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Jovem de 22 anos é a primeira pessoa a morrer à espera de leito de UTI em SP

Renan Ribeiro Cardoso morreu de Covid, aos 22 anos, esperando por leito de UTI em SP — Foto: Arquivo Pessoal

A primeira morte por falta de leito de UTI para pacientes com Covid-19 na cidade de São Paulo foi confirmada nesta quinta-feira (18) pelo prefeito Bruno Covas (PSDB).

Vítima da doença, Renan Ribeiro Cardoso, de 22 anos, morreu na tarde do último sábado (13), dois dias após dar entrada no Pronto Atendimento de São Mateus, na Zona Leste da capital paulista.

Ele chegou à unidade em estado grave e foi atendido. Segundo a Prefeitura, foi um pedido de vaga no Sistema Cross, que regula vagas SUS no estado, mas não foi disponibilizado a tempo.

Em entrevista à TV Globo na segunda-feira (15), a mãe de Renan, Maria de Jesus Ribeiro Andrade, disse que chegou a falar com o filho por uma videochamada logo após a confirmação do diagnóstico.

“Não deu tempo por falta de socorro. Por falta de oxigênio, o meu filho não está aqui.”

 

Renan falou com a família enquanto estava internado — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o relatório médico, Renan deu entrada na UPA na noite de 11 de março, com dificuldade de respirar.

Foram feitos exames e ele foi mantido em observação. No dia 12, a unidade solicitou vaga para o Cross, que foi liberado às 17h38 do dia 13. Renan morreu às 17h19 do mesmo dia.

De acordo com o documento, Renan teve uma piora no “quadro respiratório” e, por não ter ventiladores disponíveis, o pedido ao Cross foi atualizado como “urgência”. Ainda na tarde do dia 13, Renan foi intubado, mas teve parada cardiorrespiratória.

Um grupo de motociclistas fez uma corrente de oração em frente à casa de Renan. Érica Cardoso, prima de Renan, conta que ele ficou em uma cadeira de rodas, porque não tinha leito, nem maca para que ele se acomodasse.

Maria de Jesus fez um apelo a todos. “Gente, não deixem mais nenhuma mãe, nenhum pai sofrer o que eu estou sofrendo pela perda do meu filho.”

Hospitais lotados

A capital está com 88% dos leitos de UTI ocupados. “Infelizmente, nós tivemos o primeiro caso, na Zona Leste de São Paulo, uma pessoa faleceu sem conseguir atendimento aqui na cidade. Infelizmente a gente vê colapsando o sistema de saúde”, afirmou.

“As vagas são em hospitais permanentes e não mais em hospitais de campanhas. Entregamos nove hospitais. A continuar o crescimento dessa curva, só vamos ver ampliar esses casos de pessoas que não conseguem leitos de UTI. Só ontem, eram 395 pessoas aguardando leitos. Um momento triste, difícil”, afirmou o prefeito.

No estado, ao menos 79 pessoas com Covid-19 ou suspeita morreram na fila por um leito de UTI.

A explosão de casos atinge também a rede privada da capital. Nesta semana, hospitais particulares pediram 30 leitos do SUS à Secretária Municipal da Saúde. “Algo inédito”, disse o secretário Edson Aparecido.

O prefeito defendeu a importância do respeito às medidas de distanciamento social e afirmou que o município não tem condições de ampliar a rede de assistência na mesma velocidade da contaminação.

“Há um limite. A gente não consegue dobrar, triplicar, quadruplicar a quantidade de leito, as pessoas precisam respeitar o isolamento social para a gente diminuir a contaminação. Essa segunda onda mudou o quadro que nós enfrentamos no ano passado.”