Política

Maioria dos partidos que foram contra coligações em 2017 votou a favor em 2021

15 dos 21 partidos que votaram majoritariamente pelo fim das coligações há 4 anos mudaram de lado e agora foram a favor da volta da medida. Especialistas a consideram um retrocesso.

Reprodução

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A maioria dos partidos mudou completamente de opinião sobre as coligações partidárias em apenas quatro anos, aponta levantamento do G1.

Quinze dos 21 partidos que votaram majoritariamente pelo fim das coligações partidárias em 2017, acabando com a medida, mudaram de ideia em 2021 e a ressuscitaram na quarta-feira (11).

São eles: AvanteDEMMDB,  PCdoBPLPodemosPPPROS,  PSBPSCPSDBPTPTBRepublicanos  Solidariedade.

Já o PSOL foi a única sigla que votou em bloco para manter as coligações há quatro anos e, agora, se posicionou totalmente contra a volta da medida.

Outros 5 partidos se mantiveram fiéis às suas posições nas duas votações e, em ambas, foram majoritariamente contra as coligações (CidadaniaPDTPSDPSL Rede).

Coligações partidárias

Partido Contra em 2017… Mas a favor em 2021
PCdoB 100% dos votos pelo fim das coligações 100% dos votos pela volta das coligações
Solidariedade 100% 100%
PTB 82% 100%
Republicanos ****** 100% 97%
PL **** 100% 95%
PT 100% 94%
PP 100% 92%
PSC 100% 91%
Avante * 75% 86%
PSB 96% 84%
Podemos ***** 94% 78%
PROS 83% 67%
PSDB 100% 66%
DEM 100% 62%
MDB 98% 55%

Fonte: G1

As coligações favorecem a proliferação das chamadas “legendas de aluguel” – partidos sem ideologia que se reúnem em torno de figurões políticos para barganhar apoio no parlamento (veja mais abaixo).

Nove partidos que mudaram de lado haviam sido 100% favoráveis ao fim das coligações em 2017PCdoBSolidariedadeRepublicanosPLPTPPPSCPSDB DEM.

PCdoB e o Solidariedade foram as siglas que mais “viraram a casaca” em apenas quatro anos: 100% dos deputados dos dois partidos que votaram em 2017 apoiaram o fim das coligações, e agora todos os que votaram foram a favor da volta da medida.

PTB, que teve 82% dos votos contra as coligações em 2017, agora teve 100% dos deputados que votaram favoráveis à sua volta.

RepublicanosPLPT PSC também se destacam no levantamento: todos os filiados que votaram há quatro anos foram 100% favoráveis ao fim das coligações, e agora mais de 90% dos votos dos filiados foram a favor da volta delas.

Coligações partidárias: partidos que em 2017 acabaram com as coligações agora votam pela sua volta — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/G1

Já o Cidadania e o PDT foram os partidos que mais mantiveram as suas posições. Todos os sete deputados do então PPS que votaram em 2017 foram favoráveis ao fim das coligações. Em 2021, os sete votos do Cidadania foram contra a volta da medida.

No PDT, foram 16 votos pelo fim das coligações há quatro anos (89% dos pedetistas que votaram na ocasião) e 21 contra a volta delas ontem (84% dos deputados que votaram).

Para fazer o levantamento, o G1 comparou a votação em primeiro turno da PEC 282/2016, que foi a plenário em setembro de 2017, com o destaque da PEC analisado ontem. Foram considerados apenas os votos contra e a favor da medida (excluindo as abstenções e ausências).

Também foram consideradas as mudanças de nome e fusões entre partidos nesses quatro anos: o PTdoB virou Avante, o PPS virou Cidadania, o PEN virou Patriota, o Podemos (antigo PTN) incorporou o PHS e o PRP, o PR voltou a se chamar PL e o PRB virou Republicanos.

Coligações partidárias

As coligações partidárias permitem a união de siglas em um único bloco para disputar eleições proporcionais. Caso seja “ressuscitada”, a medida favorecerá os chamados “partidos de aluguel”, que não defendem ideologia específica e tendem a negociar apoios na base do “toma lá, dá cá”.

O fim das coligações para eleições de cargos proporcionais entrou em vigor em 2020 e provocou uma reviravolta nas Câmaras pelo país, sobretudo nas pequenas e médias cidades.

Levantamento feito pelo G1 em mais de 5 mil municípios revela que em 73% deles houve redução no número de partidos com representação nos Legislativos municipais.

Críticas ao modelo

A principal crítica ao modelo é que o eleitor vota em um candidato de uma sigla e ajuda a eleger candidatos de outros partidos coligados, que não necessariamente têm a mesma ideologia.

Para Marcelo Issa, diretor-executivo do Movimento Transparência Partidária, a volta das coligações nas eleições proporcionais seria um “retrocesso”.

“As coligações são alianças que têm finalidade apenas eleitoral, não são feitas com base em programas”, afirma Issa. “Tanto que se dissolvem ou rearranjam tão logo passada a eleição. Não há sentido em revogar um regra que foi aprovada tão recentemente”.