Mãe de Kathlen afirmou, em entrevista ao programa Encontro com Fátima Bernardes, que é necessária uma mudança profunda na área de segurança pública para evitar que outras mortes por causa da violência aconteçam.
Os pais de Kathlen Romeu, jovem grávida de 24 anos que morreu atingida por uma bala de fuzil no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, afirmaram, em entrevista ao programa Encontro com Fátima Bernardes, na manhã desta quinta-feira (10), que é necessária uma mudança profunda na área de segurança pública para evitar que outras mortes por causa da violência aconteçam.
“E isso não vai parar. E quem está no meio disso? Esse problema não é nosso. Este problema é do estado, que está agonizando. E a gente está pagando a conta. Tem alguma maneira, eles estudam para isso. Na guerra também tem tática. deve ter a hora de saber recuar. Se eles estavam ali e viram, deixassem os bandidos correrem, perdessem aquela batalha. não baleassem a minha filha”, disse Jaqueline de Oliveira Lopes.
Na quarta (9), no IML, Jaqueline afirmou que a jovem foi morta por um policial militar. Durante a entrevista, Luciano Gonçalves, pai de Kathlen, disse que é necessária uma mudança na maneira como as forças de segurança atuam para evitar novos casos e que a maioria dos moradores das comunidades do Rio é honesta.
“Eu não tenho aversão a policial. Eu fui militar durante muito tempo. Na área onde eu trabalho tenho amigos, alunos, que são policiais, pessoas que trabalham na Justiça. Um amigo delegado federal, amigos meus que são policiais estavam no velório da minha filha. Não é nada contra a polícia, mas a forma como age”, afirmou Luciano.
Medo da violência
Segundo ele, a família sempre teve medo que algum episódio de violência acontecesse na região. No dia em que Kathlen foi morta, ela foi visitar a avó e depois levar o almoço para uma tia que trabalha em uma clínica de estética. De acordo com relatos ouvidos por Luciano, ela e a sogra, mãe de Jaqueline, teriam ficado entre os policiais e criminosos.
Kathlen foi atingida por um disparo de fuzil e caiu no chão. A avó pensou que ela estava tentando se proteger e se jogou sobre a neta, quando percebeu que ela estava ferida.
Segundo o Instituto Fogo Cruzado, desde 2017, 15 mulheres foram baleadas grávidas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Oito delas morreram. No mesmo período, dez bebês foram baleados quando ainda estavam na barriga da mãe. Apenas um deles sobreviveu.
“Esta situação ocorre com muita frequência do túnel para lá. Poupando sempre as pessoas na Zona Sul. Isso nos deixa a sensação de que as vidas nessa região da cidade, da Região Metropolitana, tem um valor inferior ao das outras pessoas”, afirmou a diretora do Fogo Cruzado, Cecília Oliveira.
Cecília também destacou a demora na conclusão de julgamentos de casos de violência e citou como exemplo o caso de João Pedro, de 14 anos, morto em maio do ano passado em São Gonçalo. Na quarta, três policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil foram indiciados pelo assassinato do adolescente.
Pais querem investigação
A família questiona a versão apresentada pela Polícia Militar de que não havia uma operação na comunidade e de que os policiais foram recebidos a tiros. Jaqueline pediu que as versões de moradores das favelas do Rio sejam mais escutadas.
Os pais pediram que o caso fossem investigado e que a morte da jovem não seja em vão.
“É inconcebível ver a minha filha dentro de um caixão, ver a minha filha dentro de um saco preto no IML. A minha filha era vida, era luz. Eu estou tentando inventar uma desculpa, uma mentira na minha cabeça para seguir. Porque eu sou covarde. Eu não quero aceitar que ela morreu. Até porque eu acho que ela não morreu. É isso que eu quero, deixá-la viva. O nome Kathlen Romeu tem que ser lembrado. Como forma de justiça para outras mães, meninas, mulheres”, afirmou a mãe de Kathlen.