Quinze dias após o início das buscas, as forças policiais ainda não conseguiram localizar Lázaro Barbosa, de 32 anos. Para especialistas ouvidos pela TV Globo, o homem – apontado como o autor de uma chacina contra uma família do DF e diversos outros crimes – tem “traços de psicopatia”.
O transtorno é caracterizado, além da inteligência, pela criação de regras próprias, sem preocupação com os demais. O diagnóstico, no entanto, só pode ser feito por meio de entrevistas com o suspeito. Um laudo feito em 2013 apontava que ele tinha traços como “impulsividade”, “agressividade” e “preocupações sexuais”.
“O psicopata tem uma estrutura mental, uma inteligência avantajada, então tudo indica que ele pode ser essa pessoa. Mas a gente fazer essa afirmação neste momento, sem passar por um análise clínica apurada com os instrumentos certos, isso é muito precoce, muito primário”, afirma a advogada criminalista Cristiane Damasceno.
Segundo o psiquiatra da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Boechat, “o psicopata é aquela pessoa que age de acordo com as suas próprias normas. Então ele cria um conjunto de regras e valores e age de acordo com o que ele quer, independente das regras da sociedade”.
“O que ele acha está acima do que o resto das pessoas acham. Ele vai agir de acordo com o que ele acha. Dane-se se isso for algo que choque de frente com a sociedade, por mais absurdo que seja. Às vezes, chega ao ponto de cometer crimes para satisfazer uma vontade sua, até um assassinato, como no caso dos serial killers”, afirma.
Para a psiquiatra Andrezza Brito, especialista na área forense, Lázaro “parece ter perfil agressivo, ser instável, ter comportamentos até bizarros e uma crueldade muito grande, uma falta de empatia com o próximo, o que nos faz pensar em um quadro de psicopatia”.
Ela afirma que o termo usado por leigos para o transtorno de personalidade social. Segundo a especialista, ao contrário do que muitos pensam, essas pessoas têm uma boa habilidade de comunização e, em alguns casos, podem ser capazes de manipular outros.
“São pessoas que sabem se comunicar bem, são pessoas até manipuladoras, que conseguem convencer o outro do que ele quer e podem ter duas vidas: uma vida onde tem um trabalho, uma família, onde tem um comportamento normal, e paralelamente cometem crimes até serem descobertos”, explica.
Para o psiquiatra Raphael Boechat, o termo psicopata não deve ser usado como sinônimo de assassino, já que há pessoas com esse transtorno que aplicam em outras áreas da vida, como em relacionamentos, e não por meio de ações criminosas.
“Infelizmente, nós temos psicopatas entre nós. Em alguns [casos],é fácil de identificar, outros nem tanto. Isso é um problema que a sociedade tem e infelizmente é bastante comum.”
Um laudo feito por especialistas em 2013, quando Lázaro cumpria pena em regime fechado por estupro, roubo e porte ilegal de arma no Complexo da Papuda, apontava “traços negativos” no homem. A lista incluía “ausência de mecanismos de controle”, “dificuldade em canalizar e expressar emoções”, e “instabilidade emocional”.
O documento também apontava que, se fosse reincluído na sociedade e voltasse ao contexto em que vivia, Lázaro “provavelmente retornará a delinquir”. Mesmo assim, em 2016, ele conseguiu direito ao regime semiaberto com trabalho externo e fugiu durante uma saída do presídio.
Chacina e outros crimes
Lázaro é procurado desde o dia 9 de junho. Segundo a polícia, ele matou o empresário Cláudio Vidal, de 48 anos, e os dois filhos dele, Gustavo Vidal, de 21, e Carlos Eduardo Vidal, de 15, na chácara da família. As vítimas foram encontradas com marcas de tiros e facadas.
A mulher de Cláudio e mãe dos jovens, Cleonice Marques, de 43 anos, foi sequestrada pelo suspeito e encontrada morta três dias depois. Desde o início da fuga, Lázaro invadiu pelo menos 12 propriedades rurais e fez uma série de reféns.
Antes disso, ele já era considerado foragido, após duas fugas de presídios. Também já tinha sido condenado por roubo, estupro e porte ilegal de arma. Ainda responde por um duplo homicídio na Bahia.
Mais de 200 agentes de forças de segurança atuam nas buscas, com drones, cães farejadores e helicópteros. No entanto, até a manhã desta terça, ele não tinha sido encontrado.