Roberta da Silva passou por várias cirurgias ao longo de 15 dias de internação. Primeiro, teve o braço esquerdo amputado, em 26 de junho. Mesmo com os cuidados, teve necrose progressiva e, quantro dias após a primeira intervenção, os médicos removeram parte do braço direito, preservando apenas um pedaço acima do cotovelo.
No dia 5 de julho, a situação de Roberta voltou a se agravar. Levada para a unidade de Terapia Intensiva (UTI), a vítima teve que ser intubada.
O médico Marcos Barretto, chefe da Unidade de Queimados do HR, afirmou, durante o tratamento, que Roberta teve queimaduras na cabeça, além de lesões graves em várias partes do corpo.
A Polícia Civil autuou o adolescente flagrado após o crime. Ele foi para ma instituição para jovens infratores.
Repercussão
Por meio de publicação no Twitter, o prefeito do Recife João Campos (PSB) afirmou que lamenta profundamente a morte de Roberta. “É intolerável qualquer vida perdida para o ódio e para o preconceito”, declarou.
Ele disse, ainda, que a prefeitura pretende dar o nome de Roberta à Casa de Acolhida LGBTI+. “Vamos avançar com novas ações para ampliar o atendimento a esta população”, escreveu.
A codeputada do mandato coletivo Juntas Robeyoncé Lima (PSOL), que acompanhou Roberta no hospital, também escreveu em seu Twitter sobre o falecimento de Roberta. “Atacada de maneira cruel, ela foi mais uma vítima da transfeminicídio em Pernambuco”, disse. Ela pediu que as pessoas mandassem “boas energias para que ela tenha uma passagem serena”.
A deputada estadual Teresa Leitão (PT) disse por meio de suas redes sociais que Roberta foi ” mais uma vítima do preconceito em Pernambuco”.
A vereadora da capital pernambucana Liana Cirne (PT), postou em seu Instagram votos de solidariedade à família da vítima. “Toda nossa solidariedade à família de Roberta, que deixa mãe e irmã”. Cirne lembrou, ainda, que no último mês quatro casos de violência contra mulheres trans foram registrados no estado. “Não é possível tolerar tanto ódio!”, escreveu.
“Infelizmente acabamos de saber que Roberta não resistiu e morreu, após uma luta de 15 dias no hospital. Que sociedade é essa que faz adolescentes matarem mulheres trans queimadas vivas? Não podemos nos calar diante isso, temos que ir até o fim!”, disse pelas redes sociais a vereadora do Recife Dani Portela (PSOL).
A pedagoga, assessora parlamentar e travesti Ana Flor cobrou pelas redes sociais políticas públicas efetivas para que casos como o de Roberta não se repitam. “Toda minha solidariedade aos familiares e amigos. Não tenho muitas palavras”, escreveu.
A deputada estadual de São Paulo, Erica Malunguinho (PSOL), também lamentou a morte pelas redes sociais. “Roberta foi vítima de transfeminicídio. Pensar políticas públicas para conter essas violências é uma demanda histórica do movimento de travestis e transexuais no Brasil. A política institucional precisa ouvir o que os movimentos estão dizendo”. declarou.
Violência contra mulheres trans
O crime contra Roberta gerou grande repercussão. Além do caso dela, foram registrados três assassinatos de mulheres trans no último mês em Pernambuco. Em todo o país, 80 pessoas transexuais foram mortas no 1º semestre deste ano, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
No dia 28 de junho, dia do Orgulho LGBTQIA+, manifestantes pediram o fim da violência contra as mulheres trans. No ato, no Centro do Recife, eles lembraram o caso de Roberta.
No município de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano, uma mulher trans identificada como Fabiana da Silva Lucas, de 30 anos, foi morta com vários golpes de faca às margens da PE-160. O crime aconteceu na quarta-feira (7).
Na segunda-feira (5), uma cabeleireira de 37 anos identificada como Crismilly Pérola foi assassinada com um tiro na comunidade Beira Rio, na Várzea, Zona Oeste do Recife. Na data, a família afirmou que acredita que o crime foi motivado por transfobia.
A mãe dela, Maria Elizabeth da Silva, contou que a filha sofria preconceito e discriminação e que, há cerca de um mês, ela havia sido hospitalizada porque fraturou um dos braços em uma briga. Pelo que relataram para Maria Elizabeth, o motivo também seria transfobia.
Em junho, uma mulher trans foi encontrada morta dentro de casa, no Ipsep, na Zona Sul do Recife. A vítima foi identificada como Kalyndra Selva Guedes Nogueira da Hora, de 26 anos. O companheiro dela foi preso como suspeito de cometer o crime.
Pronunciamento do governo
Os casos de violência motivaram o governador Paulo Câmara (PSB) a se pronunciar na quarta-feira (7). De acordo com ele, o governo criou um grupo de secretarias para discutir com a sociedade ações para oferecer mais oportunidades ao público LGBTQIA+.
O Comitê de Prevenção e Enfrentamento às Violências LGBTfóbica, como foi chamado, foi composto pelas secretarias estaduais da Mulher, de Desenvolvimento Social Criança e Juventude, de Defesa Social, de Justiça e Direitos Humanos, de Saúde e de Educação.
Segundo o estado, por meio de um documento que deve ser entregue pelo Levante Feminista com o apoio de outras instituições do movimento LGBTQIA+ em Pernambuco, o governo deve articular ações de assistência, formação, qualificação, conscientização, empregabilidade, geração de oportunidades e campanhas institucionais para combater a intolerância, o preconceito e a marginalização.