Uma mulher de 63 anos que trabalhou por 41 anos para uma família sem receber salário e sem direito a férias foi resgatada na última segunda-feira (25) por agentes de diversos órgãos federais na Operação Resgate, de combate ao trabalho escravo.
A idosa trabalhava como doméstica em uma casa na Abolição, na Zona Norte do Rio.
Os empregadores da idosa receberam autos de infração e poderão recorrer em liberdade. Um inquérito será instaurado na Polícia Federal.
O Ministério Público do Trabalho buscará uma indenização para a vítima compatível com o período que viveu em situação análoga à escravidão. O órgão também tentará buscar a reinserção dela na sua família de origem, ou mesmo em um abrigo.
Em Vila Isabel, um caso semelhante foi encontrado por auditores fiscais do Trabalho: uma mulher de 52 anos que trabalhava para uma mesma família desde 1989.
A empregada doméstica não tinha folgas e cuidava, além dos serviços de casa, de uma pessoa com Alzheimer. Relatos aos agentes indicam que a última vez que ela saiu da casa foi há seis meses.
A mulher dormia em um colchonete no chão, próximo à cama do paciente de quem ela cuidava, e guardava todos os seus pertences em um armário dentro do banheiro.
Agentes federais afirmam que os patrões até sacaram o Auxílio Emergencial da mulher.
Quando não estava trabalhando na casa, a idosa catava latinhas na rua, mas o dinheiro que ela conseguia era recolhido pelos empregadores.
Em depoimento, a vítima contou que nasceu em São Paulo e trabalhava para a família desde os 22 anos de idade.
Ela relatou que ficava à disposição da família em tempo integral, inclusive cuidando de uma pessoa da família que estava doente. Seu dormitório era um quarto minúsculo e sem luz nos fundos da casa.
O vínculo empregatício da vítima nunca foi registrado na sua carteira de trabalho.
A idosa relatou que entregou seus documentos para que tivesse o Auxílio Emergencial sacado. No entanto, ouviu da empregadora que não teria direito ao benefício porque sua carteira de identidade estaria “velha”.
No entanto, auditores fiscais do Trabalho identificaram que o benefício foi sacado. Em depoimento, a empregadora confirmou que realizou o primeiro saque. As outras parcelas foram recebidas por outras pessoas. Um procedimento foi aberto no banco para averiguação do caso.
A trabalhadora foi acolhida pela assistência social de Cáritas Arquidiocesana, no âmbito do programa Ação Integrada, mantido pelo Ministério Público do Trabalho e em parceria com a Superintendência Regional do Trabalho no Rio.
A operação, que no Rio contou com a Superintendência Regional do Trabalho, ligada à Subsecretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério da Economia, o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal, resgatou trabalhadores nas cinco regiões do país em diversas atividades e com perfil de restados igualmente diverso: trabalhadores rurais, urbanos, domésticos, migrantes, indígenas, adolescentes e portadores de necessidades especiais.
Entre os resultados da operação, que também contou com o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União, estão:
Os trabalhadores resgatados também têm direito ao seguro-desemprego especial para trabalhador resgatado, no valor de três parcelas de um salário-mínimo (R$ 1.100) cada.
Denúncias de trabalho escravo podem ser feitas, de forma remota e sigilosa, no Sistema Ipê, pelo link ipe.sit.trabalho.gov.br.