Gaúcho de 23 anos dedica medalha à mãe, Ana Rita, modalidade mantém rotina de medalhas que começou em Los Angeles 1984
O judô do Brasil conquistou neste domingo, 25, a sua 22ª medalha olímpica. O responsável por manter a tradição da modalidade, que começou em Los Angeles 1984, foi Daniel Cargnin, que, aos 23 anos, participou de sua primeira edição de Jogos Olímpicos. Ele faturou o bronze da categoria meio-leve ao vencer o israelense Baruch Shmailov por waza-ari.
“Estou muito feliz porque eu me preparei muito. Só eu, meus amigos e minha família sabemos o quanto eu sofri quando os Jogos foram adiados. Sempre tive um sonho de medalha aqui em Tóquio, mas no Grand Slam, jamais imaginava que seria em Jogos Olímpicos. Estou muito feliz com isso, como processo que eu tive, meus amigos, todo mundo me ajudou muito. Sem eles, sem o apoio teria sido muito difícil”, contou Cargnin.
Daniel Cargnin teve grandes resultados neste ciclo olímpico, marcado por sua transição das equipes de base ao time principal. O título mundial júnior em Zagreb (Croácia), no ano de 2017, foi um prenúncio do que estava por vir na carreira de Daniel. Em seu primeiro ciclo olímpico, consolidou-se entre os melhores judocas do mundo na categoria meio-leve, garantindo a classificação para Tóquio com o 13º lugar no ranking mundial. Um dos cinco estreantes entre os homens em Olimpíada, Cargnin fez questão de agradecer a duas pessoas.
“Eu lembrei de duas pessoas. Primeiro da minha mãe, que sempre me apoiou, se preocupou comigo, desde os treinos quando eu saia 10 da noite do clube e ela me pedia para dar notícias, até no dia da viagem pro Japão quando arrumou uma bolsa de comida para eu não passar fome aqui. Depois da sensei Yuko. Lembrei de um treino na Itália em que eu estava treinando, apanhando muito e ela nunca desistiu. Sempre me chamava para voltar ao tatame e treinar mais. Se ela acreditou em mim mesmo naquela situação, eu não poderia desistir”, contou.
Ainda na preparação para Tóquio 2020, Daniel arrematou dois títulos pan-americanos (2017 e 2020) e teve seu melhor resultado no Grand Slam de Brasília, em 2019, onde foi campeão. As críticas à geração masculina, que só havia conquistado medalha com Rafael Silva “Baby” na Rio 2016, não pesaram no desempenho do jovem. “Era uma situação que estava difícil, mas estava pensando mais no meu, no que podia fazer para ajudar o grupo. Acho que todo mundo tem que olhar primeiro para dentro de si. Foi isso que eu fiz e deu certo”, analisou.
Natural de Porto Alegre (RS), ele é o terceiro medalhista olímpico do judô na categoria meio-leve. A mesma de Henrique Guimarães, bronze em Atlanta 1996, e Rogério Sampaio, ouro em Barcelona 1992. O atual diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil (COB) fez questão de parabenizar Cargnin.
“Estou muito feliz com essa conquista, muito importante para o Brasil, mantem a tradição de conquistas da modalidade. Fico muito feliz dele ganhar na minha categoria e mantem a tradição de bons lutadores nas categorias mais leves. É o momento dele, da família dele e gostaria de falar que o judô brasileiro está em festa. Ganhar uma medalha olímpica já seria inesquecível, no Nippon Budokan é ainda mais especial. Parabéns, Daniel”, disse o campeão olímpico, Rogério Sampaio.
A estreia de Cargnin foi contra Mohamed Abdelmawgoud, do Egito, número 19 do mundo. A luta foi bastante equilibrada, até o golden score, quando Daniel conseguiu aplicar uma técnica de ashi e derrubou o egípcio. Na segunda luta, contra Denis Vieru, da Moldávia, mais um confronto equilibrado, decidido no golden score. Dessa vez, Cargnin conseguiu a projeção que valeu um wazaari e encerrou a luta. Nas quartas, contra Manuel Lombardo, da Itália, o brasileiro não deixou a luta ir para o tempo extra, mas conseguiu jogar o adversário faltando apenas sete segundos para o fim do combate, sem tempo para reação do italiano. Já no bloco final, a disputa foi contra o japonês Hifumi Abe que superou o brasileiro com um ippon e acabaria com o ouro olímpico. Sem tempo para desanimar, Cargnin voltou ao shiai-jô para a disputa do bronze, em que acabou superando Shmailov.
“Eu fiquei pensando que seria ruim ficar em quinto e como seria ficar em terceiro. Mas depois eu parei e pensei: cara, tu já tá pensando em como vai se sentir lá na frente, mas você ainda nem lutou. Botei um vídeo do Cristiano Ronaldo em que ele fala que temos que acreditar em nós mesmos e isso me ajudou. Depois eu analisei o adversário e lembrei que tinha lutado três vezes com ele, perdido duas, mas tinha ganhado justamente a última e isso me motivou”, analisou o brasileiro.
Na chave feminina, o Brasil teve também uma estreante, Larissa Pimenta, de 22 anos, que, assim como Cargnin, também veio da seleção júnior com resultados expressivos neste ciclo olímpico. Ela venceu a polonesa Agata Perenc por waza-ari. Mas na sequência enfrentou a japonesa Uta Abe, acabou sendo projetada e depois foi imobilizada, encerrando sua participação nos Jogos Olímpicos. Abe ficou com ouro na categoria.
“Hoje eu vim pra ganhar. A minha fase de experiência já passou e temos que estar focados em ganhar. Vim com a cabeça de dar tudo de mim e o resultado seria consequência disso. Eu tinha lutado com ela duas vezes e ela tinha se comportado da mesma maneira nas duas. Mas hoje foi diferente. No meio da luta ela me surpreendeu ao trocar o lado (da pegada). Dei o melhor que eu pude e acredito que vou crescer muito com essa experiência”, analisou Larissa.
Nesta segunda, 26, o judô brasileiro será representado por Daniel Katsuhiro Barbosa, na categoria leve.