqui eu passo álcool em tudo. Como moro sozinho e só vejo minha namorada ao fim de semana, ela também evita ao máximo a exposição”, conta.
Aos 83 anos, o também aposentado Benedito Marcondes dos Santos proibiu a visita dos filhos e fez do violão em casa uma terapia. O idoso começou a perder a visão em 1987, quando ainda trabalhava de mecânico, para um glaucoma – enfermidade do nervo óptico, normalmente associada ao aumento da pressão intraocular.
Atualmente, Dito, como é chamado pela família, mora na Vila Carvalho com a enteada e a esposa, a dona Mercedes. Em meio à pandemia, enquanto o aposentado dedilha com o instrumento, mesmo com 100% da vista comprometida, a mulher passou a fazer máscaras.
“Rapaz, eu gosto de tocar violão. Hoje mesmo peguei um novo e estou radiante. Já que estamos trancados em casa e não pode ser fazer uma comprinha, porque esse vírus tirou a liberdade.”
Segundo o aposentado, ele também deixou de frequentar presencialmente a Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais (ASAC), onde faz aulas de braile.
“Fazemos umas chamadas para as aulas aqui de casa. Já estou bem avançado nisso [braile]. Mas outra coisa que não deixamos de fazer é de falar sobre a bíblia para as pessoas. Sou testemunha de Jeová, mas não posso sair daqui, então passei a ligar nas casas”, detalha.
A ASAC teve que repensar o modo de trabalho. Ao G1, Yara Araújo, coordenadora da associação, explicou que são atendidas 120 pessoas de forma gratuita. A equipe multidisciplinar de serviço social, informática adaptada, psicologia, pedagogia, braile, orientação e mobilidade, terapia ocupacional e música permaneceu com as ações via internet.
“Alguns assistidos receberam até alta no período, porque se superaram nas atividades. Enquanto não houver vacina, o atendimento presencial está suspenso, porque também pensamos no trajeto e muitos têm comorbidades.”
Na sexta-feira (11), a Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB) solicitou a inclusão do segmento de pessoas com deficiência no grupo prioritário para o plano de vacinação contra a Covid-19.
Em 23 de março, a entidade havia publicado orientações e situações em que pessoas com deficiências podem ser expostas ao vírus. Confira: