Depois de oito décadas sem que a espécie fosse avistada na cidade do Rio de Janeiro, uma onça-parda foi vista de novo na capital fluminense recentemente.
O registro foi catalogado por biólogos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e divulgado, em setembro deste ano, em um artigo na revista científica “Check List”. O trabalho confirma a existência do animal em mais de uma localidade.
A aparição mais recente da espécie, cientificamente conhecida como Puma concolor, aconteceu em junho de 2020. Na data, ela foi flagrada pela câmera de segurança do portão do Sítio Burle Marx, em Barra de Guaratiba, bairro da Zona Oeste.
Uma outra imagem inédita também foi feita pelo pesquisador Rafael Andrada em uma armadilha fotográfica, na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Bicho Preguiça. A área fica situada em Campo Grande, também na zona oeste da cidade. O especialista acredita se tratar de uma provável onça-parda em comportamento de caça.
Publicado este mês nas redes sociais da reserva ambiental gerida por ele, o vídeo fazia parte do acervo do estudioso desde 2016. “Já se sabia que ela existia na região, mas eu resolvi não divulgar essas imagens para poder resguardar a segurança da própria onça”, explica o gestor da RPPN.
Agora, com um equipamento mais moderno em mãos, Rafael tenta uma nova captura a fim de gerar material para um estudo futuro e de longa duração. “O trabalho em busca de uma imagem mais nítida, mais perfeita dela, continua”, reforça.
De acordo com os estudiosos, a onça integra a Lista Municipal de Espécies da Flora e Fauna Ameaçadas desde os anos 2000. A presença do felino em terras cariocas havia sido registrada pela última vez em 1930. Atualmente, ela é considerada uma espécie rara na capital.
“Esse registro é importantíssimo para o município do Rio de Janeiro, porque mostra que ainda temos matas altamente preservadas e que merecem toda atenção do governo”, destaca o pesquisador. Rafael Andrada também chama a atenção para a necessidade de investimentos financeiros no setor ambiental. “Que fique preservado para as próximas gerações”, complementa.
Outro autor da pesquisa intitulada “O reaparecimento de Puma concolor na cidade do Rio de Janeiro”, Jorge Antônio Pontes, aponta que o episódio pode significar um provável retorno da onça-parda ao Rio. No entanto, até o momento, não se sabe há quanto tempo se deu essa retomada.
Além das rápidas aparições em filmagens, também foram identificadas pegadas, impressões em árvores e arranhões. Segundo os cientistas, esses achados geralmente são feitos quando a espécie quer demarcar o território.
“Esses dados comprovam que o animal, que era dado como extinto, oficialmente, há mais de duas décadas, realmente está presente no município. Não é um boato, a onça está aqui”, reitera o professor da Uerj.
Jorge também explica que a documentação do felino é um alerta para órgãos ambientais produzirem novas políticas públicas no município. “Isso mostra como os fragmentos de uma área tão urbana de uma cidade como o Rio de Janeiro ainda podem abrigar uma fauna inesperada. Elementos considerados de topo, do alto da cadeia alimentar”, diz.
“Isso gera repercussões para que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio, de municípios vizinhos e o próprio Inea se movimentem na intenção de tentar garantir a preservação desses animais, que agora estão se instalando no município”, acrescenta.
Apesar de ser uma espécie selvagem, Jorge relata que a ocorrência não deve gerar preocupações nos moradores. “Pelo contrário, a população deve se preocupar com a conservação desses animais, fazendo denúncias e ficando atenta a ação de caçadores. Nesta região, existe atividade de caça, e todas elas são unidades de proteção integral da natureza. Cabe a todos nós zelar por esse patrimônio ambiental ímpar do município, que é a onça-parda, e ajudar na preservação”, afirma.