Polícia Civil diz que vazamento de gabaritos não foi comprovado; três certames em Alagoas têm suspeitas de irregularidades
A Polícia Civil de Alagoas detalhou na tarde desta quinta-feira, 21, em entrevista coletiva, o modus operandis da quadrilha envolvida no esquema de fraudes de concursos públicos no estado. Segundo a comissão de delegados responsável pela investigação, há suspeita de que os três certames da Segurança Pública – Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros de Militar – tenham sido alvo de burla.
As investigações revelaram que os criminosos agiam de duas maneiras: usando pontos eletrônicos e enviando mensagens SMS para aparelhos celulares. O serviço custava em média R$ 50 mil, R$ 10 mil pago de forma prévia e o restante após a aprovação. O valor variava de acordo com o cargo pretendido.
O delegado coordenador da operação, Gustavo Xavier, revelou que apesar da investigação ter começado com a prisão em flagrante de um homem que dizia ter sido aprovado no concurdo da PM/AL após compra de gabaritos das provas, não há, até o momento, comprovação de vazamento dos gabaritos dos exames.
“Um dos presos aprovados no concurso da Polícia Militar, que alegou em depoimento que teria comprado e recebido o gabarito de forma prévia, isso, até o presente momento, é uma inverdade. “Não houve nenhum elemento que comprovasse vazamento do gabarito pela comissão organizadora do concurso [Cebraspe]. Os dois modus operandi confirmados pela Polícia Civil de Alagoas são SMS e ponto eletrônico”, disse o delegado Gustavo Xavier.
O delegado Cayo Rodrigues, que coordenou as ações executadas no estado da Paraíba, explicou que os membros da quadrilha tinham papéis diferentes no esquema. Enquanto alguns trabalhavam como recrutadores, observando a demanda e oferecendo o serviço criminoso antes das provas, outros se inscreviam no certame e como se fossem candidatos, ficavam responsáveis por nos primeiros momentos da realização do exame fazer as questões chegarem, de modo virtual ou físico, aos membros que, no lado de fora, deveriam responder às questões e transmitir as respostas por meio dos pontos eletrônicos ou SMS aos contratantes do serviço.
Esse grupo era liderado pelo ex-cabo da Polícia Militar de Alagoas preso na manhã de hoje em um condomínio de luxo na cidade de João Pessoa, na Paraíba. Ele já havia sido preso pelos mesmos crimes em outra operação, denominada “Gabarito”, naquele estado, em 2017.
A Polícia Militar explicou que o ex-policial não pertence mais às fileiras da Corporação e teve seu licenciamento publicado no Boletim Geral Ostensivo (BGO) da PM do dia 14 de outubro deste ano. Ele havia ingressado na corporação em 2006 e foi licenciado “ex-officio” (por imposição legal) pelo crime de Deserção (situação em que o policial militar deixa de comparecer, sem licença, à unidade onde serve por mais de oito dias consecutivos) após devido processo legal, conforme prevê o Código Penal Militar e o Estatuto dos Policiais Militares do Estado de Alagoas.
Entre os outros membros do grupo criminoso existiam professores, especialistas e até servidores públicos, que serão investigados para saber se ingresseram de forma lícita em suas funções.
Perguntado a respeito dos pontos eletrônicos usados pelos fraudadores, o delegado José Carlos, membro da comissão de investigação, explicou que os aparelhos eram muito pequenos, o que fazia com que eles não fossem identificados pelos detectores de metais usados pelos fiscais.
Durante a ação de hoje, desencadeada em quatro estados, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Sergipe, cerca de 500 policiais civis cumpriram 12 mandados de prisões preventivas, 83 mandados de busca e apreensão, e realizaram duas prisões em flagrante por posse de arma de fogo e tráfico de drogas, quando foi encontrado 1 kg de maconha. Um dos presos em flagrante foi aprovado no certame da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.
Como resultado dos mandados de busca, 70 celulares, 18 notebooks, seis computadores, três pontos eletrônicos, sendo um na casa do homem apontado como líder da quadrilha, e R$ 129 mil reais em espécie foram apreendidos.
Ainda segundo o delegado Carlos Reis, há a suspeita de que o grupo também esteja envolvido em roubo a banco. “Esta ainda é a primeira fase da operação. Temos indícios, inclusive, de participação em assalto a banco. Não podemos fornecer mais detalhes, sob o risco de comprometer a apuração”, disse.
Para o delegado Lucimério Campos, a investigação serviu para garantir ainda mais lisura aos próximos concursos e alertar as bancas organizadoras sobre os novos meios de fraudes existentes e se preparar para coibi-los no futuro. “Também serviu para que a banca, que colaborou com a investigação, possa se modernizar no sentido de preservar cada vez mais a lisura dos certames. Ou seja, a investigação também teve o seu caráter pedagógico, resguardando a legitimidade no ingresso em cargo público por meio de concurso”.
A operação foi batizada com o nome Loki por causa do deus nórdico, de mesmo nome, conhecido por ser o deus da trapaça.
Ainda na tarde de hoje a Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag) emitiu nota a respeito das investigações:
O Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag), informa que está acompanhando as operações da Polícia Civil do Estado em torno das suspeitas de fraudes no concurso público da Polícia Militar de Alagoas e que dará um posicionamento sobre o andamento do certame com base no relatório final das investigações.
O Governo reforça que está atento às tratativas relacionadas ao concurso e que é o maior interessado em assegurar a sua lisura, bem como em garantir que o melhor quadro de candidatos seja, de fato, selecionado para apoiar o desenvolvimento do Estado de Alagoas.