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Polícia investiga junção de forças para chefiar milícia após a morte de Ecko

O também miliciano Luís Antônio da Silva Braga, irmão de Ecko, 'costurou' aliança com homem de confiança do ex-chefe da quadrilha. Outro aliado do criminoso está desaparecido, segundo a polícia.

A Polícia Civil investiga se criminosos ligados à milícia de Santa Cruz e Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, estão se articulando para assumir a quadrilha após a morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, no último sábado (12).

A disputa pelo comando envolve até um desaparecimento: um miliciano conhecido como “Garça” ou “PQD”, considerado um dos homens de confiança de Ecko, está desaparecido desde o dia 2 de junho, segundo informações da polícia.

Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, é irmão de Ecko e está foragido desde 2019. A delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) investiga se ele articula com outro miliciano, conhecido como Latrell, para assumir como chefe da organização criminosa.

Movimentação preocupa moradores

A movimentação de Danilo Dias Lima, o Tandera, – outro nome que já foi ligado a Ecko – em direção a Santa Cruz, deixou moradores da Zona Oeste preocupados.

No final de 2020, Tandera e Ecko romperam a aliança que rendeu a Tandera áreas importantes da milícia na Baixada Fluminense, como Seropédica e partes de Nova Iguaçu.

Na última semana, a ida de Danilo para Manguariba, bem próximo às suas áreas de influência na Baixada, foi interpretada como um sinal de força e possível confronto pelo comando da maior milícia do Rio.

No entanto, apesar do clima de tensão, não houve confrontos registrados entre o bando dele e os grupos fiéis a Ecko, até sexta-feira (18).

William Pena Júnior, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), disse em entrevista ao G1 que o cenário ainda está aberto em relação a quem vai herdar o espaço de Ecko:

“Está tudo em aberto. Há uma possibilidade de o Tandera tomar à força, e pode também haver uma escolha das lideranças dessa organização criminosa”.

Leia mais detalhes sobre os possíveis nomes para assumir o comando da milícia:

Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho:

Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, é empresário e irmão de Ecko, líder da milícia — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Zinho é considerado um homem de perfil mais ligado às atividades de lavagem de dinheiro da milícia de Santa Cruz e Campo Grande, principalmente na Baixada Fluminense.

Como o G1 revelou em 2018, na série Franquia do Crime, Zinho era sócio da empresa Macla Comércio e Extração de Saibro que, segundo a polícia, faturou R$ 42 milhões entre 2012 e 2017. Outras empresas da organização criminosa eram utilizadas para movimentação deste dinheiro

Em 29 de agosto de 2018, a Polícia Civil tentou cumprir um mandado de prisão contra Zinho em um sítio no Espírito Santo. O irmão de Ecko conseguiu fugir pela mata, mas a polícia apreendeu o celular dele, deixado no momento da fuga.

Em janeiro de 2019, a Polícia Civil confiscou a mansão de Zinho na Barra da Tijuca, avaliada em R$ 1,7 milhão. Zinho não estava em casa no momento da chegada da polícia, e desde então está foragido.

Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público, Zinho tinha outros esquemas criminosos com alvos presos, que envolviam a prática conhecida como “mescla”: depósitos sucessivos em pequenas quantias, que misturam o dinheiro de origem lícita no caixa da empresa com o dinheiro proveniente dos lucros do crime organizado.

Outro irmão de Zinho e Ecko, Wallace da Silva Brag, o Batata, foi preso em Campo Grande menos de um mês antes de Ecko, e está hoje em Gericinó, Bangu, na Zona Oeste. Atualmente, é considerado um nome pouco provável como futuro chefe da milícia.

Joias apreendidas na casa do miliciano Zinho durante operação na manhã desta quinta-feira (14) — Foto: Divulgação

Rodrigo dos Santos, o Latrell:

Rodrigo dos Santos, conhecido como Latrell — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Rodrigo dos Santos, conhecido como Latrell, não tem mandados de prisão atualmente e é considerado um dos homens fundamentais para uma possível escolha de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, como futuro líder da milícia de Santa Cruz e Campo Grande.

Segundo a Draco, Latrell era um dos nomes de confiança de Ecko enquanto ele ainda estava vivo, e circulava com ele em vários momentos pelos bairros dominados pela milícia.

“Garça” ou “PQD”:

Francisco Anderson Silva Costa, conhecido como “Garça” ou “PQD” — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Considerado um dos homens de confiança de Ecko até pouco antes de sua morte, Francisco Anderson Silva Costa está desaparecido desde o dia 2 de junho.

Há informações de que ele teria pedido R$ 100 mil a Ecko para suprir as perdas de uma operação, que seria uma mentira dele. Por causa disso, Ecko teria mandado matá-lo. A Draco investiga o caso.

Danilo Dias Lima, o Tandera:

Recompensa por informações que possam levar à prisão de Tandera aumentou de R$ 1 mil para R$ 5 mil — Foto: Portal dos Procurados/Divulgação

O miliciano Danilo Dias Lima, conhecido como Danilo do Jesuítas ou Tandera, se tornou o miliciano mais procurado do Rio após a morte de Ecko. A recompensa aumentou de R$ 1 mil para R$ 5 mil.

Tandera, que ganhou o apelido por ter uma tatuagem com o olho de Tandera, do desenho Thundercats, chefia a milícia no bairro do Jesuítas, em Santa Cruz, Manguariba e Palmares.

Danilo também ficou responsável pelas “franquias” da maior milícia do Rio em Seropédica, KM 32 e do bairro Alvorada, em Nova Iguaçu. Em março de 2018, o G1 mostrou, na série “Franquia do crime”, como funcionavam essas ramificações dos grupos paramilitares.

Após ter se desentendido com Ecko no final de 2020, Tandera se aliou a Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, um dos chefes da milícia que atua na Praça Seca e no Campinho, na Zona Oeste.

Danilo é conhecido por ser extremamente violento e “lavar” o dinheiro da milícia com cavalos de raça, fazendas e outros bens.

Porém, apesar da movimentação no início da semana, sua influência continua restrita a Manguariba, Jesuítas, localidade onde foi criado, e seus locais já conhecidos na Baixada Fluminense.

Danilo Dias Lima, o Tandera, chefia a milícia em municípios da Baixada — Foto: Reprodução

Tôni Ângelo Souza Aguiar, o Toni Ângelo:

O cartaz de procurado de Toni Ângelo — Foto: Reprodução da internet

Toni Ângelo, que voltou aos presídios do Rio de Janeiro em abril, é considerado pela polícia o nome menos cotado para assumir a milícia.

Apesar de ser visto como um possível aliado para Tandera ou Zinho, a diferença de perfil da milícia desde sua prisão em 2013 é considerada pela polícia como um obstáculo para Toni Ângelo reassumir o comando.

Carlinhos Três Pontes, morto em operação em abril de 2017 — Foto: Divulgação

O sucessor de Toni Ângelo, o policial militar Marcos José de Lima Gomes, o Gão, foi preso em 2014. Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, foi escolhido como o novo chefe da organização criminosa.

Carlinhos iniciou o processo de alianças com o tráfico de drogas e expansão na Baixada Fluminense que foi ampliado com a sua morte e ascensão de seu irmão, Ecko, ao comando da milícia.