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Mais uma criança Yanomami com malária morre sem atendimento em comunidade, diz Conselho de Saúde

Vítima tinha 2 anos e vivia em Ixaropi, região do Hakoma, Terra Indígena Yanomami, segundo Conselho que fiscaliza atendimento de saúde na reserva, a maior do país.

Júnior Hekurari Yanomami/Condisi-YY/Divulgação

Comunidade Ixaropi, região do Hakoma, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima

Mais uma criança Yanomami com malária morreu dentro da Terra Indígena por falta de atendimento, informou nesta sexta-feira (24) o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

A vítima tinha 2 anos e vivia na comunidade Ixaropi, região do Hakoma, na cabeceira do rio Mucajaí, segundo Hekurari.

Após saber da morte, o Condisi-YY enviou um ofício cobrando providências ao Distrito de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y), à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que respondem ao Ministério da Saúde. O documento foi enviado aos órgãos na quarta-feira (21).

Hekurari disse ao g1 que a morte da criança foi relatada a ele pelo avô. O homem, segundo o presidente, foi até o acampamento de garimpeiros ilegais na região do rio Mucajaí, onde há internet instalada por eles, e fez contato via telefone.

“Ele estava revoltado, muito revoltado e disse: várias vezes eu pedi ajuda. A gente não tem atendimento aqui. Tem muita gente com malária, com pneumonia. Ele já foi agente de saúde, então, sabe bem. Ele falou que a menina tinha muito cansaço, muita febre e que estava se tremendo muito. E, dia 21, à noite, morreu”, afirmou Hekurari.

g1 procurou a assessoria do Ministério da Saúde, que responde pelo Dsei-Y e pela Sesai, e aguarda resposta.

No ofício, o Condisi informou que os indígenas já tinham pedido ajuda, o que não ocorreu. No dia 10 de setembro, há duas semanas, o Conselho relatou a morte de duas crianças com malária que também não foram atendidas na Terra Yanomami. Os óbitos foram na região do Parima.

Segundo o Conselho, os indígenas relataram que solicitaram atendimento e resgate por diversas vezes, “inclusive cartas foram enviadas para os profissionais que se encontravam na UBSI, porém a equipe de saúde justificou que não estava autorizada a realizar missão na localidade Ixaropi”, cita trecho do documento.

Comunidade tem outras pessoas doentes

O Condisi-Y informou também que a situação na região é grave e que há outras pessoas com malária e pneumonia, sem previsão de serem atendidas. Ixaropi não tem unidade básica de saúde e o atendimento é feito em Hakoma, distante cerca de um dia e meio andando em meio à floresta amazônica.

“Ele [avô da criança que morreu] disse que tem muita gente doente, com malária, e sem atendimento. Ele estão desesperados”, afirmou Hekurari, acrescentando que “nunca temos respostas da Sesai”.

O presidente também criticou a atuação do Dsei-Yanomami. “O Dsei sempre vai falar que não tem informações, porque eles não buscam informações, não há profissionais. Nós somos tratados como objetos, as vidas estão indo, crianças morrendo”.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 28 mil indígenas que vivem em mais de 370 aldeias. Além de problemas de falta de saúde, a região é alvo frequente de garimpeiros, que exploram a região em busca de ouro, causam conflitos e promovem ataques às comunidades.

Essa invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.