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Cliente negro é obrigado a tirar a roupa em mercado para provar que não roubou

Homem aparece somente de cueca em unidade do Assaí de Limeira, no interior de SP

Vídeo mostra homem somente de cueca durante abordagem em supermercado de Limeira — Foto: Jota Santos/Arquivo pessoal

Um vídeo enviado ao G1 nesta segunda-feira (9) mostra o momento em que um homem de 56 anos foi obrigado a tirar parte da roupa em um supermercado atacadista de Limeira (SP). O caso aconteceu na sexta-feira (6) e, após a abordagem, a vítima registrou um boletim de ocorrência por constrangimento na Polícia Civil.

Segundo o registro policial, o homem negro foi abordado por dois seguranças que suspeitaram que o cliente havia furtado produtos da loja na tarde de sexta. O caso foi na rede atacadista Assaí, que fica no Centro da cidade.

Ele disse que foi obrigado a se despir na frente das outras pessoas que estavam no local para provar que não tinha roubado nada.

As imagens mostram o homem em um canto da loja, somente de cueca, muito nervoso. Ele começou a chorar e precisou ser acalmado pelos próprios funcionários.

Em um momento, ele começa a gritar, desesperado com os funcionários: “eu vim aqui pra comprar alguma coisa e me chamam de ladrão.”
Em seguida, ele começa a apontar para os objetos dele, deixados no chão durante a abordagem, questionando se teria algo da loja que foi levado. Após vestir a roupa, ainda chorando, ele começa a recolher os objetos no chão.

Várias pessoas que estavam em volta acompanhando a cena criticaram a atitude dos seguranças, conforme mostra o vídeo.

A esposa do homem disse à EPTV, afiliada da TV Globo, que o marido tinha ido ao supermercado para pesquisar preços e acabou optando por não comprar nada. Na saída, foi abordado pelos funcionários do local, que o fizeram tirar parte da roupa para provar que não havia levado produtos sem pagar.

O advogado da vítima, Diego Souza, disse que os seguranças chegaram a pedir que ele tirasse a camisa.

“Nesse momento, ele tirou a camiseta e ficou só de calça. Ele já estava nervoso, chorando, completamente transtornado por conta da situação. Nesse momento ele tirou a calça, ficou só de cueca. Não pediram para retirar toda a roupa […] Mas, diante da situação, até para defesa dele, para ele provar que não estava com nada, porque até o momento que ele tinha tirado a parte de cima da roupa e ficou com a calça os seguranças ainda desconfiavam dele, nesse momento ele tirou a roupa”, explicou o defensor.

A rede atacadista Assaí informou, em nota, que afastou os funcionários envolvidos e abriu uma sindicância para apurar o que aconteceu. A rede disse, ainda, que não adota e nem orienta abordagens constrangedoras a clientes.

Investigação
A ocorrência foi registrada como constrangimento na polícia no dia seguinte, sábado (7), por não haver provas de injúria racial contra os funcionários.

Por nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou que a Polícia Civil disse que a natureza da ocorrência foi tipificada com as informações passadas no momento do registro, podendo ser alterada no decorrer das investigações.

“Equipes da unidade estão em diligência para obter imagens, bem como identificar testemunhas e demais envolvidos dos fatos. A vítima será ouvida para dar mais detalhes sobre o caso, assim como os seguranças do estabelecimento comercial”, diz a nota. O caso é investigado pelo 1º DP de Limeira.

“Eu não tenho elementos para falar pra você: foi racismo ou foi injúria racial. O que nós vamos fazer é tomar todas as medidas, todo procedimento cabível que a gente tem ao nosso alcance para investigar se esse caso está ligado a racismo ou a injúria racial”, apontou o advogado da vítima.