Saúde

Lançado há três meses, Programa AVC Dá Sinais registra 424 atendimentos por meio da telemedicina

Ação interliga hospitais de referência do Estado; todos aptos a realizar trombólise e a trombectomia mecânica

Ivo Neto

Maria de Fátima Barros, moradora do Clima Bom, em Maceió, está sendo acompanhada no Ambulatório de Pós-AVC, em razão das sequelas deixadas pelo derrame

“Não sinto mais nada, não fiquei com sequelas.” Essa é a frase que Antônio José dos Santos, de 56 anos, ressaltou ao receber atendimento no Ambulatório Pós-AVC, localizado no Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA), em Maceió. Com a aparência cheia de vida e risada farta, o comerciante escutou com atenção todas as orientações que deverá seguir para dar continuidade ao tratamento após sofrer, há cerca de um mês, um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O caso de Antônio José foi um dos 424 atendidos pelo Programa AVC Dá Sinais, lançado há três meses pela Secretaria de Estado e Saúde (Sesau).

Morador do bairro Cidade Universitária, Antônio José voltou ao HMA, no último dia 25, quase um mês após ser atendido pelo Programa AVC Dá Sinais. Ele relembra com aflição os momentos de angústias ao sentir o braço dormente. “Foi um dia de sábado, almocei e fui descansar um pouco e, quando acordei, estava com o braço dormente. Não queria ir para UPA [Unidade de Pronto Atendimento], mas, meu filho insistiu. Ele já desconfiava que fosse AVC, quando cheguei lá, caí no banheiro, me deram remédio porque a pressão estava muito alta e depois me encaminharam para cá. Passei quatro dias internado”, disse.

Vida Nova – O paciente José Carlos de Castro, de 55 anos, morador da cidade de Palmeiras dos Índios, também foi atendido pelo Programa AVC Dá Sinais e não esconde os planos para quando recuperar total movimento do corpo. “Quero voltar a trabalhar para dar de comer a minha família. Trabalho com tudo, desde servente de pedreiro a descarrego do caminhão. Pra mim não tem serviço ruim, pois o importante é estar ganhando meu dinheiro para sustentar minha família. Parei de trabalhar por causa dessa doença”, lamenta.

Acostumado com a vida agitada, José Carlos ficou dois meses internado e relembra como foi o dia em que sofreu o AVC. “Tudo começou enquanto eu estava arrumando a casa, passando o pano. Tive uma fraqueza no lado esquerdo e quando fui à UPA [Unidade de Pronto Atendimento], descobriram que era AVC e me transferiram para cá. Fiquei dois meses internado no Hospital [Metropolitano] e ainda estou com a sequela, com o braço sem poder levantar e a perna sem mexer, além da boca meio torta, mas, graças a Deus, estou me recuperando. Agora é se recuperar e viver a vida novamente, continuar vivendo”, falou.

Já a paciente Maria de Fátima Barros, de 58 anos, moradora do bairro Clima Bom, em Maceió, comemorou poder dar continuidade ao tratamento no próprio hospital. “Está sendo ótimo o atendimento aqui no Ambulatório Pós-AVC. Fui atendida pela fisioterapeuta, ela está me ensinando os exercícios para que eu faça em casa e, quando eu voltar, vou mostrar a ela que estou fazendo direitinho. Estou me sentindo muito bem, estou voltando ao normal. Estou muito feliz! Quando eu melhorar, espero seguir com minha vida normal, como eu tinha antes”, salientou.

O neurologista e coordenador do Programa AVC Dá Sinais, Matheus Pires, explicou que o programa possibilita que todos os pacientes da Rede de Saúde Pública tenham um atendimento especializado. “Durante muito tempo o paciente só tinha como referência o HGE [Hospital Geral do Estado], que tinha uma Unidade de AVC funcionando. Só que aquele paciente do interior, que está fora de Maceió, não tinha essa possibilidade de chegar a tempo para ter uma avaliação com o neurologista e a possibilidade de um tratamento. Por isso, o AVC Dá Sinais é importante”, enfatizou.

Ainda segundo o coordenador, o Estado passou a contar com uma rede de cuidados para os acometidos com a doença. “Hoje, cada região do Estado de Alagoas tem um hospital referenciado e todas as UPAs são associadas ao programa. Com isso, há a possibilidade de a partir do momento que esse paciente chega na unidade, ter uma discussão pela telemedicina com neurologista. Esse paciente será avaliado e encaminhado para um hospital de referência, onde será submetido a uma tomografia e angiotomografia, onde avaliamos a possibilidade de terapia perfusional, que tem como objetivo reverter o déficit do AVC”, evidenciou Matheus Pires.

O Programa AVC Dá Sinais é pioneiro no Brasil e conta com um aplicativo de telemedicina, quatro hospitais de referência, todos com tomógrafo, e equipe capacitada a realizar a trombólise e a trombectomia mecânica, que são as duas terapias reperfusionais para evitar a morte e as graves sequelas.

Dos 424 casos discutidos por meio do aplicativo de telemedicina Join, foram confirmados 199 casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC); sendo 139 casos de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI), 45 de Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH) e 15 de Ataque Isquêmico Transitório (AIT). Também foram registradas 62 trombólises e 18 trombectomias.

Ambulatório Pós-AVC – Inaugurado há pouco mais de dois meses, visando dar continuidade ao tratamento dos pacientes acometidos pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC), o Ambulatório Pós-AVC tem capacidade para atender seis pessoas por semana. O serviço conta com equipe multiprofissional e contempla os pacientes do Programa AVC Dá Sinais, que ficaram internados no Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA).

Para a neurologista e supervisora da unidade, Rebeca Teixeira, o Ambulatório Pós-AVC é essencial para que os pacientes possam dar início ao tratamento, ainda na fase aguda do derrame. “Com 30 dias conseguimos ver se o paciente está tendo uma adesão ao tratamento e continuamos com as investigações das causas daquele AVC. Avaliamos se ele teve novas queixas, novos sintomas do AVC e como anda o contexto social, se ele conseguiu a fisioterapia, se ele está conseguindo se reabilitar no convívio familiar”, explicou.

O intuito do Ambulatório Pós-AVC é proporcionar a reabilitação dos pacientes, uma vez que o AVC pode deixar graves sequelas neurológicas, como dificuldade em falar, dificuldade em deglutir e desequilíbrio. Além disso, a continuidade do tratamento no ambulatório é importante para impedir a recorrência de um novo evento.

“O tratamento e acompanhamento de um paciente com AVC, normalmente, é permanente. Depois que um paciente tem um AVC, ele tem um risco de ter um novo evento. Por isso, a ideia é que esses pacientes continuem o tratamento a longo prazo. Após o primeiro ano, esse risco diminui um pouco e a gente vai espaçando as consultas, de seis em seis meses, dependendo de cada causa”, esclareceu a supervisora do Ambulatório Pós-AVC.