No próximo domingo, o Real Madrid visita o Barcelona, às 11h15 (de Brasília), no Camp Nou, pela 10ª rodada de LaLiga, em um dos jogos mais esperados deste início de temporada europeia.
Para sair com a vitória na casa do rival, o time merengue conta com os gols do artilheiro Karim Benzema, que vive fase espetacular tanto pela equipe de Madri quanto pela seleção francesa.
Na atual temporada, são incríveis 10 gols e 7 assistências em 10 partidas com a camisa da equipe blanca. Números espetaculares para um jogador que, aos 33 anos, vai mostrando ser como vinho: quanto mais envelhece, melhor fica.
Nascido na cidade de Lyon, Benzema é cria da famosa base do Lyon. Ele ingressou nas canteras do clube em 1997, na transição dos 9 para os 10 anos, depois de se destacar contra o OL pelo Bron Terraillon, pequeno clube local, em uma partida de categoria sub-10.
Ao mesmo tempo em que impressionava como jovem promessa dos Gones, ele também se afeiçoou muito ao clube, inclusive trabalhando como gandulas nos jogos do time adulto. E foi justamente nessa época que um brasileiro se tornou seu ídolo.
Trata-se do ex-zagueiro Marcelo Djian, que havia sido contratado pelo Lyon em 1993 após ser multicampeão pelo Corinthians, ganhando inclusive o famoso Campeonato Brasileiro de 1990 pelo Timão.
Djian atuou por quatro temporadas pela equipe francesa, em tempos em que os Gones ainda eram apenas um time médio do país, e ajudou no processo de crescimento do clube, inclusive conquistando um título da extinta Copa Intertoto da Uefa, em 1997.
Ele se despediu do Lyon em 24 de maio de 1997, em uma partida contra o Olympique de Marselha pela Ligue 1, e viu o tamanho do carinho que todos tinham por ele.
Na ocasião, Marcelo ganhou um gigantesco buquê de flores e uma placa comemorativa para celebrar sua passagem de quatro anos pelo OL. E o responsável por entregar os presentes ao brasileiro foi ninguém menos do que Karim Benzema, ainda um garotinho que havia acabado de ingressar na base do clube. Veja no vídeo abaixo:
Em entrevista ao ESPN.com.br, Djian lembrou o momento histórico e revelou sua reação ao ter descoberto, anos depois, que aquele menino que lhe entregou as flores havia se tornado um dos melhores jogadores do mundo.
“No meu último jogo pelo Lyon, o Benzema me entregou flores e uma placa em minha homenagem. Mas ninguém sabia ainda quem era o Benzema (risos). Muitos anos depois, foi criado um canal de TV do Lyon e chamaram vários ex-jogadores para falar, inclusive eu. Aí mostraram as imagens para mim e o apresentador me perguntou: ‘Você sabe quem é o garotinho que te entregou as flores? Uma dica: ele está no nosso elenco atual'”, contou.
“Era um menino loirinho, eu fiquei olhando, olhando… Aí veio um estalo: ‘É o Benzema!’ (risos). Ele era novinho, tinha só 9, 10 anos. Depois do programa, fui ao vestiário e conversei com o Benzema: ‘Era você mesmo que me entregou os presentes na minha despedida?’, e ele respondeu: ‘Era eu mesmo!’. Por causa disso, tenho uma grande amizade até hoje com a figura! É um cara muito bacana”, exaltou o ex-zagueiro.
Além das honrarias entregues por Benzema, a despedida de Marcelo Djian no Lyon também ficou marcada por outro fator: o resultado histórico.
“Esse jogo foi muito marcante na minha vida, porque ganhamos de 8 a 0 do Olympique de Marselha! E olha que o goleiro dos caras era o Andreas Köpke, da seleção da Alemanha!”, espantou-se.
“Depois do 1º tempo, os caras nem queriam voltar do intervalo, porque acabou 7 a 0 para nós (risos). Nosso ataque era Maurice, Giuly e Gava. A cada cinco minutos saía um gol! Fizemos 7 a 0 em 35 minutos”, rememorou.
‘O Giuly era meu parceiro de quarto’
Marcelo Djian foi o 1º brasileiro da chamada “nova era” do Lyon, com o clube saindo do ostracismo durante os anos 90 para se tornar uma potência na França e na Europa durante os anos 2000, enfileirando sete conquistas seguidas de Ligue 1.
“O 1º brasileiro do Lyon foi um jogador chamado Constantino, em 1956, mas eu fui o 1º brasileiro da ‘nova era’, pois cheguei em 1993. Assim que começou o Paulistão daquele ano, o Raí foi para o PSG e o Lyon não estava bem, mas eles tinham a chance de contratar um jogador durante a temporada. O Bernard Lacombe, que na época era diretor e depois virou técnico, veio com duas pessoas ao Brasil e viram meus jogos. O Corinthians estava invicto no Brasileirão há 14 partidas, e só foi perder na semifinal para o Vitória depois”, lembrou Djian.
Marcelo, porém, não era o único observado pela diretoria do OL.
“Eles estavam vendo o Valber, do São Paulo, o Alexandre Torres, do Vasco, e eu. O Valber estava em uma fase muito boa, mas teve algum problema na negociação. Aí partiram para a próxima opção e vieram falar comigo. Deu certo e eu fui para o Lyon em outubro de 1993, no meio da temporada, pois na época era permitido contratar um jogador fora da janela”, recordou.
Logo que chegou, Djian virou titular absoluto do Lyon. Nem mesmo uma expulsão em sua 2ª partida, contra o Bordeaux, lhe prejudicou, ele embalou ótima sequência até o fim da temporada para fazer o clube subir na tabela.
“Quando cheguei, o treinador era o Jean Tigana, um dos craques da França na Copa de 1986, e o auxiliar era o Guy Stéphan, que hoje é auxiliar do Didier Deschamps na seleção da França. O Lyon estava em 15º lugar, mas deu uma melhorada boa na reta final. Crescemos bastante e terminamos em 8º lugar na temporada 1993/94”, relatou o ex-zagueiro, com memória mais do que afiada.
“E olha que eu cheguei sem nem saber falar francês! Mas aí colocaram um professor particular à minha disposição e me esforcei para aprender rápido. A adaptação foi boa e em três meses eu já entendia bem. Até por isso fiquei quatro anos lá”, exaltou.
Djian não chegou a jogar com os craques do Lyon dos anos 2000, mas dividiu os gramados com várias outras feras que vestiram a camisa tricolor no meio dos anos 90. Ele inclusive tem amizade com vários deles até hoje.
“Joguei com o Abedi Pelé, que tinha sido contratado do Olympique de Marselha. O Ludovic Giuly foi meu parceiro de quarto. Somos muito amigos e sempre nos encontramos”, contou.
“Ele surgiu bem novinho e explodiu. Teve uma carreira muito boa, passou bem por Monaco, Barcelona e seleção francesa. Do meu time, foi o que teve o maior destaque”, salientou.
“Teve ainda o caso do (goleiro) Pascal Olmeta. Ele brigou com um lateral-esquerdo num treino e foi mandado embora do clube! Daí a diretoria contratou o Coupet, que tinha vindo do Saint-Étienne, o maior rival do Lyon. Não foi fácil para ele no começo, mas ele jogou 11 anos lá e foi titular nos sete títulos franceses que o Lyon conquistou”, finalizou.