Política

Secretário de Defesa Social de PE deixa cargo após repressão violenta da PM a protesto pacífico

Segundo o governo, Antônio de Pádua colocou o cargo à disposição e o governador Paulo Câmara (PSB) aceitou. O atual secretário executivo, Humberto Freire, assume interinamente a secretaria.

O secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, deixou o cargo, nesta sexta-feira (4), seis dias depois de uma repressão violenta da Polícia Militar que deixou pessoas feridas durante um protesto pacífico contra Bolsonaro (sem partido), no sábado (29), no Centro do Recife.

Reprodução/TV Globo

Antonio de Pádua deixou a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco

Após repercussão negativa da conduta violenta da tropa, Pádua colocou o cargo à disposição no início da tarde desta sexta-feira (4), seis dias após a ação truculenta dos policias na manifestação, com disparos de bala de borracha e gás lacrimogêneo.

O governador Paulo Câmara (PSB) aceitou e nomeou o atual secretário executivo, Humberto Freire, para assumir a secretaria.

Na quinta-feira (3), em entrevista ao NE1, a primeira desde a ação truculenta da PM no protesto, Pádua disse que existia, segundo informações colhidas na investigação do caso, “a possibilidade, uma hipótese levantada pelo próprio comandante operacional, de que essa ordem teria partido diretamente do campo”.

Por meio de nota, o governador agradeceu Antônio de Pádua pelo seu trabalho em defesa do Pacto pela Vida nesses quatro anos. Ele também ressaltou que a determinação dada ao novo secretário e ao novo comandante da PM é que o episódio do sábado (29) “nunca se repita”.

Na nota, o governador também disse que os protocolos precisam ser revistos “para que um comando de tropa na rua não possa se sentir autônomo a ponto de agir da maneira que agiu”.

Delegado da Polícia Federal, Antônio de Pádua estava à frente da Secretaria de Defesa Social desde 1º de julho de 2017. O novo secretário, Humberto Freire, também é delegado federal e fazia parte da equipe de Pádua desde o início da gestão.

Repressão violenta e repercussão

A ação truculenta da PM resultou na perda da visão de dois homens que não participam do protesto pacífico. O adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, perdeu o olho esquerdo após ser atingido por uma bala de borracha. Policiais negaram o pedido de socorro feito por ele. O outro ferido foi o arrumador de contêineres Jonas Correia, de 29 anos.

Durante a manifestação, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto. O cantor Afroito foi preso durante o ato e disse que temeu ser sufocado. Um advogado foi atingido por quatro balas de borracha disparadas pelos policiais.

Governo e investigação

No sábado (29), o governador afastou o comandante da ação e policiais envolvidos na agressão à vereadora. Inquéritos foram abertos para apurar a conduta dos policiais. São investigados, até o momento, um major, um capitão, um tenente, dois sargentos e três soldados.

A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social investiga a omissão de socorro a Daniel Campelo. Além disso, o Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil sobre a ação truculenta da PM. O policial responsável pelo tiro que atingiu Jonas Correia foi afastado disciplinarmente pela Corregedoria.

Na segunda-feira (31), o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, disse que “não há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco”.

Na terça-feira (1º), o então comandante da Polícia Militar, coronel Vanildo Maranhão, pediu exoneração. Ele foi substituído pelo coronel Roberto Santana.

Na quarta-feira (2), Paulo Câmara deu a primeira entrevista após a repressão policial ao protesto pacífico. Ao vivo no NE1, ele afirmou que a ordem para atirar em manifestantes não partiu da cúpula do governo.

Integrantes de movimentos sociais assinaram um documento conjunto que comunica a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a violenta repressão policial ao protesto pacífico, com o pedido de que a investigação do caso seja monitorada internacionalmente.