Futebol

Flamengo mantém Ceni, compartilha erros e estuda mudança no futebol para próxima temporada

A irregularidade do Flamengo em campo e a falta de resultados em 2021 elevaram a pressão no clube, especialmente sobre Rogério Ceni. Depois de um vaivém de reuniões e discussões sobre o futuro nesta segunda-feira, a cúpula da diretoria decidiu mantê-lo no cargo.

A conclusão depois de troca de ideias indicou dois caminhos: Ceni não é o protagonista do mau momento rubro-negro e, também por isso, há a necessidade de reformular a gestão do departamento de futebol para a próxima temporada. Não necessariamente dispensar nomes, mas modificar a maneira de tocar o dia a dia. Elevar a cobrança, promover a competitividade interna e reestabelecer métodos mais rígidos para fazer com que o time volte ao tão decantado outro patamar e, mais do que isso, evolua.

O clube observa brasileiros com excelência em gestão no exterior. Uma das ideias seria contar com profissionais que desempenhem trabalho de alto nível em clubes do exterior. Seria uma alternativa para retomar o que foi interrompido por Jorge Jesus, que deixou o Ninho do Urubu sem um legado específico. Mas a ideia esbarra no delicado xadrez político da Gávea.

O sentimento da cúpula é de que o departamento de futebol não tem conseguido encontrar soluções para o momento difícil, o que ressaltaria o coro de parte da diretoria de que o setor acabou “terceirizado” pelo português durante sua passagem.

Jesus controlava quase tudo no Ninho do Urubu, desde horários, posturas, organização, métodos de treinamentos até a quem seria permitido observar os treinamentos. Certa vez, já em 2020, constatou a presença de pessoas do próprio departamento de futebol com quem não tinha proximidade e exigiu que deixassem o local. Houve certo constrangimento, mas o técnico acabou atendido. Desde a sua saída, a flexibilidade do dia a dia é considerada maior no CT.

Entende-se que atletas como Pablo Marí e Rafinha desempenhavam papel além do campo, com contribuição efetiva para o bom ambiente e a competitividade interna. E mais além: com as saídas dos atletas eles não tiveram substitutos principalmente nos papeis que desempenhavam no extracampo.

Rogério Ceni tem bom contato com os atletas, relacionamento mais direto com os experientes e os métodos de treinamento seguem elogiados. É um ponto que contou a favor de sua permanência, embora haja questionamento interno sobre algumas escolhas, como a escalação de César em vez de Hugo contra o Ceará ou o não aproveitamento de atletas da base como Ramon. O entendimento é de que alguns novatos ainda não atendem às exigências dos treinamentos, com movimentações específicas para o modelo de jogo a até baixo aproveitamento em treinos técnicos, como cruzamentos, por exemplo. E, desta maneira, são preteridos em relação a outros.

Experiente com o dia a dia de futebol e com maior proximidade aos atletas e o núcleo do vestiário, o vice de futebol, Marcos Braz, tenta contornar a pressão. Mas o próprio dirigente sofre com críticas internas principalmente depois de sua candidatura e consequente eleição para vereador no Rio de Janeiro. Ele foi empossado no início do mês.

Depois das reuniões desta segunda há a promessa de uma conversa mais dura com o elenco depois do início desastroso em 2021 e o risco de nem finalizar o Brasileiro no G-4, o que poderia comprometer ainda mais a parte financeira. A exigência é de reação imediata a partir do jogo contra o Goiás, na próxima semana.

Após a derrota contra o Ceará o clima no vestiário foi de puro abatimento, de jogadores a técnico. Diego pediu a palavra, fez discurso forte na tentativa de recuperar o astral e também cobrar os companheiros. Àquela altura muitos entendiam que Ceni não continuaria no comando diante do panorama, talvez até por escolha própria.

A falta de reação da equipe mesmo com semanas cheias de treinamentos frustrou demais integrantes do departamento de futebol, mas especialmente o técnico. Havia a preocupação de como proceder diante de um novo insucesso em meio a uma sequência de cinco jogos fora de casa. Por isso o cargo do treinador esteve em discussão. No xadrez da Gávea, o ferver do caldeirão político também é considerado peça-chave.

Há, sim, diferença de pensamentos entre a sede social e o Ninho do Urubu, ainda mais acirrada com a eleição presidencial ao fim deste ano. Houve forte descontentamento com a maneira como o contrato de Domènec Torrent, por exemplo, foi negociado. A salgada multa de 1,8 milhões de euros (cerca de R$ 12 milhões) – equivalente até o fim do contrato – foi o grande motivo. O acordo com os representantes do treinador catalão demorou dois meses para ser finalizado e o clube não teve sucesso algum na tentativa de reduzir o prejuízo.

Entre Gávea e Ninho, o Flamengo de 2019 é um belo retrato na parede. Mas a moldura da atual temporada está rachada e o clube faz última tentativa de consertá-la a tempo sem mudanças bruscas imediatas.