O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quarta-feira (20) que, após conversa com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, não vê obstáculo político, mas sim técnico, na demora para envio ao Brasil de insumos chineses para a produção de vacinas contra a Covid-19.
Na terça (19), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que a entrega da vacina de Oxford contra a Covid-19 vai atrasar de fevereiro para março devido à demora na chegada do insumo farmacêutico ativo (IFA), que vem da China.
Esse mesmo insumo também é usado na fabricação da CoronaVac, a vacina que vai ser produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.
As duas vacinas, CoronaVac e de Oxford, são as únicas autorizadas até o momento pela Anvisa para uso emergencial no Brasil. Apenas doses da CoronaVac estão disponíveis atualmente no país e é com elas que foi dado início à vacinação contra a Covid-19.
O presidente Jair Bolsonaro e membros do governo, como o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, têm nos últimos meses feito críticas ao governo chinês e colocado em dúvida a eficácia da vacina produzida pelo país asiático, num discurso semelhante ao do presidente dos EUA, Donald Trump, aliado de Bolsonaro.
Em outubro, Bolsonaro chegou a cancelar um acordo de compra de doses da CoronaVac pelo Ministério da Saúde e afirmou que o não compraria vacinas produzidas na China. A postura de Bolsonaro e de seu governo em relação aos chineses levou ao temor de que o atraso poderia ser uma retaliação.
“Ele [embaixador chinês] abriu a conversa já relatando que, de forma nenhuma, haveria obstáculos políticos para a exportação dos insumos da China” afirmou Maia.
“Ele disse que trabalha junto ao governo chinês para que a gente possa acelerar – a exportação no nosso caso – desses insumos para que possamos restabelecer logo a produção. Entendi a reunião como muito positiva”, completou o presidente da Câmara.
Na semana passada, o governo Bolsonaro fracassou em negociações para a importação de 2 milhões de doses da vacina de Oxford produzidas na Índia. O governo indiano divulgou na terça que daria início à exportação de doses da vacina feitas no país, mas o Brasil ficou de fora da lista dos países atendidos.
De acordo com o Blog da Ana Flor, parte do motivo da negativa indiana está na posição brasileira de não apoiar o país asiático em um pedido recente de suspensão temporária das patentes sobre suprimentos para o combate à Covid-19 – incluindo os imunizantes.
De acordo com Maia, na conversa o embaixador chinês não falou em data para liberar o envio dos insumos ao Brasil.
“Eu não entrei em detalhes específicos das datas porque eu acho que não cabe nesse diálogo, mas a impressão que me dá é que o governo chinês sabe da importância dos insumos, não apenas para o Brasil, mas para todos aqueles que produzem [vacina], e vai acelerar o processo interno de tramitação para que possa caminhar logo a exportação dos insumos para a vacinação. Eu fiquei otimista”, disse.
Maia disse ter informações de que não houve até o momento contato de representantes do governo federal com a embaixada da China para tratar do envio dos insumos das vacinas, e lamentou que “a questão ideológica” do governo Bolsonaro esteja prevalecendo sobre a “importância de salvar vidas no Brasil.”
“As informações que tenho, de diálogo com a embaixada, é que, de fato, não houve nenhum tipo de diálogo entre o governo federal e a embaixada chinesa. A informação que eu tenho não foi na conversa com ele [embaixador da China], foi de membros da embaixada. Essa é a informação que eu tenho e, infelizmente, faz sentido. Infelizmente, a questão ideológica tem prevalecido em relação à importância de salvar vidas no Brasil”, disse Maia.