Celebridades

Mc Serginho nega convites de shows em meio a Covid-19: “Não quero exterminar uma família”

Funkeiro, que ficou conhecido pelo hit 'Eguinha Pocotó', falou sobre relação com Lacraia, relembrou a fama e contou da dificuldade por estar há um ano sem fazer shows por causa da pandemia

Reprodução

Mc Serginho

Mc Serginho, que fez sucesso no começo dos anos 2000 com músicas como Eguinha Pocotó, ainda se emociona quando fala do nome de Lacraia, ex-companheira de palcos. O artista conta que ainda sente uma conexão muito grande com a dançarina, que morreu de tuberculose, aos 33 anos, em 2011.

“Ainda é muito difícil falar da Lacraia, é uma emoção muito grande. Até hoje quando estou me arrumando para um trabalho, lembro dela, de quando eu passava na casa dela para pegá-la para ir ao aeroporto”, diz ele, sem conter as lágrimas. “Tenho muita gratidão pelo o que ela fez por mim e tenho certeza de que ela tem por mim. Meu amor pela Lacraia se estende para a eternidade. Um dia a gente ainda vai se reencontrar.”

Ele conta que recebe muitas mensagens da amiga, do outro plano, e que pessoas que assistiam aos seus shows relatam que já viram o espirito de Lacraia no palco.

“Recebo bastante mensagem dela. Todo lugar que vou tem alguém que vem me falar que viu a Lacraia dançando atrás de mim ou olhando para mim. A Lacraia é um ser de luz. Sempre levou alegria para o mundo”, conta.

Lacraia e Mc Serginho (Foto: Reprodução/Instagram)

SUCESSO

Os dois tiveram que vencer muitos preconceitos no começo da carreira. Serginho lembra que as pessoas questionavam se os dois eram um casal e que foi complicado quebrar as barreiras que as pessoas tinham com transexuais.

“Naquela época as pessoas tinham medo e vergonha de falar da orientação sexual. Sofriam preconceito. A gente era vizinho e resolvi chamar a Lacraia para fazer show comigo. No começo, achavam estranho. Tinha gente que falava: ‘Você vai levar esse viado escroto para o seu show?’. Tinha gente que dizia que eu era gay também, que a gente namorava… Eu sempre respondi com respeito. Depois entenderam que a gente era irmão”, relembra ele, que já era conhecido por Vai, Serginho.

Mc Serginho e Lacraia (Foto: Reprodução/Instagram)

Até hoje Serginho é muito querido pela comunidade LGBTQI+ e recebeu recentemente até uma homenagem da ONG AgAnim. “Recebo muito carinho da comunidade LGBT ainda hoje e tenho muito carinho também por ela. Tanto é que nem cobro quando faço shows nas paradas gays.”

Com o sucesso, que também veio com a canção Vai, Lacraia, Mc Serginho e sua colega de palco viajaram cinco vezes para a Europa. Ele deixou de ser frentista e conseguiu dar um uma qualidade de vida para a família, mas afirma que não se deslumbrou com a fama e nem que ficou rico.

“Minha vida mudou totalmente. Eu era frentista e, de repente, estava cantando para todo mundo. A gente melhorou de vida. Viajei cinco vezes para a Europa com a Lacraia e só não fui mais vezes porque recusei convites. Quando um frentista, sem formação escolar, poderia sonhar em conhecer a Europa?”, conta.

“Mas o sucesso nunca subiu à cabeça. Qualquer artista que ficava famoso arranjava um segurança. Era a primeira coisa que eles faziam. A gente nunca teve segurança e nem camarim. A gente ficava no meio do povo. Não tinha essa de ostentação. Até porque isso é uma afronta em um país. As pessoas não têm nem o que comer e tem artista ostentando carrão, cordão de ouro… Isso é uma afronta. Tem muitos jovens que caminham para o lado errado da vida porque querem ostentar também, mas não são jogadores e nem funkeiros e apelam para o crime. Então, não acho legal essa ostentação. Meus pais, Marcos e Gerusa, que já se foram há mais de dez anos, me educaram muito bem e me fizeram essa pessoa que sou hoje, uma pessoa do bem. Não bebo nada alcoólico. Os pais dão a direção e a gente escolhe o caminho”, explica ele, que se orgulha de agora estar formando a filha Caroline em Propaganda e Marketing. “Isso sim é investimento legal.”

Mc Serginho com a filha Caroline (Foto: Reprodução/Instagram)

SEM LACRAIA

Em 2009, Lacraia decidiu seguir carreira solo. Serginho disse que nunca ficou chateado com ela, apesar de ter sido complicado continuar sem a parceira no palco.

“Foi bem difícil seguir sem ela. Só continuei porque não tive formação escolar e não tinha como fazer outra coisa. Mas entendi que era o ciclo normal da vida quando ela disse que queria ser DJ. Muitas amizades acabam por vaidade, mas eu e a Lacraia nunca tivemos vaidade. Seguimos amigos. Até hoje encontro a mãe e a irmã dela. São duas guerreiras.”

NOVA FASE DO FUNK

Antes da pandemia, Serginho estava se dedicando ao stand up funk, um show com músicas e bastidores divertidos do universo do funk. Ele conta que hoje em dia é chamado por muitos novos funkeiros, de forma pejorativa, de relíquia.

“Tenho 20 anos de carreira. Uma música que faz alguém sorrir é bem diferente de uma que manda a novinha fazer isso ou aquilo. Eu penso que se você não quer que a novinha da sua casa faça isso, para que cantar para a novinha da casa dos outros fazer? Hoje você vê o artista surgir e não vê longevidade. O funk de hoje tem que ser repensado. Não está legal! Tem que repensar o estilo. Muitos falam que somos relíquia. Falam de forma pejorativa, mas se esquecem que Eguinha Pocotó, Vai, Lacraia e Vai Serginho tocam até hoje. Como um chefe de família vai botar um música que manda a novinha, filha dele, sentar? Não dá”, analisa.

“Tenho várias músicas novas e o stand up funk em que vou contando histórias das músicas e composições. O pessoal além de se divertir com as histórias, dança e canta. É legal poder fazer o povo curtir. Hoje você não se diverte mais no baile funk como antes. Estamos resgatando a alegria da história do funk.”

Mc Serginho (Foto: Reprodução/Instagram)

PANDEMIA

Sem fazer shows há um ano, Serginho tem vivido do trabalho como radialista. Ele tem dois programas de rádio, espaço que também usa para conscientizar as pessoas a respeitar as medidas de segurança para evitar o contagio com a Covid-19.

“Está muito difícil. Estamos todos com medo, até mesmo porque nem todos estão seguindo as regras. Às vezes, você está fazendo a coisa certa, mas o seu vizinho ou até mesmo familiar não está. Alguns artistas deveriam colocar a mão na consciência quando dizem que pode ir ao show, porque vai seguir o protocolo de segurança. É claro que não vai! Não tem como ter distanciamento social, álcool gel e máscara em show. Não faço show há um ano e o pior é que tenho recebido convites, mas tenho negado porque tenho que preservar a mim mesmo, a minha família e aos meus fãs. Não quero ser responsável por exterminar uma família”, avalia.

Por causa do maior aperto financeiro, Serginho não tem conseguido fazer ações solidárias como antes. “Eu estou vivendo do meu trabalho como radialista. Infelizmente, o retorno financeiro por direitos autorais só vale para Chitãozinho e Xororó. Para funkeiro não tem essa, não. A gente está passando muita dificuldade para ajudar. Quem tinha um pouco sobrando estava ajudando, mas agora a gente está com dificuldade de comprar cesta básica e remédios. Oro a Deus para essa vacina chegar logo e para Deus proteger esses trabalhadores que têm que pegar transporte público lotado para ir trabalhar”, explica ele, que pode receber doações para moradores do Jacarezinho e região pelo WhatsApp que tem em seu perfil no Instagram.

“Eu agradeço a Deus por estar vivo. Acredito que vai passar porque o choro dura uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Se alguém quiser ajudar, seja de qualquer lugar do Rio, é só me mandar um WhatsApp que eu vou buscar. Ajudamos muitas comunidades aqui vizinhas do Jacarezinho, mas no momento estamos de pés e mãos amarrados.”