Política

Pfizer diz que Carlos Bolsonaro e Filipe Martins participaram de reunião sobre vacinas

Confirmação da presença do filho do presidente da República e do assessor especial da Presidência foi feita pelo gerente-geral da Pfizer, Carlos Murillo, durante seu depoimento à CPI da Covid.

Caio Cesar/CMRJ

O vereador Carlos Bolsonaro no plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2019

O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, confirmou nesta quinta-feira (13) à CPI da Covid a participação do vereador Carlos Bolsonaro e do assessor especial da Presidência Filipe Martins em reunião com a empresa durante as tratativas sobre a venda de vacina.

Murillo foi convocado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito como testemunha. Este é o sexto dia de depoimentos da CPI do Senado que apura ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de Covid e eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios.

“Sobre as reuniões me foi solicitado procurar informações sobre a reunião que nossa diretora jurídica teve com o senhor Fabio Wajngarten no dia 7 de dezembro. Então, se me permitir, posso relatar o que ela oficialmente enviou para mim”, disse.

“Após aproximadamente uma hora de reunião, Fabio [Wajngarten] recebeu uma ligação, sai da sala e retorna para reunião. Minutos depois entram na sala de reunião Filipe Garcia Martins e Carlos Bolsonaro. Fabio explicou a Filipe Garcia Martins e a Carlos Bolsonaro os esclarecimentos prestados pela Pfizer até então na reunião. Carlos ficou brevemente na reunião e saiu da sala. Filipe Garcia Martins ainda permaneceu na reunião”, contou Murillo à CPI.

A informação sobre a reunião foi repassada por Shirley Meschke durante o depoimento de Murillo à CPI. No início da sessão, ele havia sido questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a participação de Carlos e Filipe em reuniões com representantes da empresa.

A cúpula da comissão busca apurar a existência de um “assessoramento paralelo” do governo, conforme apontou o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, na definição do enfrentamento à pandemia.

Murillo disse que não poderia confirmar a participação dos dois em reuniões das quais não participou e chegou a dizer que a empresa somente tratou com “autoridades oficias do governo do Brasil”. O relator, então, ameaçou convocar as duas representantes da Pfizer para prestar esclarecimentos. Duas horas depois, o gerente-geral da farmacêutica confirmou a presença de Carlos e Filipe Martins.

Segundo o executivo, entre os participantes da reunião estavam: o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten; a diretora jurídica da empresa, Shirley Meschke; e a gerente de relações governamentais Eliza Samartini.

O encontro aconteceu no Palácio do Planalto e tinha como objetivo discutir entraves relacionados aos aspectos legais da aquisição do imunizante.

O governo brasileiro justificava que a farmacêutica tinha “cláusulas leoninas” para rejeitar a compra da vacina. Conforme Murillo contou à CPI, foram ao menos seis ofertas do imunizante, feitas a partir de agosto de 2020, antes de o país firmar o contrato. Ao fim, não houve alterações contratuais e as cláusulas foram acatadas.

Wajngarten

Em depoimento à comissão nesta quarta-feira (12), Wajngarten negou ter negociado a aquisição de vacinas e, ao ser perguntado sobre as reuniões com Carlos, respondeu que “nunca foi próximo” do vereador.

“Nunca fui próximo dele, nunca tive intimidade com ele, nunca tive relação qualquer com ele”, afirmou.

À comissão, o ex-secretário de Comunicação evitou dizer quantas vezes tinha se encontrado com Carlos Bolsonaro. Afirmou que falava com o vereador com “nenhuma frequência” e “muito pouca frequência” e ressaltou um “distanciamento” do filho do presidente.

“A minha origem é São Paulo, da qual o Deputado Eduardo Bolsonaro me conhecia. Eu nunca tive contato com o filho do Presidente, do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro”, afirmou. Wajngarten afirmou ainda que o vereador “nunca teve” função no Palácio do Planalto.

Ainda na quarta, a CPI ameaçou mandar prender Wajngarten. Senadores consideraram que ele mentiu à comissão — na condição de testemunha, o depoente assume o compromisso de dizer a verdade.

A comissão acabou decidindo enviar o depoimento do ex-secretário ao Ministério Público para apurar se o empresário cometeu o crime de falso testemunho.