O juiz Luiz Antonio Bonat, da 13ª Vara Federal de Curitiba, manteve o bloqueio de bens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao enviar os processos envolvendo o petista à Justiça Federal do Distrito Federal.
Bonat enviou à Justiça do DF as ações penais que tratam de irregularidades na compra do terreno para a construção do Instituto Lula e doações feitas pela Odebrecht ao instituto. O juiz determinou ainda que 36 processos relacionados a essas investigações também sejam encaminhados ao DF.
O envio dos processos do ex-presidente atende a uma determinação do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Na segunda-feira da semana passada, Fachin determinou a anulação de quatro ações penais envolvendo Lula ao entender que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era competente para julgar os casos.
A determinação de Fachin atendeu a um pedido feito pela defesa do ex-presidente, que argumentou que os casos não tinham relação direta com a Petrobras — o que contrariava o entendimento da Corte segundo o qual os casos relacionados diretamente à estatal devem ser julgados em Curitiba.
Já as ações nas quais Lula havia sido condenado envolvendo o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia estão no Superior Tribunal de Justiça (STJ), de acordo com a defesa do ex-presidente. Os advogados explicam que caberá agora ao STJ remeter as duas ações penais à Justiça do DF.
Ao determinar o envio das ações que tratam sobre o Instituto Lula, Bonat manteve o bloqueio de bens do ex-presidente. Em seu despacho, explicou que os bloqueios não foram ordenados especificamente nessas ações penais.
“Tendo por base os estritos limites da decisão do Exmo. Ministro Edson Fachin, manterei os bloqueios durante a declinação, ficando o Juízo declinado responsável pela análise acerca da convalidação das decisões que autorizaram as constrições cautelares”, escreveu o juiz.
A defesa do ex-presidente informou que analisa a decisão de Bonat com relação à manutenção do bloqueio dos bens de Lula antes de se pronunciar sobre uma eventual contestação.
Sorteio
Assim que chegarem à Justiça Federal do Distrito Federal, as ações penais envolvendo o ex-presidente serão sorteadas entre quatro juízes que atuam em casos relacionados a crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O sorteio da relatoria será feito entre os magistrados da 10ª e 12ª Varas Federais do DF. Podem herdar os casos do ex-presidente os juízes da 10ª, Vallisney Oliveira e Ricardo Leite, ou os juízes Marcus Vinicius Bastos e Pollyanna Kelly, da 12ª Vara.
A 10ª já tornou Lula réu em quatro casos no passado. Em um deles ele foi absolvido e o outro, trancado. O titular da 10ª é o juiz Vallisney Oliveira, considerado de perfil “linha-dura”. Ele atua hoje no gabinete do ministro Francisco Falcão, do STJ, mas segue sentenciando casos.
Em 2018, Vallisney condenou o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha a 24 anos e 10 meses por violação de sigilo, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro. Em janeiro deste ano, condenou a mãe do ex-ministro Geddel Vieira Lima, de 82 anos, a 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Ricardo Leite é juiz substituto na 10ª Vara. Atualmente é responsável pela Operação Spoofing, que investiga o grupo hacker que invadiu o celular de autoridades. Em julho de 2018, Leite absolveu Lula em uma ação por compra do silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró alegando falta de provas.
Já a 12ª Vara tornou Lula réu no caso que ficou conhecido como “quadrilhão do PT”. Lula, Dilma Rousseff, Guido Mantega, Antonio Palocci e João Vaccari Neto foram absolvidos em dezembro de 2019. O juiz do caso foi Marcus Vinicius Bastos, considerado de perfil garantista — mais preocupado com os direitos dos réus.
Em janeiro, Bastos anulou provas da Lava Jato em uma investigação que mirava Palocci e Mantega. Argumentou que o STF havia considerado Curitiba incompetente e, por isso, as provas deveriam ser anuladas.
Em outubro de 2019, Bastos também absolveu o ex-presidente Michel Temer da acusação de obstruir Justiça por meio de suposta compra do silêncio do então presidente da Câmara Eduardo Cunha. Para o juiz, o diálogo com Joesley Batista não indicou cometimento de crime.
Substituta da 12ª, a juíza Polyanna Kelly também é considerada “linha-dura”. Ela atuou em um caso de corrupção nas obras do estádio Mané Garrincha e foi responsável pela Operação Registro Espúrio, que investigava esquema no Ministério do Trabalho de Temer.