Médicos que supostamente assinam documentos apresentados por Else Iglesias afirmam que laudos eram falsos. Em depoimento, casal negou falsificação, mas admite que gastou o dinheiro.
A Polícia Civil investiga uma mulher que teria forjado ter câncer e conseguiu que as pessoas dessem dinheiro a ela para ajudar a custear o suposto tratamento. Segundo as investigações, ela falsificou atestados e raspou a cabeça para simular que estava sofrendo de câncer, com a cumplicidade do marido.
As vítimas estimam que Else tenha recebido cerca de R$ 50 mil com as doações. Com o dinheiro, ela e o marido se hospedaram em um hotel por mais de cinco meses, no Centro do Rio. Eles alegavam que precisavam estar perto do Instituto Nacional do Câncer (Inca), para qualquer emergência.
O pedido de ajuda
Em um vídeo publicado em uma rede social, Else Kirschner Iglesias afirma que está com câncer terminal e pede doações para o tratamento: “Eu preciso mesmo de doações, de dinheiro, arrecadações, porque eu tenho que fazer os tratamentos, tem os remédios. Preciso fazer os tratamentos, exames que são caros”.
Pessoas que contribuíram contam que, em janeiro, ela esteve na quadra da escola Império Serrano, onde acontece uma grande feira aos sábados. Com a aparência bem debilitada, ela afirmou que precisava de dinheiro e encontrou um grupo de mulheres dispostas a ajudá-la.
“Aqui na feira a gente ofereceu uma isenção e ela começou a trabalhar aqui com a gente”, disse Renata Mendes, organizadora de eventos.
A professora Denise Paixão chegou a pedir ajuda a amigos, alguns fora do estado: “Esse dinheiro era todo recolhido, arrecadado e doado para ela. Inclusive, eu tenho os Pix, provando que o dinheiro foi doado para ela”, contou Denise.
Else fez rifas, conseguiu doações e contou com a solidariedade de muita gente. Mas, com o passar do tempo, as mulheres começaram a suspeitar de algumas atitudes.
“Fomos ajudando este tempo todo e ela pouco comparecia pois estava sempre internada. E a ponte era sempre o marido dela, Felipe. Ele que nos dava as notícias de como ela estava. E começamos a desconfiar”, disse Denise Paixão.
Durante uma suposta internação, preocupadas, elas chegaram a enviar mensagens para o marido de Else, Felipe Iglesias Kirschner, que confirmou que a mulher não estava bem de saúde.
Com a desconfiança, o casal apresentou documentos para comprovar a doença. Um atestado médico dizia que ela tinha “câncer cerebral terminal”. E uma suposta declaração de uma clínica oncológica informava que a mulher havia entrado em coma e ficado intubada.
A TV Globo entrou em contato com os médicos, que não quiseram ser identificados, mas que afirmaram que os laudos eram falsificados.
Else tem 30 anos e é professora aposentada do município. Jussara Gama, que também é professora e deu aulas no mesmo Ciep que ela há alguns anos, afirmou que também caiu no golpe.
“E, nessa situação, eu acabei envolvendo vários professores e, numa vaquinha virtual, conseguimos transferir estes valores para ela, totalizando de R$ 5 mil a R$ 6 mil”, afirmou Jussara.
Investigações
O casal foi localizado pela Polícia Civil e levado para a delegacia.
“A 41ªDP está investigando e já tomou o depoimento do casal e está ouvindo outras testemunhas, além de ouvir o médico autor da denúncia”, afirmou o delegado Reginaldo Guilherme da Silva.
Em depoimento, o casal afirmou que não apresentou um laudo falso, mas admite que se aproveitou do dinheiro da vaquinha. Eles também disseram que Else está doente, mas não apresentaram nenhum documento que confirme isso.
A clínica América’s Oncologia informou que Else Kirschner Iglesias não é paciente na instituição e, em relação ao atestado médico apresentado por ela, está acompanhando o caso para tomar medidas legais.
A Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento disse que Else teve vínculo estatutário com o município do Rio, mas foi aposentada por invalidez em 2018. Segundo a pasta, o motivo da aposentadoria é resguardado por sigilo médico. No entanto, o motivo da invalidez não guarda relação com a patologia citada na denúncia.