Coordenador da junta de especialistas que aconselha o ministério diz que 4 dos 7 capítulos de novo protocolo serão apresentados na quinta para a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec); texto será colocado em consulta pública e depois pode vir a ser adotado como uma nova orientação do governo federal.
Um grupo técnico organizado pelo Ministério da Saúde elaborou um documento preliminar com orientações sobre uso da cloroquina, azitromicina, ivermectina e outros medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 no tratamento de pacientes hospitalizados por causa da doença.
O texto será agora analisado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Ele será colocado em consulta pública por um período de 10 dias e depois pode vir a ser adotado como uma nova orientação do governo federal sobre o tema.
Chamado de “Diretrizes Brasileiras para Tratamento Hospitalar do Paciente com Covid-19”, o documento foi inicialmente divulgado pela “Folha de S. Paulo” e também obtido pela TV Globo. O parecer também aborda outros medicamentos sem eficácia comprovada contra o Sars-Cov-2 até então defendidos pelo governo e pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Alguns medicamentos foram restados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população”, aponta o documento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem alertando desde o segundo semestre do ano passado que a cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina não tem eficácia comprovada contra a Covid-19 e podem provocar efeitos colaterais.
Objetivo: protocolo de tratamento hospitalar
De acordo com o coordenador do estudo, o pneumologista Carlos Carvalho, o ministro da Saúde pediu a formação de um grupo técnico com representantes das principais entidades e associações médicas para definir um protocolo de atendimento hospitalar. Quatro dos sete capítulos previstos foram já redigidos e serão apresentados ao Conitec na quinta-feira (20).
O debate sobre a inexistência de um protocolo único foi levantado pela médica Ludhmilla Hajjar, que recusou o cargo de ministra da Saúde, defender que é função do Ministério da Saúde orientar equipes médicas sobre a melhor forma de atender pacientes com Covid-19. Diversas sociedades médicas concordaram e apontaram a falta das orientações unificadas.
“O tratamento pré-hospitalar não entrou nessas recomendações.” – Carlos Carvalho, coordenador de grupo de estudo para criação de protocolo hospitalar sobre a Covid.
Mudança de posição
Se a indicação for formalizada, será a primeira vez em mais de um ano de pandemia que o Ministério da Saúde vai divulgar um documento desaconselhando tais drogas para tratar a Covid-19.
Em maio do ano passado, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello mudou o protocolo do Ministério para permitir a prescrição de cloroquina para pacientes com sintomas leves da Covid-19, como queria Jair Bolsonaro.
Em setembro, aliás, durante a posse de Pazuello como ministro da pasta, o presidente da República se referiu a si mesmo como “doutor Bolsonaro” e fez propaganda da hidroxicloroquina exibindo uma caixa do medicamento à plateia.
Em 6 de maio, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga prestou depoimento na CPI da Covid no Senado. Questionado sobre se a cloroquina deve ser usada para tratar a Covid, ele alegou que a questão deve ser decidida pela Conitec.