Recuperados tiveram ainda sonolência, falta de equilíbrio e problemas de raciocínio. Levantamento inicial foi feito com 185 pessoas e, atualmente, conta com mais de 480 pacientes.
Um estudo inédito realizado pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, aponta que 80% dos pacientes recuperados de Covid-19 apresentaram disfunções cognitivas, como perda de memória, dificuldade de concentração, problemas com compreensão ou entendimento e dificuldades com o julgamento e raciocínio.
Os pacientes tiveram ainda habilidades prejudicadas, problemas na execução de várias tarefas, mudanças comportamentais e emocionais, além de confusão mental. Um deles, inclusive, esqueceu como pilotava sua moto. Segundo médicos que participaram do estudo, as consequências da doença no cérebro podem ser tratadas se o diagnóstico for precoce.
Os relatos dos pacientes são de, por exemplo, ter esquecido o que almoçou, dormir em pé e desaprender a pilotar moto, por falta de equilíbrio e coordenação. Segundo a pesquisa, realizada pela neuropsicóloga Livia Stocco Sanches, até mesmo pacientes com quadros e sintomas leves ou assintomáticos tiveram sequelas neurológicas.
A pesquisadora alerta, com base no levantamento, sobre a necessidade de se incluir, após a recuperação, uma avaliação clínica dos pacientes, incluindo questões sobre sonolência diurna excessiva, fadiga, torpor e lapsos de memória.
Segundo o Incor, a OMS (Organização Mundial da Saúde) aguarda os resultados finais do estudo para adotar a metodologia desenvolvida na pesquisa do InCor como padrão em âmbito mundial no diagnóstico e na reabilitação da disfunção cognitiva pós-Covid.
Como foi a pesquisa
A pesquisadora usou um jogo mental digital criado por ela em 2010 para avaliar os pacientes de diversas idades e classes econômicas. A primeira fase do estudo foi feita com 185 pessoas, entre março e setembro de 2020. Atualmente, há 430 pacientes em acompanhamento na pesquisa.
Uma das consequências da Covid-19 detectadas no estudo é a diminuição da capacidade visuoperceptiva.
“Muitas pessoas perderam a coordenação motora e caem muito”, diz a médica.
Ela explica que, segundo exames de ressonância magnética funcional, isso acontece porque a função executiva é afetada em pessoas que já contraíram o Sars-Cov-2.
“Em uma pessoa saudável, essa função faz com que ela planeje o dia e busque estratégias para atenuar problemas, por exemplo. Se a pessoa perde essa função ou se ela ficar comprometida, isso pode interferir no trabalho e nas relações sociais, e, com isso, levar à depressão, ansiedade, angústia e agressividade”, diz a médica.
A médica do InCor detalha que as sequelas cognitivas acontecem porque o vírus entra pelas vias aéreas, compromete o pulmão e, com isso, baixa o nível de oxigênio.
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