Episódios foram em 2016, quando a vítima tinha 3 anos. Policiais especializados conseguiram 'reativar algumas memórias' e afirmam que a criança chegou a ser sufocada com um saco na cabeça.
A Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav-RJ) indiciou novamente o vereador carioca Dr. Jairinho por tortura majorada — desta vez, no inquérito sobre agressões contra Enzo, filho da então amante Débora Melo Saraiva. Ela foi indiciada por omissão.
Jairinho já é réu e está preso pela morte de outro enteado, o menino Henry Borel.
Dr. Jairinho e Débora começaram a se relacionar no final de 2014 e ficaram juntos seis anos.
Segundo as investigações, na época das agressões contra Enzo, em 2016, o menino tinha 3 anos. O delegado Adriano França explicou que Enzo e a irmã foram ouvidos por policiais especializados, que conseguiram “ativar algumas memórias”.
“A criança reviveu parte de episódios sofridos, como: sufocamento com saco na cabeça, pisões na barriga e uma grave fratura de fêmur”, disse França.
Débora depôs duas vezes na Dcav. Na primeira, no dia 22 de março, Débora afirmou que o relacionamento com Jairinho era conturbado, mas não relatou nenhuma agressão.
No dia 16 de abril, porém, a ex-amante de Jairinho mudou a versão e disse que foi agredida pelo vereador. Ela também relatou que Enzo apanhou dele – confirmado à TV Globo por uma ex-funcionária (relembre no vídeo abaixo).
Fratura ao tentar fugir
Com base nos depoimentos de Enzo, a polícia descobriu que um “acidente automobilístico” foi a desculpa dada por Jairinho e Débora para um episódio de agressão — do qual o menino saiu com a perna quebrada.
“Com medo, a criança vomitou no carro e, na tentativa de fugir, caiu do veículo e sofreu a lesão grave, ficando imobilizado com gesso por cerca de dois meses”, detalhou o delegado.
Nos documentos enviados à polícia pelo Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, há relatos de uma psicóloga de que Enzo não queria entrar no carro em que se acidentou.
No prontuário, além da fratura, também constavam hematomas nas bochechas e assaduras nos glúteos, “comprovando que a criança foi vítima de um algoz implacável”, segundo a polícia.
“Ademais, o casal indiciado alegou no hospital que o fato teria decorrido de ‘acidente automobilístico’, ou seja, fizeram inserir informação falsa em documento público”, destacou França.
Por essa razão, Jairinho e Débora também foram indiciados por falsidade ideológica.
Omissão da mãe
Débora foi indiciada por omissão porque, segundo as investigações, “não comunicou o episódio do carro às autoridades nem à equipe de profissionais de saúde que atendeu a criança”.
Ainda de acordo com a Dcav, mesmo após uma agressão contra Enzo em casa, Débora permitiu que Jairinho saísse com o garoto, “sofrendo um novo episódio de intensa dor e sofrimento”.
“Débora continuou a ficar na condição de amante até o fim de 2020, ainda com alguns encontros esporádicos em 2021, preferindo ‘fingir’ que nada aconteceu com seu filho”, afirmou o delegado.
“A apuração isenta e imparcial não se baseia em ‘fofocas ou ouvi-dizer’, mas em provas técnicas, documentais e testemunhais, que demonstraram de forma cabal que ela tinha conhecimento ao menos da fratura do fêmur”, destacou França.