Verba do Inpe para monitorar o Cerrado acaba em dezembro; instituto faz apelo para novos financiamentos em 2022

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais acionou dois ministérios e dois financiamentos para seguir com atividade; bioma tem em 2021 o maior desmatamento desde 2012 e influencia na crise hídrica e agronegócio.

A verba do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para monitorar o Cerrado vai durar até o mês de dezembro e, a três meses do fim do prazo, não há garantia de que o serviço terá continuidade. Com este cenário pela frente, a instituição tenta sensibilizar os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, além de dois fundos de pesquisa, para seguir com a atividade em 2022.

SEMAD/MG via BBC

Fiscal examina área de Cerrado em Minas Gerais desmatada em 2020 por método do ‘correntão’, em que corrente arrastada por tratores arranca árvores pelas raízes

O bioma registrou em agosto o maior desmatamento desde 2012 e influencia na crise hídrica e agronegócio.

Desde 2016 o monitoramento do Cerrado é feito com financiamento do Forest Investment Program (FIP), administrado pelo Banco Mundial. A verba de US$ 9 milhões é dividia entre o Inpe, que utiliza para monitoramento e refinamento do mapa de vegetação do bioma, com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estuda modelos para fazer prevenção e monitorar o comportamento do fogo nas áreas, e a Universidade Federal de Goiás (UFG), que realiza o mapeamento de dados.

Esta verba tinha previsão de término de uso pelo Inpe em dezembro de 2020, mas com a valorização do dólar, os pesquisadores conseguiram administrar e estender o recurso para durar até dezembro.

Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas, explica que o monitoramento do Cerrado exerce influência direta sobre atividades econômicas. Além do apelo aos ministérios, o Inpe também recorreu ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e ao FIP para tentar verbas para 2022.

“Essa informação é crucial para o agronegócio, é estratégica para o país. Sabemos como está o orçamento, mas como é um tema estratégico, buscamos continuidade através do apoio de instituições”, explica o pesquisador.

O setor, onde trabalham 20 pessoas, vem desde 2017 fazendo monitoramento diário e balanços anuais sobre o Cerrado com uso do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). O primeiro é considerado o mais preciso para medir as taxas anuais, já o segundo mostra os alertas em espaços menores de tempo.

“Faltam menos de três meses para acabar o ano. É uma situação muito preocupante. O recurso já deveria estar garantido para podermos ter um planejamento mais tranquilo”, disse o coordenador.

G1 procurou os ministérios do Meio Ambiente, Agricultura e o de Ciência, Tecnologia e Inovações, ao qual o FNDCT é ligado e aguardava um retorno até a publicação da reportagem. O escritório do Banco Mundial no Brasil também foi procurado pela reportagem para saber sobre a possibilidade de nova verba vinda do FIP para o projeto, mas a reportagem também aguardava retorno até a publicação.

Qual a importância do Cerrado?

 

Importância do Cerrado na disponibilidade de água nas bacias do Brasil — Foto: Arte/G1Importância do Cerrado na disponibilidade de água nas bacias do Brasil — Foto: Arte/G1

Por ter o solo mais alto, o bioma absorve a umidade e leva água para 8 das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país. A falta de chuva na região influencia na seca do Pantanal, no Rio São Francisco e até em Itaipu, uma das hidrelétricas do país, abastecida pela bacia do Rio Paraná.

Na região da bacia do Rio Paraná, que abastece Itaipu, o Cerrado responde por quase 50% de toda a vazão. As regiões do São Francisco, do Parnaíba e do Paraguai – esta última ligada ao Pantanal – têm uma dependência hidrológica ainda maior: o bioma é responsável por aproximadamente 94%, 105% e 135%, respectivamente, de toda a vazão.

Histórico de problemas de verbas no Inpe

O Inpe vem passando por uma série de episódios de falta de recursos que chegaram a colocar em xeque o funcionamento de alguns serviços:

  • Em fevereiro, com o instituto sem verba para o programa de bolsas, a Agência Espacial Brasileira (AEB) teve de custear o pagamento para sete pesquisadores por dois meses para não comprometer o lançamento do satélite Amazônia 1; o satélite foi o primeiro feito totalmente no Brasil e é um marco científico;
  • Em junho, após cogitar parar supercomputador por falta de verba, o diretor do Inpe anunciou a compra de novo equipamento, que daria conta de manter em funcionamento a previsão da estiagem. O novo computador, entanto, tem processamento inferior ao antecessor e não é capaz de fazer previsões climáticas a longo prazo.
Fonte: G1

Veja Mais

Deixe um comentário