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Jovem que homenageou mãe faxineira em formatura ganha bolsa de estudos para mestrado em pedagogia

Gesto de Roberta Mascena impactou milhares de pessoas, que conheceram um pouco da vida dura da mãe Marlene, moradora de Santos, no litoral paulista.

Família conversando com o mantenedor da Unimes, Rubinho Viegas — Foto: Divulgação/Unimes

A história de vida de Roberta Mascena ficou conhecida nacionalmente após a jovem vestir o uniforme de faxineira da mãe, Marlene Cordeiro de Oliveira, para homenageá-la durante a sessão de fotos da sua formatura. O gesto impactou milhares de pessoas, que conheceram um pouco da vida dura da família. Agora, Roberta ganhou uma bolsa de estudos para um mestrado, para que possa se tornar professora universitária no futuro, outro sonho que começou a virar realidade.

A jovem pedagoga viveu por quatro anos nos corredores da Universidade Metropolitana de Santos, no litoral de São Paulo, onde conseguiu se formar com a ajuda dos pais e homenageou a mãe Marlene, que sempre foi um símbolo de luta e amor para ela. A nordestina parou de estudar aos 13 anos, mas retomou os estudos com a ajuda da filha, e pagou a faculdade dela.

Ao ver a reportagem no G1, o mantenedor da faculdade, Rubinho Viegas, ficou comovido com o gesto da ex-aluna, e resolveu conceder uma bolsa de estudos para o mestrado em Práticas Docentes no Ensino Fundamental. A jovem e a mãe foram até a universidade receber a notícia.

“Com todas as dificuldades que a área acadêmica enfrenta, com cortes de bolsas, de benefícios aos estudantes e aos professores, que a gente teve nos últimos tempos, eu não esperava tão cedo conseguir continuar estudando, ou até mesmo fazer um mestrado. Não era o que eu estava esperando para 2021, no meio de uma pandemia, ainda. Eu fiquei extremamente feliz”, conta Roberta.

Marlene, por sua vez, não segurou as lágrimas de emoção. Ela recebeu o abraço acolhedor da filha e as palavras do mantenedor. Viegas conta que se identificou com história dela, que é semelhante à de sua mãe.

“Ela foi batalhadora, assim como a Dona Marlene, trabalhou muito para construir a Unimes. Mas nada foi fácil. Veio a Santos com uma mão na frente e outra atrás, lecionava em diversas escolas, até fundar a primeira faculdade de educação física do Brasil, alugando um espaço no Brasil Futebol Clube, até criar outros cursos, que mantemos até hoje”, lembrou.

Para Roberta, a bolsa de estudos é resultado da homenagem que fez à mãe, mas, também, do envolvimento da universidade com os alunos. “A faculdade tem essa característica, de estar ao lado do aluno, ajudando da maneira que pode. Isso foi muito legal da parte deles, eles terem se sensibilizado com a história e me proporcionado isso, de continuar estudando”, fala.

Após se formar, em 2020, Roberta trabalhou como voluntária em outras áreas, e deu aulas particulares. Por conta da pandemia, com as escolas fechadas, ela não teve muitas oportunidades para atuar na área da educação, e teve de lidar com a incerteza do futuro como professora. O jeito foi iniciar projetos virtuais.

“Eu iniciei um projeto no Instagram para promover conteúdos voltados à área da educação, cultura e arte, chamado Movimentando Ideias. A educação está mudando muito, por conta da tecnologia. Me adequar às novas tecnologias, à essa nova era, também é um foco”, conta.

Agora, a jovem pretende conciliar o novo projeto com os estudos. Roberta acredita que o mestrado vai ampliar o conhecimento dela, abrir portas para que ela possa trabalhar em diversos ambientes, e prepará-la para atuar em universidades, na formação de novos professores. Ela, que foi a única da família a concluir o Ensino Médio no ensino regular, sonha, agora, com o diploma de mestre.

“Estou preparada para viver esse momento da minha vida, e muito feliz, também. Como Paulo Freire já dizia, a educação transforma as pessoas, e as pessoas transformam o mundo. Eu estou aqui para isso, para ser um personagem de transformação, para auxiliar as pessoas, para levar esperança, histórias de famílias como a da minha mãe, para ajudar crianças que também precisam, nas periferias, levar conhecimento para os caiçaras. Essa é a minha missão como professora: auxiliar na transformação do mundo”, conclui.