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Desempregado que caminhava mais de 25 km para entregar currículos consegue 200 entrevistas

Desempregado, Wladmir Rodrigues, de 57 anos, teve história viralizada nas redes sociais, após caminhar mais de 25 km para entregar currículos. — Foto: Cedida

Longas caminhadas sem alimentação e com um único objetivo: encontrar um trabalho. Desempregado há 11 meses, seu Wladmir Rodrigues, de 57 anos, chegou a andar mais de 25 quilômetros a pé, em um único dia, entregando currículos em empresas de Natal e da região metropolitana. Na última quarta-feira (3), porém, a história dele ganhou a internet e gerou muitas mudanças. Ele agora tenta administrar mais de 200 entrevistas de emprego agendadas.

“Muitas pessoas estão oferecendo ajuda, mas o que eu só quero mesmo um trabalho”, disse o homem ao G1.

Tudo começou com uma postagem da psicóloga Ranaruza Costa nas redes sociais. Ela compartilhou a história do contato que teve com o Wladmir em uma passarela na BR-101, em Natal, além de uma foto do currículo dele. “Eu achava que só meus amigos iam compartilhar, mas ganhou uma repercussão muito grande”, disse.

Seu Wladimir passava ao lado de Ranaruza, quando ambos viram um jovem pedinte. O homem lamentou a situação do rapaz, mas disse que, embora não quisesse julgar, não entendia porque uma pessoa tão mais nova não saia para entregar currículos, como ele estava fazendo.

Ao contar para a psicóloga o quanto já havia caminhado naquele dia, ela se comoveu com a história. “Eu só tinha R$ 20 comigo e pensei que, assim como um amiga tinha acabado de me ajudar depositando um valor a mais na minha conta, eu tinha que ajudar. Ele já tinha caminhado mais de três horas. Ele chorou e disse que nunca tinha pedido dinheiro, mas eu disse para aceitar”, relatou.

Wladimir confirma que tentou recusar a ajuda, mas que Ranaruza insistiu e ele acabou aceitando. Com o valor, ele pôde voltar para casa. Natural do Rio de Janeiro, o homem disse que mora há 28 anos no Rio Grande do Norte. Em Natal, trabalhou 18 anos como maqueiro em um hospital que fechou em 2016. Ele diz que até hoje tenta receber os direitos trabalhistas.

“Fiquei trabalhando com bicos na construção civil, mas com a pandemia, ficou mais difícil. Passei 11 meses sem trabalhar e fui despejado da casa onde estava. Outra pessoa me ajudou alugando um a casa onde estou há poucos dias sem eu precisar depositar nenhum valor”, contou.

Diante da situação e sem dinheiro suficiente, o homem começou a fazer longas caminhadas, andando mais de 4 horas para entregar currículos em toda a cidade. “Ia sem alimentação mesmo”, contou. Somente na quarta-feira em que encontrou a Ranaruza, ele entregou mais de 40 currículos.

Ele saia de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana, mais ao norte da capital, atravessava a Natal e chegou a entregar currículos em Parnamirim, outra cidade da região metropolitana, mais ao sul da capital.

Oportunidades

As portas começaram a se abrir depois da postagem nas redes sociais. Além de quase 9 mil curtidas e mais de 500 comentários no perfil da psicóloga – até este sábado (6) – a imagem foi compartilhada por outras páginas da internet. Somente em uma delas, são mais de 94 mil curtidas.

“Já recebi ligações de desembargadores de justiça e até de famosos, como o Gusttavo Lima. Muitas pessoas estão oferecendo ajuda, perguntando do que eu preciso, mas o que eu quero mesmo é um trabalho”, afirmou o homem.

De acordo com Wladmir, ele já tem mais de 200 entrevistas de emprego agendadas para os próximos dias. “Alguns me disseram que teriam vagas em 15 dias, mas a fome e o aluguel não esperam”, declarou ao G1, entre uma entrevista e outra, neste sábado (6).

A situação gerou uma amizade entre Wladmir e Ranaruza, que vêm conversando todos os dias, desde a quarta-feira (3). Tocada pela repercussão, a psicóloga disse que espera que as oportunidades também se revertam para outras pessoas desempregadas.

“Só fiz o que acho que qualquer pessoa faria e, por isso, não esperava tanta repercussão. Se agora ele está com tantas oportunidades, espero que quando ele tiver em um emprego essas outras vagas que surgiram também fiquem abertas para tantas pessoas que estão desempregadas”, disse.