Jovem de 27 anos é formado em Música pela Ufal e fez CD de forma independente
Há um termo em inglês que referencia aqueles músicos que fazem tudo em uma produção: desde a gravação até seu lançamento, tudo passa por suas mãos. É o “one man band”, o que se traduz livremente como “a banda de um homem só”.
Em seu debut, lançado neste sábado (31), Wyron Roberth traz toda a sua energia pulsante para as 10 faixas que compõem seu álbum homônimo. E seu dedo está impregnado em todas elas, basicamente, em todos os instrumentos.
O jovem arapiraquense de 27 anos, no entanto, sabe que para chegar onde chegou precisou de várias outras mãos para impulsioná-lo — um caminho de aprendizado perene até chegar onde chegou, decerto, no seu CD de estreia.
Com capa do ilustrador e designer Will Jhones (@willjhonesgds), fotografias de Iago Caique (@iagoo.caique), participação do violoncelista Aldair Tomé (@aldair.tome) e do engenheiro de áudio Nando Costa (@nandocostamusic) — diretamente de Los Angeles —, Wyron ganha novos tentáculos nessa sua busca interna.
Isso mostra que, mesmo sozinhos, estamos sempre sendo acompanhados e levando conosco nossas histórias, nossos amigos e nossos desejos futuros.
Curiosamente, como que numa investigação sobre si e o ser humano, o que se reflete nas letras de canções de Wyron é um permear de solidão, estados depressivos e insights sobre quem somos no mundo (e o que podemos fazer para melhorar, minimamente, o microcosmos onde estamos inseridos).
É preciso quebrar o espelho do ego para poder olhar os vários braços que nos acolhem.
“A vida pode ser bela, mas nem sempre é colorida. Acredito que a Música tem o poder de salvar vidas e, nesse meu primeiro álbum, trago à tona esses temas que nem todo mundo gosta de falar a respeito. Gosto de trabalhar em projetos que compartilhem valores, amor e respeito”, pontua Wyron, que é formado em Música pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Além de amplamente ser conhecido na internet por seu vibrante cover na guitarra do Hino do ASA, em 2019, ele venceu o Festival de Música da Ufal com a canção “Prosseguir”. Agora, o jovem segue em frente consolidando seu nome no Rock alternativo alagoano.
No trabalho homônimo, de algum modo devido à solidão imposta pela pandemia, Wyron transitou por todos os instrumentos deste CD solo, literalmente — guitarras, baixos, teclados, voz e overdubs —, tendo até gravado as baterias em programas da Digital Audio Workstation (DAW).
Desde sábado (31), seu álbum está em todas as plataformas de streaming (Spotify, Deezer, Youtube etc.), por meio da Ditto Music. Para coroar essa ação musical, houve uma live nesta última sexta (30) no perfil @wyron_roberth, que pode ser conferida a qualquer hora.
Confira o ping pong exclusivo com o jovem músico arapiraquense:
1. Com quantos anos você começou seu interesse por música? Qual seu primeiro instrumento?
WYRON ROBERTH: A música sempre fez parte da minha vida. Na minha família, sempre tinha alguém tocando e cantando. O dia em que eu decidi tornar a Música a minha vida aconteceu quando eu tinha 10 anos de idade. Eu vi o namorado da minha tia, Janeo (hoje esposo) tocando violão de uma forma diferente do que eu já estava “acostumado”. Lembro que ele tocava algumas músicas clássicas no violão e aquelas progressões me encantaram. Meu primeiro instrumento foi um violão Tonante, pequeninho, dado pelo próprio Janeo (o mesmo violão já tinha passado por outras 3 gerações).
2. Quem mais participou da gravação deste seu primeiro CD?
O áLbum tem a participação ilustre de Aldair Tomé, violoncelista de Ibateguara-AL. Um grande músico! Ele criou os arranjos para o cello em sete músicas. Os arranjos (gravações de bateria, baixo, guitarra, vozes, synths, pads e demais instrumentos, mixagens e masterizações) foram de criação e execução própria, com exceção da música “Suicídio Mental”, que foi masterizada pelo grande engenheiro de áudio Nando Costa, em Los Angeles.
3. Você falou sobre ter pessoas de sua família que tocam ou cantam. Fale um pouco sobre.
Na minha família, por parte de pai, todos são envolvidos com a Música. Alguns profissionalmente. Dentre eles, há produtores e músicos instrumentistas e professores de musicalização. Os demais tem a Música como hobby.
4. Você era líder/frontman da banda Quiáltera. Como foram aqueles anos de aprendizado? Vocês faziam músicas próprias?
Bem, ali foi um momento de muito aprendizado. Pude entender o que é ter uma banda, quais as atribuições e responsabilidades de cada um. Foi importante para que eu pudesse me compreender como pessoa e profissional. Gosto de pensar que a Quiáltera foi um grande momento de transformação não só para mim, mas para todos os envolvidos, apesar de alguns não terem continuado no meio musical. Somente eu e o Rodrigo Cruz, que hoje é baterista da Quiçaça, continuamos no meio profissional. Chegamos a gravar e lançar quatro singles no Youtube com a Quiáltera! Tínhamos outras músicas com arranjos prontos, mas nunca saíram da gaveta.
5. Vejo um quê de Emocore, Beatles e alguns elementos do rock brasileiro muito impregnados em seu som, além de pitadas encontradas em animes e jogos. Um caldeirão. Quais suas principais influências?
Sempre gostei muito de bateria, então, quando pensei em fazer o álbum, eu queria que a mesma fosse o destaque! A banda que eu sempre curti muito as produções de “batéra” é o Paramore. Daí, em algumas músicas, brinquei com o meu eu-baterista de hardcore e emocore. Outras bandas que posso citar como referência são Supercombo e Scalene, essa galera nova do Rock brasileiro. Esse caldeirão vem da minha personalidade. Apesar de sempre tocar Rock, eu sou apenas um cara musical. Com o passar do tempo, a cada nova composição e arranjo feito, eu fui me permitindo sentir a Música. E assim é o processo de criação: eu vou sempre buscando uma sensação! Penso que a Música, ela tem que ter sentido e sentimento.
6. Como se deu a escolha em cursar a faculdade de Música? Você entrou quando?
Eu entrei em 2012! A escolha foi bem fácil por dois motivos: primeiro, eu já sabia o que eu queria fazer desde meus 10 anos, então na minha cabeça, eu já tinha uma meta (sem falar que eu já tocava guitarra profissionalmente em bandas de baile) e, segundo, mas não menos importante, o apoio dos meus pais. Graças a eles, pude trocar de cidade e permanecer no meu sonho. Sei que não é assim para todos no meio artístico.
7. Você tocou guitarra na vinda do Hermeto Pascoal aqui para Arapiraca, na inauguração do teatro do Sesc que leva o nome dele. Como foi a sensação de estar tocando para o “velho bruxo” de Limoeiro de Anadia?
Cara, esse dia foi muito corrido! Eu estava em Maceió trabalhando de dia e à noite já estava em Arapiraca tocando para simplesmente um cara que não há palavras para qualificá-lo! Simplesmente uma honra poder fazer parte daquele projeto! Agradeço demais ao Júlio [César Silva], coordenador de Música do Sesc Alagoas, e a toda a galera que participou da inauguração. Foi um momento único e vou guardá-lo com muito carinho!
8. E seu álbum homônimo, como foi a concepção dele? De onde surgiu a ideia para os temas das músicas? Há algumas canções que falam sobre depressão e estar sozinho no mundo. Como você se sente ao colocar essas expressões de suas emoções em forma de Música?
Antes de pensar no álbum eu estava compondo bastante. Eu sempre fiz muita música desde os meus 10 anos. Assim que aprendi quatro acordes já estava criando música, mas, desta vez, era uma música por dia. Eu tinha muitas músicas no meu caderno de rascunho e, nesse processo de composição, fui me permitindo entender o que eu sentia e o que eu via diariamente com os colegas. Então, todas as letras de todas as canções neste álbum, eu tenho uma imagem bem clara do que se trata: todas foram feitas com experiências pessoais. Quando as escuto ou canto, eu as sinto vivas. É como se cada uma fosse um pouquinho de mim! Quando terminei as canções para o álbum, percebi que elas tinham um motivo maior e que eu poderia ajudar alguém que estivesse precisando ou só mesmo como um conforto.
9. Seu álbum estará em todas as plataformas de streaming, certo?
Sim, a partir do dia 31, estará disponível nas plataformas, inclusive, no Youtube com lyrics vídeos de algumas canções.
10. Em 2019, você conquistou o primeiro lugar com a canção “Prosseguir” no Festival de Música da Ufal. Por que ela não está nesse seu primeiro álbum?
Então, eu considero “Prosseguir” como uma porta de entrada para este novo trabalho, juntamente com os outros dois singles “A Batalha” e “Sem Partido”. As três são sementes que floresceram e deram frutos.