Morte da criança foi confirmada por volta das 10h20 pelo comandante do Corpo de Bombeiros, após mais de 7 horas de buscas; pai foi localizado duas horas depois. Quatro pessoas foram resgatadas com vida.
Pai e filha morreram no desabamento de um prédio de quatro andares em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, na madrugada desta quinta-feira (3). Outras quatro pessoas ficaram feridas, entre elas a mãe da criança morta.
Vítimas do desabamento Kiara foi resgatada com vida; a pequena Maitê e o pai, Natan, foram encontrados mortos
Os mortos são Natan Gomes, que tem cerca de 30 anos, e sua filha Maitê, de aproximadamente 3 anos de idade. Eles são marido e filha de Kiara Abreu, última vítima resgatada com vida e levada para o Hospital Miguel Couto, na Zona Sul do Rio.
Os três eram os últimos soterrados, mas os bombeiros seguiram no local após a retirada dos corpos de pai e filha.
Quem são as vítimas resgatadas com vida:
A morte de Natan foi confirmada por volta do meio-dia, após cerca de nove horas de buscas e duas horas depois de confirmada a morte da criança, cujo corpo foi retirado dos escombros por volta das 10h20.
Oito famílias afetadas por desabamento
O prédio que desabou fica na Rua das Uvas, esquina com Avenida Areinhas. Ruas no entorno foram interditadas para os trabalhos de resgate.
No primeiro andar do prédio funcionava uma lan house, que seria administrada por Natan. Ele morava com a mulher e a filha em um pavimento superior. Ainda não há informação se as outras três vítimas que foram resgatadas com vida pertenciam à mesma família.
De acordo com a Prefeitura, oito famílias foram afetadas pelo desabamento e estão recebendo apoio do governo municipal.
“São oito núcleos familiares: três no predinho, e mais cinco famílias nos prédios em frente, que foram afetadas diretamente pelo desabamento”, afirmou Laura Carneiro, secretária de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro.
“Todas estão cadastradas, o Estado ofereceu aluguel social, muitas delas têm onde ficar. Eles estão recebendo colchonete, cestas básicas e alimentação. Nosso posto avançado ficará aberto 48h no salão de festa da comunidade em revezamento de servidores para atender a=às famílias.”
O que se sabe até agora
Três vítimas foram resgatadas ainda na madrugada. Uma quarta vítima foi retirada dos escombros por volta das 9h20, seis horas após o desabamento.
Foto: Reprodução / TV Globo
Local de difícil acesso
Inicialmente, o Corpo de Bombeiros havia falado em 12 pessoas resgatadas. A informação foi atualizada no começo da manhã pelo comandante da corporação, coronel Leandro Monteiro, que confirmou o resgate de apenas três vítimas na madrugada. Na ocasião, ele também afirmou que pelo menos outras três estariam sob escombros aguardando o resgate.
“O que posso afirmar é que estamos em contato direto com uma vítima feminina. O local é de difícil acesso, de risco para os bombeiros – eles estão trabalhando sob os escombros e equipados com equipamento de segurança individual. É um trabalho de muita calma, muita paciência, nossos cães estão nos ajudando bastante” afirmou o comandante.
Seis ambulâncias e aeronave dos bombeiros
Segundo o coronel, seis ambulâncias foram enviadas ao local e uma aeronave da corporação ficou de prontidão nas imediações. Ao todo, 112 bombeiros foram envolvidos nos trabalhos de busca e resgate.
“A maior dificuldade é conscientizar os moradores dos prédios vizinhos a deixarem suas casas e seguirem para um local seguro”, enfatizou.
A Defesa Civil foi ao local, e os técnicos avaliam os danos que foram causados em outros quatro imóveis, vizinhos ao que desabou – um ao lado direito e três em frente.
Incêndio após desabamento
Equipes de três quartéis do Corpo de Bombeiros – Barra da Tijuca, Alto da Boa Vista e Jacarepaguá – trabalharam no local à procura de vítimas. Equipes da Assistência Social, Defesa Civil e Guarda Municipal também foram deslocados para a região.
Moradores de imóveis vizinhos disseram que começaram a ouvir estalos por volta de 2h e o imóvel ruiu por volta de 3h20. Também relataram que, após o desabamento, houve um incêndio no local. O fogo foi controlado pelos bombeiros.
“Eu pensei que era o transformador que tinha estourado, mas não. Depois que todo mundo desceu chorando e gritando, aí a gente veio pra rua e viu que o prédio desabou”, contou uma moradora da região que se identificou como Luciana.
Região de imóveis irregulares
Até as 8h40, não havia confirmação se o prédio havia sido construído de forma regular. Todavia, a subprefeitura de Jacarepaguá, Talita Galhardo, disse que, possivelmente, a construção era irregular.
“Eu não vou afirmar isso agora, mas é muito provável que não estivesse [regular] mesmo. Porque todas as construções do entorno, inclusive as que estão correndo risco, tem muitas que não têm nenhum tipo de licença, não tem nada”, disse a subprefeita.
De acordo com a prefeitura, 75% dos imóveis irregulares demolidos na cidade entre 2019 e 2020 ficavam na Zona Oeste.
‘Berço’ das milícias
Rio das Pedras é considerado o berço da milícia no país. A região habitada em sua maioria por retirantes nordestinos, ainda nos anos de 1960, se protegeu como pode dos avanços das facções de narcotraficantes que começaram a dominar territórios duas décadas mais tarde.
A região resistiu a guerras sangrentas e viu surgir a falsa proteção de grupos paramilitares que prometiam a tranquilidade que moradores não teriam em favelas onde drogas eram vendidas.
Um dos fundadores da milícia na região foi o inspetor de polícia Félix Tostes. Tostes foi morto em 2007 com mais de 30 tiros. Na época, quem assumiu o comando da miliciana região foi o vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, que foi acusado pelo morte de Félix. Nadinho foi assassinado dois anos depois.
Há 2 anos, 24 mortos em outro desabamento
Em abril de 2019, 24 pessoas morreram no desabamento de dois prédios na Muzema, bairro vizinho ao Rio das Pedras, que haviam sido construídos de forma irregular, supostamente por milicianos que atuam na região.
Três homens que haviam sido presos acusados como responsáveis pela tragédia foram soltos pelo Tribunal de Justiça no mês passado. A decisão foi assinada pela juíza Simone de Faria Ferraz, que considerou haver ‘excesso de prazo na custódia’ do trio e determinou que eles aguardem o julgamento em liberdade.
Os três réus são José Bezerra de Lira, Rafael Gomes da Costa e Renato Siqueira Ribeiro. As investigações apontaram que os três têm envolvimento com milícias. José Bezerra, conhecido como Zé do Rolo, foi apontado pelos investigadores como o líder do grupo responsável por vender apartamentos nos prédios que caíram.