Coronavírus

Primeira cidade brasileira a vacinar em massa contra Covid, Serrana encerra 1ª fase da imunização neste domingo

População participa de estudo clínico do Instituto Butantan para medir eficácia da vacina na queda da transmissão do coronavírus. Moradores já fazem planos de retomada à normalidade após segunda dose.

Vinicius Alves/G1

Osvaldo Buzato Marcelino, de 82 anos, está na expectativa para participar de vacinação em massa em Serrana, SP

Primeira cidade brasileira a vacinar em massa contra a Covid-19, Serrana (SP) encerra, neste domingo (14), às 15h30, a primeira fase da campanha. A cidade foi escolhida pelo Instituto Butantan para um estudo inédito sobre a eficácia da CoronaVac em populações inteiras.

Desde o dia 17 de fevereiro, quando teve início a vacinação, 26.144 moradores dos 28.380 inscritos foram imunizados, o que corresponde a 92,1% do público-alvo. Distante 315 quilômetros de São Paulo, Serrana tem 45.644 habitantes, dos quais 30 mil estavam aptos a receber o imunizante. O balanço final da campanha deve ser divulgado às 18h30 deste domingo.

O estudo dividiu os voluntários em grupos. O azul, o último a ser vacinado, tem 8.270 cadastrados. Até sábado (13), 6.938 pessoas tinham sido imunizadas, o que representa 83,9% do grupo.

Uma das últimas vacinadas na primeira etapa é a dona de casa Iracema da Silva Cavalheiro, de 72 anos. No sábado, ela recebeu a primeira dose e já faz planos para quando receber o reforço dentro de um mês.

“Eu tenho quatro netos, mas dois são pequenininhos. Então, esses dois pequenos, nossa, isso aí mata a gente de saudade. Coração fica despedaçado, né? Porque eles querem brincar, eles querem abraçar, entende? A vacina é para a gente ficar à vontade, poder abraçar, beijar. Fazer tudo que uma avó tem direito.”

Objetivos da vacina para todos

Ao contrário do restante do Brasil, onde a vacina tem chegado primeiro aos grupos prioritários, em Serrana, as doses chegaram para toda a população adulta porque, em 2020, a cidade foi escolhida para participar de um estudo inédito do Instituto Butantan – o Projeto S.

O objetivo, segundo o centro de pesquisa, é analisar o efeito da vacina aplicada em populações inteiras. Os pesquisadores querem saber se ela é capaz de reduzir a transmissão do vírus, o que pode levar à queda de novos casos e, consequentemente, à redução das internações e de mortes.

Os estudos sobre a eficácia da CoronaVac foram feitos com grupos menores de voluntários, e com menor diversidade de perfis do que a população toda de uma cidade. Por isso, o estudo de Serrana é tão importante.

Que vacina é essa? Coronavac

No ano passado, a cidade realizou um inquérito sorológico, coordenado pela Prefeitura, para saber a prevalência do novo coronavírus na população. A segunda fase desse inquérito estimou que 10,6% dos 160 voluntários tinham sido infectados pelo novo coronavírus e que 2,5% estavam com a doença ativa, ou seja, em condições de transmitir para outras pessoas. O resultado chamou a atenção de pesquisadores.

O comportamento da população também influenciou a escolha. O município tem cerca de 10 mil habitantes que se deslocam diariamente pela região por conta de trabalho, o que pode favorecer a propagação do novo coronavírus.

Além disso, Serrana fica próximo a Ribeirão Preto, importante polo de saúde do país, que fornece estrutura de apoio para a pesquisa.

Adesão

Segundo o último boletim epidemiológico, divulgado no sábado, Serrana já registrou 2.939 casos de Covid-19 e 65 mortes desde o início da epidemia.

maior número de infectados foi registrado em janeiro, com 706 positivos. Antes, o recorde tinha sido em julho do ano passado, quando 376 pessoas ficaram doentes. Já o mês de agosto de 2020 concentra o maior índice de mortes, com 16 registros.

Para a secretária municipal de Saúde, Leila Gusmão, a adesão da população de Serrana à vacinação surpreendeu até mesmo a organização do estudo. Antes do início da campanha, os moradores tiveram que fazer um cadastro, que resultou em 28.380 inscritos.

“Nós imaginávamos que teríamos 60% de adesão e fomos surpreendidos porque, a cada etapa, a gente tem uma adesão de 90%, 92%. Nós estamos bastante felizes, e eu tenho certeza que essa pesquisa vai ser de grande valia para Serrana e para o mundo. A ciência vai contribuir muito com essa pesquisa feita aqui”, diz a secretária.

Moradores formam fila na porta da escola Jardim das Rosas em Serrana, SP, para cadastro da vacinação — Foto: Vinícius Alves/G1

Estavam aptos a receber a vacina todos os moradores com mais de 18 anos, com exceção de grávidas, mulheres que estavam amamentando e pessoas com contraindicação médica. A adesão era voluntária.

A cidade foi dividida em quatro regiões: verde, amarela, cinza e azul. A população de cada uma delas teve cinco dias para procurar um dos oito postos de vacinação e receber a primeira dose.

Imunizados na 1ª etapa

  • Total de inscritos: 28.380 pessoas
  • Grupo verde: 6.225 vacinados de 7.071 inscritos (88%)
  • Grupo amarelo: 6.703 vacinados de 6.720 inscritos (99,7%)
  • Grupo cinza: 5.847 vacinados de 6.319 inscritos (92,5%)
  • Grupo azul: 6.938 vacinados até sábado (12) de 8.270 inscritos (83,9%)

Ao todo, o Butantan reservou 66 mil doses para a primeira e a segunda aplicação. O lote, segundo o instituto, não interfere o fornecimento de vacinas para o Plano Nacional de Imunização (PNI), do governo federal.

De acordo com a secretária de Saúde, a aplicação da segunda dose está prevista para começar na próxima semana e seguir até o fim de abril.

“A transmissão do vírus a gente não consegue medir ainda. Como foi feita a primeira dose, a gente ainda não tem essa percepção [queda ou alta]. A gente imagina que isso vai melhorar com a segunda dose, porque a segunda dose ela vem para diminuir [internações] nos leitos de UTIs, de enfermaria, sintomas mais leves. É isso que a gente acredita, é isso que a gente espera. E não pegar de jeito nenhum, na verdade, né?”

Os resultados da pesquisa, de acordo com o Butantan, devem ser conhecidos em maio.

Esperança e otimismo

Recentemente, um estudo do Hemocentro de Ribeirão Preto apontou que a variante brasileira já circula na cidade. Na semana passada, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que a CoronaVac é eficaz contra as novas cepas.

A secretária de Saúde acredita que a piora da epidemia no Brasil tenha motivado as pessoas a buscarem ainda mais a vacinação.

Em um ano, o piloto de helicópteros Anderson Teixeira da Silva, de 38 anos, viu a rotina mudar por completo por causa da Covid-19. As viagens de férias em família, para o Nordeste e para o exterior, tiveram que ser canceladas. Anderson já foi vacinado e a expectativa dele é que mais e mais pessoas sejam alcançadas.

“É rezar para o mínimo de pessoas possível pegarem, ficarem doentes, seguirem os protocolos de segurança. Torcer para que a vacina chegue antes para todo mundo. Nós não podemos pensar só na gente, mas sim num todo, para todas as pessoas do país.”

Janilson Correia de Aguiar mostra o cartão de vacinação em Serrana SP — Foto: Vinícius Alves/G1

O churrasco com os amigos e os passeios em família estão na lista de desejos do operador de máquinas Janilson Correia de Aguiar, de 49 anos, para quando o efeito da vacina for realidade.

“Eu acho que a vacina vai melhorar muito a vida da gente, porque a única coisa para combater é só a vacina. E esse é o momento. Eu estava na expectativa para tomar”, diz.

A mulher de Janilson chegou a ser diagnosticada, teve sintomas leves e está curada. O casal já foi vacinado.

“Acho que a gente foi privilegiado por esse projeto. Tem lugar aí que está morrendo gente e não tem nem vacina. Para nós, com esse projeto, eu acho que foi beneficiado, né?”

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