Fernando Piñero deixou o país onde nasceu, a Venezuela, há quatro anos. Inicialmente, viveu em Roraima antes de chegar à Paraíba. Trabalhou por vários meses até conseguir trazer a esposa, Gabrielys, e a filha mais velha, Aranza. A caçula, Fernanda, já nasceu em João Pessoa. Deixou a profissão de médico para conseguir sobreviver.
A mãe e os irmãos de Gabrielys também estão na capital, além de alguns primos de Fernando. Ele é autônomo e ela trabalha em uma pizzaria. É como o casal de refugiados, que mora de aluguel em Gramame, sustenta a família e tenta ajudar familiares que ficaram na Venezuela.
“Eu decidi deixar a Venezuela quando eu vi que nada estava dando certo, porque não tinha comida, a saúde, era uma vida muito frustrada, porque você trabalhava e não tinha aquilo que você estava procurando”, declara Fernando.
Gabrielys Diaz trouxe a mãe para a Paraíba na primeira oportunidade que teve. “Eu sei que minha mãe, quando eu precisar, ela vai estar comigo”, desabafa.
Desde que chegou ao Brasil, Fernando já trabalhou de ajudante de pedreiro, operador de caixa, em restaurantes, e agora, autônomo, como marceneiro e serralheiro. Mas o mais surpreendente é a profissão que ele tinha na Venezuela. Fernando é médico e tem diploma emitido pela Universidade de Ciências da Saúde do Estado Portuguesa. Ele já tentou atuar na profissão aqui no Brasil, mas por questões de documentação ainda não alcançou esse sonho.
“O complicado de um médico se sustentar na Venezuela é que é uma situação muito precária, porque até os médicos não têm condições para ficar no país. Tudo está faltando na Venezuela. Eles ganham ao redor de $3 a $4 dólares por mês como médicos”, revela Fernando Piñero.
Em julho de 2018, há três anos, chegaram os primeiros grupos de venezuelanos à Paraíba. Eles foram levados a abrigos, como a Casa do Migrante, no município do Conde, onde receberam todo o apoio para começar uma vida cheia de desafios. De lá para cá, centenas de venezuelanos passaram por diversas instituições e casas de acolhida no estado.
O fluxo de imigrantes da Venezuela para o Brasil aumentou consideravelmente depois de 2018, quando a crise econômica e política no regime de Nicolás Maduro se tornou ainda mais aguda. Muitos dos venezuelanos atravessaram a fronteira em Pacaraima (RR), cidade na fronteira que tem um posto da Operação Acolhida.
Ao todo, o governo federal estima que cerca de 260 mil venezuelanos residam atualmente no Brasil — independentemente da condição: refugiado, solicitante de refúgio ou residente. Não necessariamente todos esses precisaram ou precisariam passar pelos procedimentos de interiorização da Operação Acolhida.
Alguns pertencem a uma tribo indígena, chamada Warao, e vieram do estado Delta Amacuro, no país vizinho. Só em um dos abrigos de João Pessoa, coordenado pela Arquidiocese da Paraíba, são 13 famílias, cerca de 50 pessoas. Antes de chegarem ao local, moraram na rua ou pediam dinheiro nos sinais para poder pagar aluguel e comprar comida. É o que afirma o cacique Epifânio Moreno.
“Eu gosto que no Brasil estamos comendo bem e dormindo bem. A crise, primeiro, é da fome. Em segundo lugar, a medicina”, declara o cacique.
Uma habilidade deste povo é o artesanato. É o meio pelo qual se consegue alguma renda. Mas ainda não o suficiente, por falta da matéria prima. Goretti Rolim é a coordenadora das casas de abrigo da Arquidiocese da Paraíba, que tem recebido as famílias Warao. Centenas de pessoas já receberam apoio nestes três anos.
“O primeiro acolhimento foi no Centro Social Arquidiocesano São José, na Avenida Diogo Velho, um espaço nosso, da igreja, mas passando um mês, a gente viu a necessidade de alugar casas abrigos, porque foram chegando mais famílias. De inicio, recebemos 19 famílias, depois 26, depois 34. A Arquidiocese entrou com aluguel de casa, pagamento de energia e água, alimentação semanal para eles, assistência de saúde”, conta Goretti. Hoje o Governo do Estado auxilia com alimentação.