A enfermeira obstetra Karla Michelle do Valle de Souza, de 42 anos, tinha a voz doce e, com amor, ajudava a trazer bebês ao mundo. Ela morreu em decorrência da Covid-19 na tarde deste domingo (27), em Belo Horizonte, quase três horas após dar entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte.
Karla era casada e deixou dois filhos: Israelly, de 10 anos, e Noah, de 2. “Deus é tão misericordioso… até 15 dias atrás, o Noah estava mamando e conseguimos desmamar ele. Ele vai sentir muito a falta dela no dia a dia. Todos nós vamos”, disse o marido Ítalo Silva de Souza, de 42.
Na tarde desta segunda-feira (28), o companheiro estava a caminho do Cemitério do Bonfim para o enterro da mulher com quem dividiu a vida nos últimos 11 anos. Ao G1, ele contou que a esposa apresentou sintomas leves da doença há pouco mais de uma semana, depois que os pais dela testaram positivo para coronavírus.
“Ela apresentou os sintomas e nós ficamos em isolamento. Estava com sintomas brandos, consultamos no plano de saúde, mas não passaram remédios. Era um cansaço, um mal-estar, não parecia gripe. Depois é que ela sentiu que estava sem olfato”, relembrou.
Na sexta-feira e no sábado, ela estava bem. Neste domingo, no entanto, Karla teve falta de ar. O marido a levou até a UPA mais próxima, onde foi colocada no oxigênio e estabilizada. De longe, em uma antessala, ele conseguia ver a mulher e conversar com ela por gestos. Um exame não apresentou alterações no pulmão.
Minutos depois, uma movimentação de médicos, o biombo fechado, uma tentativa de intubação. A enfermeira, que era hipertensa, deu entrada na UPA pouco antes das 14h e, às 16h25, estava morta.
“Todos estão escandalizados, sem saber. Uma junta médica, um olhando para o outro. A médica me disse que ela está naquela UPA Norte desde que foi inaugurada e nunca tinha visto uma evolução daquela forma, jamais imaginaria, principalmente pelo bom aspecto pulmonar”, disse Ítalo Souza.
Nas redes sociais, mães que contaram com o talento de Karla para dar à luz compartilham relatos de gratidão e saudade. Sentimentos que também representam os colegas enfermeiros da Equipe Bom Parto, onde ela trabalhava auxiliando partos domiciliares e hospitalares.
“Ela era uma pessoa boa demais, de muita fé. Mandou mensagem, no sábado, falando que tinha perdido um tio que morreu em 2h e que os pais dela também estavam com Covid. A gente está assustada com a rapidez”, disse a enfermeira Maria Amaral de Sá Motta.
Para Rênia Camila de Jesus, também enfermeira e coordenadora da equipe em que Karla atuava, a amiga era muito detalhista:
“Foram dois anos de residência e mais cinco anos trabalhando juntas. Karla era uma mulher doce, sensível, companheira, uma profissional exemplar, dedicada, tinha um profissionalismo ímpar. Mãe, esposa e amiga super dedicada. Karlinha era uma pessoa muito especial”, afirmou Rênia, emocionada.