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Capitão do Corpo de Bombeiros que atropelou ciclista no Recreio é preso

O motorista suspeito de atropelar e matar o ciclista Cláudio Leite da Silva, de 57 anos, foi preso na manhã desta segunda-feira, horas após o crime, por agentes da Corregedoria Interna do Corpo de Bombeiros. O capitão da corporação João Maurício Correia Passos, de 36 anos, chegou à 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) pouco antes das 10h. A polícia descobriu que João Maurício era o motorista porque foi encontrada, no carro que atropelou o ciclista, uma intimação do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), datada do último dia 6 de janeiro. O documento – de uma audiência de custódia — estava no nome do bombeiro. A assessoria do Corpo de Bombeiros informou que “está à disposição das autoridades que investigam a ocorrência”.

Segundo o delegado Alan Luxardo, titular da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), João Maurício foi preso em flagrante. Em um depoimento preliminar na delegacia, o capitão confirmou que estava dirigindo e que atropelou o ciclista. No entanto, negou que estivesse bêbado do momento do acidente. Indagado pelo delegado sobre o motivo da fuga do local, ele afirmou que “temia ser linchado” — mesmo argumento usado pelo jogador Márcio de Oliveira Almeida, o Marcinho, que no fim do ano passado atropelou e matou um casal de professores, também no Recreio.

— Ele falou que fugiu por conta de medo de linchamento. Ele tem alguns registros de crimes anteriores. Ele tem um passado problemático e hoje acabou nesse fato lamentável — disse o policial.

De acordo com Luxardo, João Maurício também confirmou que esteve no posto de gasolina da Avenida Gláucio Gil, onde diz ter comprado um energético.

— Ele disse que estava trafegando e acabou batendo. Mas não lembra o que aconteceu (para causar o acidente). Ele confessou que estava dirigindo. Nós conseguimos saber que ele estava em um posto. Inclusive, já até requisitamos as imagens. Ele confessou que estava lá, mas (diz) que entrou para comprar uma bebida energética e não bebida alcoólica. De qualquer maneira, já fomos ao local buscar essas imagens. Assim como ao local do acidente, justamente para fornecer material probatório para o flagrante — disse o titular da 42ª DP.

João Maurício Correia Passos, de 36 anos, capitão do Corpo de Bombeiros, dirigia o carro que atropelou e matou o ciclista Cláudio Leite da Silva Foto: Reprodução

Após sair da delegacia, o capitão dos Bombeiros foi encaminhado para o Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio, para fazer exame de alcoolemia.

— Conforme o resultado venha, vai ser uma tipificação (de crime) ou outra. De qualquer maneira, ele está preso em flagrante pela fuga de local de acidente. Vou depender do laudo de alcoolemia para saber se ele estava ou não alcoolizado. Com base nisso, a tipificação pode mudar. Uma coisa é dirigir sendo imprudente e fugir do local. Outra é dirigir sob efeito de álcool. A pena é muito maior e tudo isso vai ser levado em consideração.

Imagens registradas
De acordo com o delegado Alan Luxardo, as imagens do posto de conveniência mostram que o “militar estava completamente embriagado”. O policial classificou o acidente como “brutal” e criticou a fala do capitão.

— Está virando moda atropelar, matar, fugir e dizer que estava com medo de ser linchado.

Após fazer o exame de alcoolemia no IML, João voltou para a sede da 42ª DP, de onde sairá direto para o Grupamento Especial Prisional do Corpo de Bombeiros, em São Cristóvão.

Imagens feitas por uma pessoa que estava no posto de gasolina onde João Maurício bebia mostram o momento em que ele dança cambaleando e segura uma garrafa de uísque e uma outra que parece vodca. O capitão, que estava sem camisa e de bermudas, escuta Racionais MCs ao lado do HB20 que atropelou Cláudio instantes depois. Segundo testemunhas, após beber bastante, ele deixou o estabelecimento “cantando pneus”. Os vídeos já estão com a polícia.

Delegado cita agressão
Segundo Alan Luxardo, após atropelar o ciclista, o João Maurício fugiu para a casa de um amigo na Rua Professora Souza Leão, a um quilômetro do local do crime. Ele foi preso quando saía da residência, informou o delegado, que citou ainda que contra João existe uma medida protetiva:

— De acordo com a Polícia Civil, existe uma medida protetiva contra João. Ele teria agredido a esposa que tem deficiência física. O pai de João Maurício também já foi do Corpo de Bombeiros. Atualmente, ele é coronel reformado.

João Maurício tem um histórico violento contra mulheres que se relaciona, segundo a Justiça. Em 2018, por falta de provas, “o denunciado foi absolvido das acusações” de agressão e “a ação está em fase de arquivamento por decisão do juízo da 6ª Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, da Leopoldina”.

Na última terça-feira, o oficial voltou a ser preso após ter agredido a tapas e tentado estrangular a esposa, a cadeirante Cristina Marcelino do Nascimento Passos na casa onde eles moram, no Méier, Zona Norte do Rio. Preso, o homem foi levado para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica. No dia seguinte, a juíza Ariadne Villela Lopes determinou a imposição de medidas cautelares e determinou a soltura do militar. Segundo Lopes, João tem que comparecer “mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades, até o dia 10 de cada mês, o qual deverá ser iniciado já a partir do próximo dia 10 de fevereiro de 2021 e perdurará até que seja proferida a sentença”. Além de estar proibido de deixar a cidade sem a autorização judicial.

O capitão também está proibido de “manter contato com a suposta vítima pessoalmente ou por qualquer meio de comunicação, notadamente, mensagens de WhatsApp, SMS, telefonemas e e-mails, bem como proibição de se aproximar da vítima mencionada, por menos de 500 metros, até que seja proferida sentença”. Por fim, a Justiça determinou que 30% do salário de João deveriam ser destinados à sua esposa.

Atropelamento no fim da madrugada
O atropelamento ocorreu no fim da madrugada desta segunda-feira, por volta das 5h40, na Avenida Lúcio Costa, na altura do Posto 10. Cláudio Leite, que tinha o hábito de pedalar diariamente pela via, morreu no local.

Cláudio estava em uma bicicleta de fibra de carbono e pedalava sozinho quando foi atingido. Segundo testemunhas, o atropelador estava bebendo em um bar, que fica dentro de um posto de conveniência, na Avenida Glaucio Gil, a poucos metros de onde aconteceu o acidente. Antes de atropelar o ciclista, ele bateu em uma Kombi e no meio-fio.

Após atropelar Cláudio, João Maurício fugiu de carro, mas acabou batendo. Ele conseguiu escapar a pé. O Hyundai HB20 que o bombeiro dirigia não poderia estar circulando pelas ruas. Segundo o Detran, o último licenciamento do automóvel é datado de 2018. Ou seja, há mais de dois anos o carro está com a documentação irregular.